Com uma história centenária, a chegada do trem modificou a economia de Bento Gonçalves. Nos últimos 28 anos, transporta expectativas e emoções de milhares de passageiros

Entre partidas e chegadas, idas e vindas, sobre os trilhos, a Maria Fumaça carrega pessoas, sonhos e memórias, além de uma história centenária. Foi em um domingo, 10 de agosto de 1919, que Estação de Bento Gonçalves recebeu, pela primeira vez, o trem de carga e passageiros. A chegada dele impulsionou a economia do município, pois ajudou a escoar produtos da indústria, colocando a cidade na rota comercial do Estado. Em 1976, o trecho entre a Capital Nacional do Vinho e Carlos Barbosa parou de realizar viagens com passageiros, sendo apenas para cargas.

A partir de 1992, a linha passou a ser operada pela empresa Giordani Turismo. Foi quando o empresário Leonel Giordani teve a ideia de utilizar o trem para realizar passeios turísticos. Para colocar em prática, contou com o apoio dos familiares. O primeiro passeio neste novo formato foi realizado no dia cinco de junho de 1993.

De lá para cá, a Maria Fumaça – Trem do Vinho, como passou a ser conhecida, ajuda a alavancar Bento Gonçalves como destino turístico, já que oferece muito mais do que um passeio, mas uma experiência diferenciada, onde os passageiros a bordo, têm a oportunidade de vivenciar, durante os 23 quilômetros de viagem, um pouco da cultura italiana, tão enraizada e valorizada pela região.

A condução de uma história

Conduzir a Maria Fumaça é mais do que exercer o trabalho em que lhe foi confiado, para o maquinista Juliano Agostini de Morais, 37 anos, trata-se da realização de um sonho. Filho do falecido Doraci Arruda de Morais, que atuava como ferroviário, Morais carregava no coração, o desejo de seguir os mesmos passos.

Na Giordani Turismo, onde trabalha há 21 anos, encontrou a oportunidade de realizar-se profissionalmente. Para chegar ao objetivo, trilhou um caminho de muita dedicação e esforço, passando por diversos setores, até chegar ao que tanto almejava, há oito anos. “Inicie como auxiliar de estacionamento. Depois, passei para auxiliar da manutenção do trecho. Após, para foguista. Logo depois para auxiliar de maquinista e em seguida veio a esperada oportunidade de ser maquinista”, orgulha-se.

Maquinista há oito anos, Juliano revela que sente paixão em realizar o trabalho

Quando questionado sobre como é realizar esse trabalho, Morais afirma que a pergunta tem muitas respostas, mas define uma. “Acredito que a mais relevante é o prazer e a paixão de me sentir capaz de conduzir um pouco da história que conheço desde a infância”, destaca.

Quando o trem parte da estação, o maquinista afirma sentir satisfação, pois enxerga que o trabalho realizado também impacta positivamente na vida dos passageiros que embarcam rumo a momentos especiais. “Cada dia e cada viagem, sempre conheço novas histórias, novos personagens, deste grandioso espetáculo. A responsabilidade de conduzir a Maria Fumaça pelos 23 quilômetros, repercute nas expectativas de todos que ali estão”, declara.

Palco de um amor

A Maria Fumaça é a responsável por outro momento marcante para Morais. Foi no trem que ele conheceu a esposa, Luciana Roncaglio. “Ela era recepcionista dos vagões, então, fomos nos conhecendo aos poucos, namoramos, depois casamos”, conta. A união de 17 anos deu tão certo, que eles já têm filhos, fruto desse amor. “Temos dois meninos, o Emanuel, de dez anos e o Murilo, de quatro”, afirma.

Grandes expectativas

Leoni e Jorge vieram de Chapecó

Moradores de Chapecó, município de Santa Catarina, os gaúchos Leoni Granado, 74 anos e Jorge André Cuccarelo, 68, chegaram em Bento Gonçalves na manhã de sexta-feira, 2 de julho. O casal veio para a Serra Gaúcha especialmente para o curtir o clima de inverno.

A primeira parada deles, foi na Estação Férrea, para andar na Maria Fumaça. Leoni, que já fez o passeio há alguns anos, gostou tanto que decidiu repetir a experiência, mas dessa vez, acompanhada do marido. “Eu já andei há bastante tempo, deve ter mudado algo, talvez os shows. Gostei muito, de verdade, tanto que estou de volta”, afirma.

Sorridente e feliz, Granado, que faz o passeio pela primeira vez, revela qual o sentimento para a realização. “A minha esposa que deu a ideia. A expectativa está muito grande”, afirma.

Experiências únicas

No trem, os passageiros são recebidos com música, animação e alegria. Dentro dos vagões são realizadas apresentações artísticas de música italiana e gaúcha, compartilhando a forte cultura da região. Além da degustação de vinhos, espumante e suco de uva.

Os passeios com a Maria Fumaça acontecem nas quartas, sextas, sábados e domingos, nos seguintes horários: 09h, 11h, 14h e 16h, sendo recomendado para todas as idades (isento até 5 anos, no colo).

Curiosidades sobre a Maria Fumaça

  • A locomotiva pesa em torno de 80 toneladas e é acesa com lenha
  • Durante o trajeto, o fogo é mantido por briquete e por quatro mil litros de água, captados de forma sustentável através de sistema pluvial construído pela Giordani.
  • Cada vagão puxado pela locomotiva (na maioria das viagens são sete), pesa 30 toneladas. Se somados, locomotiva e vagões, a Maria Fumaça pesa aproximadamente 300 toneladas.
  • O trem trafega na linha férrea a uma velocidade que varia entre 20 e 30 km/h. 
  • Na estação da Maria Fumaça, trabalham diretamente em torno de 30 pessoas. Indiretamente são mais de cem.
  • Em média, cada viagem dura 90 minutos.
  • Milhões de visitantes já prestigiaram o passeio, em 28 anos de operação.
  • Há vagão com acessibilidade para cadeirantes.