Minha amiga lhes abriu as portas sorrindo, como se eles fossem enviados de Deus. Ofereceu-lhes cadeiras – dose tripla de confiança –, onde dois deles depositaram seus glúteos. O terceiro preferiu ficar de pé. Então ela expôs o problema, que, aliás, fora percebido pelo trio ao descerem a rua, motivando-os a oferecerem seus serviços.

Que sorte a dela! Minutos antes, estivera pensando em procurar profissionais para trocar as telhas com fissuras, e eles apareceram assim, do nada! Estariam os astros confabulando a seu favor, mediando a comunicação entre seres interligados por uma energia espiritual? Seria isso a tal sincronicidade, a coincidência acompanhada de significado?
Todo esse vendaval de ideias foi instantâneo, até porque ela não teve muito tempo para investigar, em sua mente, outros sinais ou eventos com o mesmo padrão de sincronia e simultaneidade.

Depois das devidas explicações, ela combinou com os trabalhadores a data de início da obra e o valor da diária. Como eles tinham alguma pressa por causa de outro compromisso, despediram-se.

– Não falta trabalho pra quem tem vontade – completou um dos rapazes ao sair.

Minha amiga estava realmente feliz. Enfim conectada não só à Internet, mas com o inconsciente coletivo e com o Universo! Até comentou com o marido que as pessoas devem ficar atentas aos sinais, para não perderem oportunidades preciosas.

-“Cavalo encilhado não passa duas vezes” – disse ela animada.

Uma experiência e tanto de seu “self” merecia uma “selfie”, e então…

-Cadê meu celular?

O marido sugeriu que olhasse na bolsa. Afinal, ela costumava esconder tudo em sua Louis Vuitton de mentirinha. Havia labirintos lá dentro capazes de confundir até um minotauro. De documentos, cartões, carnês e dinheiro a remédios para labirintite e enxaqueca. Para o celular um compartimento especial. Mas…

-Cadê minha bolsa?

Piadista, o marido respondeu brincando “vai ver que os caras levaram”. Já ela não achou graça nenhuma, pelo contrário, arregalou os olhos e disparou um palavrão que não fazia parte do seu vocabulário. À medida que esvaziava prateleiras, vasculhava gavetas e inspecionava os cantos, diminuíam suas esperanças.

Já escurecia quando ela se deu por vencida, aceitando o fato de que lhe haviam passado uma bela rasteira. Abriu a janela e olhou para cima resignada. O ocaso já exibia uma estrelinha logo à frente da Lua que minguava em formato de unha, cada vez mais ausente, distante e fria… Assim como a lua, parte dela também estava na sombra, mas logo viveria novo ciclo…