Bento despertou outra vez com notícias consternadoras sobre derramamento de sangue em solo municipal. Dessa vez, uma chacina levou três homens ao óbito, irrompendo o silêncio na madrugada de quinta-feira com o estampido das balas e estendendo o espesso cobertor do medo sobre os moradores do Zatt. O medo da violência é uma realidade que tem mudado vidas. O temor de ser assaltado, sequestrado ou agredido se tornou uma marca na turística Bento Gonçalves. Na falta de atuação do poder público, as pessoas acabam se acostumando a buscar a proteção como for possível: evitando lugares vazios, guardando pertences com cadeados, vivendo vigiadas por câmeras, rodeadas de muros, entre grades.

Infelizmente, não há como negar que a sensação coletiva de medo tem bases concretas hoje em dia. Ela não é fruto de uma ficção. A criminalidade cotidiana assusta. Quem está crescendo sob o espectro da violência, ainda que nunca tenha sido vítima de algum ataque, acaba tendo de se adaptar a uma vida em que tudo o que não está sob o próprio controle ou dos familiares mais próximos pode ser temido. Não sem razão.

“A comunidade clama por paz, mas para isso, é preciso que haja o olhar dos poderes”.

Nestes locais, moradores enfrentam uma espécie de toque de recolher, acuados pela criminalidade e reféns do medo, cercados pela disputa do tráfico, por assaltos e execuções.

Quem vive ali, enfrenta na vida cotidiana as adversidades da insegurança, sem coragem de sair de casa à noite, impondo severas restrições a crianças, enjaulados dentro de sua própria residência, o que nem sempre garante a proteção de sua família. Nesses bairros, adolescentes e jovens sem empregos, desestimulados a frequentar a escola e envolvidos em um ambiente conflituoso podem se tornar prezas fáceis às malandragens e facilidades que a vida delituosa tem a oferecer.

Não há como ignorar a necessidade de um conjunto de medidas que incluam a educação de qualidade, assistência social, oportunidade de emprego e renda, além de ações efetivas de ressocialização. As manchas da violência avançam de forma inquieta sobre nossa cidade, fomentadas pelos entorpecentes e o crime organizado. É uma doença grave, que precisa de prevenção e tratamento adequado. Quem sabe o murmuro que se houve pelos bastidores do Executivo sobre a troca do secretariado – iniciada com a exoneração de Márcio Pilotti – não seja a premissa dos ventos de mudança positivas que há tempos não sopram por aqui. A comunidade clama por paz, mas para isso, é preciso que haja o olhar dos poderes.