Clacir Rasador

Etimologia, o estudo e significado das palavras; está aí algo que me fascina neste mundo das letras, as quais se dobram e se desdobram, se juram eternamente unidas, até que novas leis as separam, quando não algumas morrem, mudas no esquecimento e outras, do nada, renascem em novas palavras, características de seu tempo.
A propósito, seja pelo seu fonema, seja pela sua origem latina (flexibilis), a palavra flexibilizar, cujo significado é dobrável, sempre mereceu minha simpatia, pois, no meu conceito subjetivo, viria a abrir espaço para uma nova visão social, corrigindo, no presente, o que seria, no passado, um conceito, sendo que, hoje, dá lugar ao preconceito.
Contudo, nunca antes na história desse país, se desvirtuou tanto o uso do verbo flexibilizar. Conceitos pétreos, legais e constitucionais, mais que dobrados, são derretidos em “certas” sentenças jurisprudenciais, cuja fonte do Direito parece turva em ideologias, enquanto a Justiça… aguarda recurso.
Flexibiliza aqui, flexibiliza ali… Aliás, amanhã, o STF entra em junho dando continuidade ao julgamento que decidirá se o porte de drogas para consumo próprio doravante será ou não considerado crime, atualmente previsto no artigo 28 da Lei 11.343/2006. Na esteira da flexibilização, já há voto que sugere que não é crime andar com até 25 gramas de maconha ou cultivar até seis plantas para consumo pessoal. Se vingar, talvez teremos em breve uma Amazônia Urbana e o perdão derradeiro à Cannabis. O problema, porém, será identificar o tipo de névoa de fumaça ao longe, embora nesta selva de pedras de todos os tipos, não é de hoje que a labareda do fogo da violência, gerada pelas drogas e cotejada pela impunidade, queima diariamente a sociedade, e isso não é nenhuma viagem ou miragem, é real!
Falando em viagem, eis que, no início desta semana, o atual presidente da República – Lula – ao receber com honras de Estado, Nicolás Maduro, chegou ao ápice da flexibilização contestável. Em alto e bom som, Lula, acostumado a reescrever a história ao seu bel prazer e conveniência, como o fez na Rússia em relação a invasão da Ucrânia e especialmente quando se trata de afagar companheiros de ideologia, alegou mero preconceito com a Venezuela, negando descaradamente a escrachada e cruel ditatura chavista, a qual faz de reféns a democracia e o povo venezuelano, o qual se socorre desta pátria mãe gentil.
O “inocente” tapete da flexibilização no meio da sala, começa a virar bandeira para temas importantes da sociedade, passando pela liberdade de expressão, aborto, drogas, aos poucos vai cancelando valores morais e éticos…e há quem pense que são ares da modernidade…poluídos com certeza…amanhã poderá faltar o oxigênio da liberdade.
A coisa parece estar caindo de maduro…
Sem flexibilizar o final, me valho da frase do saudoso compositor Tom Jobim, o qual, ainda lá em 1960, teria dito sem rodeios a um fotógrafo americano que estava a morar no Brasil: “David, o Brasil não é para principiantes”.
Vamos em frente!