A última sexta-feira, 7, ficou marcada como a data da maior chacina da história da Serra Gaúcha. Naquela noite, por volta das 22h, cinco homens foram mortos a tiros dentro do Bar dos Amigos, localizado no Bairro Municipal, de Bento Gonçalves.

De acordo com Álvaro Becker, delegado titular da 2° Delegacia de Polícia de Bento, a investigação indica que seis pessoas chegaram ao estabelecimento atirando contra o grupo que lá estava.

Segundo Becker, a motivação do crime seria, além da disputa de territórios por pontos de tráfico de drogas, uma vingança contra um dos indivíduos mortos na ocasião, Robert da Silva Ribeiro, de 22 anos. “É uma briga por território de drogas e ao mesmo tempo uma revanche ou represália contra mortes que tinham sido praticadas pelo Robert, que tinha matado alguém da outra facção. Ele seria o alvo principal, então esse pessoal foi lá e provavelmente para não perder a viagem mataram os cinco”, relata.

Todos os mais de 70 tiros que foram dados provam que eles foram a fim de fazer a festa mesmo, por isso acreditamos que havia um direcionamento para esses indivíduos há algum tempo – Delegado Becker

De acordo com Becker, desde sábado, 8, já está sendo feito um trabalho de investigação para elucidar o ocorrido. “Estamos ouvindo pessoas, familiares, para que possamos entender o que pode ter acontecido. Queremos fazer um apanhado geral e quem sabe através de algumas informações anônimas identificar as autorias”.

O delegado também conta que foram identificadas mais algumas pessoas que estavam no local do crime naquele momento “Tem uma que está ferida que não foi mencionada naquele primeiro dia e é mais um homicídio tentado. Já estamos atrás dela, vamos ouvir essa pessoa e outras também que estão sendo investigadas para acrescentar nessas informações que temos e tentar esclarecer esse fato”, revela o delegado.

Becker afirma que até o momento ainda não há suspeitos para o crime. “Como provavelmente eles estavam de capuz, não se pôde identificar. Não havia nenhuma câmera, nada, então é difícil essa situação”, explica.

Os mortos foram identificados como Roger da Silva Cabral, 18 anos, os irmãos Robert da Silva Ribeiro, 22, e Matheus da Silva Ribeiro, 23, Lucas Joel Ferrão, 30, e Cristian Soares Teixeira, 28. Apenas Matheus não possuía antecedentes criminais.

Rivalidade entre duas facções

Diego Caetano de Souza, futuro Secretário de Segurança de Bento, relata que na região do crime existe uma disputa entre associações. “Tem disputa de um grupo que se reforça fora de Bento para tentar assumir alguns territórios de venda de drogas enquanto têm outros que resistem ao avanço dessas facções de fora. ’Os Abertos’, que são os da cidade, não querem receber comando de líderes de outros presídios, de outras cidades, eles querem vender as drogas deles, ter as armas deles e só trabalhar aqui na cidade. Existem outras facções, que são ‘Os Manos’ que se vê avanço no Estado inteiro e tentam entrar aqui, se associam com alguns, que brigam com ‘Os Abertos’ e acaba tendo essas mortes”, explica Souza.

Conforme Souza, dois problemas dificultam as ações dos órgãos de segurança: os usuários, que sustentam o comércio de drogas e o grande número de pessoas que buscam o tráfico como forma de trabalho. “Há muito consumo de drogas. Se a gente conseguisse evitar isso, os traficantes teriam que procurar outra atividade, se seria licita não sei te dizer, se trabalhariam em algum lugar ou partiriam para o roubo – furto também não sei, mas eles optam por viver no mundo do trafico porque é rentável, é uma empresa que dá muito dinheiro. Tenta-se combater o tráfico de drogas, mas o problema é que acontecem as prisões de traficantes em um dia no outro eles já são substituídos”, comenta.

Combate aos homicídios

O Major Álvaro Martinelli, Comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPAT) afirma que, além do bairro Municipal, ações intensivas para reduzir as mortes violentas estão sendo realizadas nos cinco bairros de Bento que apresentam maior índice de violência. “Zatt, Ouro Verde, Conceição, Eucaliptos são os que concentram quase que a totalidade ou praticamente a totalidade dos homicídios”, declara.

De acordo com Martinelli, ações de inteligência são pautadas principalmente por denúncias recebidas no aplicativo de mensagens Whatsapp. “No Municipal exclusivamente estamos nessa fase de coleta, porque muita gente não vem falar quem foi, mas denuncia anônima nos encaminham bastante coisa. Tem muita denúncia pelo nosso canal, principalmente envolvendo a questão da traficância e quem é que está nas lideranças, que afinal é quem coordena”, conta.

Martinelli afirma que para reduzir os números, está sendo realizado um trabalho em conjunto com a Polícia Civil, com troca de informações para buscar identificações e capturas.

Força tarefa é montada

Para dar andamento nas investigações foi montada uma força-tarefa. A equipe é formada por seis policiais que integram as 2ª Delegacia de Polícia Civil de Bento, além de investigadores da 1ª Delegacia de Polícia e da Polícia Civil de Garibaldi.