Segundo Garcia, falta de preparo dos gerentes torna empresas da Serra propícias para o surgimento desse tipo de violência 

Desde 2006, foram registrados 269 casos de assédio moral nos municípios da Serra Gaúcha, a maioria deles concentrada em Caxias do Sul. Em Bento Gonçalves, foram 17 registros nesse período. Embora muitos ainda estejam em fase de denúncia, o Ministério Público do Trabalho (MPT) avalia que a grande maioria das vezes as ocorrências se concretizam.
Do ponto de vista do procurador do MPT de Caxias do Sul, Ricardo Garcia, o número deve ser ainda maior. Contudo, pelo medo dos trabalhadores de denunciar, por diversos fatores, o problema se torna praticamente invisível. “Chega até nós por iniciativa de terceiros. O número de denúncias é ainda pequeno perto da realidade. Os trabalhadores dependem daquele salário. Para não perder o emprego, elas se calam, abaixam a cabeça”, enfatiza.
Segundo Garcia, as empresas da Serra Gaúcha formam ambientes impropícios para a qualidade de vida dos trabalhadores, na medida em que as chefias são despreparadas. “Os chefes, gerentes ou diretores não desenvolvem políticas de prevenção de assédio moral. Esse ambiente é propício ao surgimento, em qualquer empresa grande, pequena e média. Em 12 anos atuando na região, não vi sequer uma empresa que se preocupasse com esse tema, não vi uma ação concreta até hoje”, argumenta.
Outro problema apontado pelo procurador é a ausência de uma atitude séria por parte dos sindicatos patronais, que não se mostram preocupados com a questão. “Temos dificuldade porque eles acham que a gente está acusando. Mas queremos que haja uma prevenção, não estamos dizendo que há assédio moral, é preciso previnir”, expõe.
Já o assédio sexual é considerado uma modalidade do assédio moral. De acordo com Garcia, são casos ainda mais difíceis de serem denunciados, uma vez que há muito preconceito. “A gente acusa a vítima, mas nunca é culpa dela. O motivo do assédio sexual é o apetite do assediador e não qualquer atitude da vítima, temos casos muito claros de pessoas que assediam subordinadas”, afirma.
O procurador observa que o medo da vítima envolve a questão do preconceito. “A vítima tem vergonha da condenação social, de como isso pode refletir, porque a família pode não compreender”, avalia.

O que é assédio moral

Segundo Garcia, o assédio moral é uma conduta que visa humilhar, constranger e gerar desconforto, dirigida por um chefe aos seus subordinados ou entre colegas. “É importante não ficar quieto, não aceitar esse tipo de comportamento, porque isso é um desrespeito e tende a se multiplicar”, afirma.