Marchinhas, roupas bem cortadas, sapatos de salto alto e cabelo bem arrumado marcaram os bailes de Carnaval da década de 50. Os foliões esperavam ansiosos pelo dia que dançariam com os amigos em um dos salões dos clubes de Bento. Pierrôs apaixonados e colombinas brincavam o Carnaval com a leveza e a ingenuidade da época. Mas claro, se a foliã fosse solteira não ficaria no baile desacompanhada. Afinal, os pais nunca apostam na ingenuidade dos filhos. A mãe era quem de longe acompanhava a festa dos mais jovens e estava lá para evitar que um moçoilo mal intencionado se aproximasse muito da filha.

A professora de yôga, Eunice Peruffo, 78 anos, lembra que antes de conhecer o namorado, Sérgio Peruffo, que depois foi esposo – sabia que no segundo andar do clube o grupo de mães esperavam pacientemente a festa terminar. “No meio do baile elas pegavam no sono e sobrava um tempinho para termos mais liberdade”, lembra. Mas, Eunice conta que nos carnavais daquela época não havia muitos exageros na bebida ou problemas com drogas. “Queríamos brincar o Carnaval e aproveitar de forma tranquila com nossos amigos”, ressalta. Ela revela que não costumava beber, mas os homens gostavam de Samba – mistura de refrigerante com cachaça ou outro destilado. “Não havia brigas ou violência”, afirma.

A professora nasceu em Caxias do Sul e mudou para Bento Gonçalves em 1955 junto com a família. “Comecei a namorar e fiquei noiva do Sérgio, então estava liberado que eu fosse com ele, sem a companhia da mãe”, conta. Ela explica que existiam blocos de amigos que mandavam fazer vestidos iguais. “Era muito divertido, pulávamos Carnaval nos clubes e também na rua, quase sempre na saída do clube”. A professora diz que depois de casada foi em mais alguns bailes. “Sempre gostei do Carnaval, era muito divertido e saudável”, afirma.

O historiador e colunista, Itacyr Giacomello, conta que na década de 60, além das tradiconais marchinhas, o enrredo das escolas de samba do Rio de Janeiro também começaram a fazer parte dos bailes. “Os blocos eram muitos fortes, pessoas fantasiadas e roupas leves e recatadas”, explica.

Giacomello lembra que havia o momento de músicas mais calmas, que damas e cavalheiros podiam dançar juntinhos. “Era o momento romântico da noite”, ressalta. Ele lembra que na década de 60 os bailes eram concorridos e os foliões se divertiam nos clubes Aliança, Ipiranga, Sociedade União São Francisco América (Susfa), Botafogo, Juventude da Enologia, São Bento e Clube de Oficiais e Sargentos do Primeiro Batalhão. “Eram festas sadias, as pessoas se controlavam na bebida e quando alguém sentia que havia bebido muito, ela mesma se afastava da multidão”, recorda.

O historiador fala que existia o lança perfume, mas que era utilizado apenas como uma brincadeira inocente e comum nos bailes do Carnaval, onde se esguichava o produto e causava uma sensação refrescante, agradável e perfumada.