Há alguns anos, por ocasião de um vernissage, parei diante de um quadro todo pintado de branco com um pontinho preto no centro. Minha primeira reação foi de espantar a “mosca” sentada na tela. Depois, com um pouco de boa vontade, pus-me a refletir… Seria aquilo arte transcendental? O negativo de um fantasma? A representação do fim do mundo, com a poeira cósmica sendo sugada por um diminuto buraco negro? Uma nevasca cobrindo Nova York, com um pinguim tentando sair de um lago congelado? Tentei, tentei, mas não deu. A mosca continuava na minha cabeça… e no quadro.

Não sei o que os críticos falaram a respeito. Talvez tenham apreciado aquela obra abstrata classificada como arte contemporânea. Na maioria das vezes, a análise dos entendidos não coincide com a percepção do povo. Filmes, por exemplo. Quando eles vêm com o anúncio “ganhador do Oscar disso e daquilo”, pode contar que acabo fazendo um soninho no meio da sessão.

Deve ser ignorância minha. Ainda não estou preparada para certas criações de criaturas tão… criativas. Por isso vou com calma antes de chegar ao ponto crucial desta crônica. Vá que hoje eu não entenda a profundidade da coisa e só venha a compreender daqui a uns trinta anos… Como é que vai ficar minha cara ao me retratar? Não responda!

Então, todos prontos? Por favor, tirem as crianças da sala, que o tema é, no mínimo, barrento. Trata-se de um espetáculo teatral chamado “Macaquinhos”, formado por um grupo de nove atores que decidiram romper com todas as barreiras da moralidade para “ampliar os conhecimentos do público sobre os conceitos de arte contemporânea”.

Beleza! Um palavreado digno de receber o patrocínio do Sistema S (Sesc) do Ceará. Mas… (sempre a conjunção do contra), ao serem abertas as barragens, vazou um mar de lama… ou mais precisamente, um mar de matéria escatológica humana.

Explico a parte do espetáculo que eu vi na Internet. Os sete “macacões” e as duas “macacas” do grupo, nus em pelo, andam em círculo, um cutucando o “fiofó” do outro. Depois, agachados, cada um vai explorando, com mais propriedade, a configuração anal do cara da frente, enquanto sua geografia traseira é estudada pelo cara de trás. Ou seja: eles vão, literalmente, “tomar no …”. Em nome da arte!

Para finalizar, transcrevo um trecho da crônica “Equívoco Alarmante”, do poeta Affonso Romano de Sant’Anna, de 2001, onde ele critica “obras” classificadas como artísticas: “A improvisação, a audácia, o arrivismo, a exploração da ingenuidade do público e a esperteza burguesa e mercantilista sustentam um insólito equívoco na história das manifestações simbólicas do homem”. Os menos poéticos diriam: “É uma m…..!”