Não leia livros. Não leia livro de autoajuda, de muita ajuda ou de pouca ajuda. Não leia jornal. Não leia revista. Não leia bula de remédio.

Não perca tempo sequer com a leitura desta crônica.

Não arrisque ler clássicos já sedimentados. Não leia os grandes nomes da literatura universal: Goethe, Kafka, Shakespeare, Camus, Borges, Vitor Hugo, Dickens, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Erico Verissimo. Não pense em ler os grandes romances da literatura russa: Guerra e paz, Crime e castigo, Anna Karenina, Ivan o “Imbecil”. Pushkin, Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov. Isso pode viciar. É perigoso viciar-se em literatura russa.

Passe longe da poesia, essa máquina de comover e que diz coisas absurdas:

“A saudade é a presença da ausência” – “Derramado no papel / o poema é a mancha / que o vinho fez / o resto é embriaguez” – “O medo é o rabo do cachorro enfiado entre as pernas” – “A falsidade é uma melancia rindo verde por fora / sangrando vermelho por dentro” – “Disparo perguntas mudas / contra enorme e surda / orelha de Deus” – “Escondo a dor / atrás do muro / verdejado de musgo / iluminado de escuro”.

Esqueça os poetas. Poetas são doidos que pintam as pás dos cataventos em movimento. Torça o nariz para Drummond, Quintana, Bandeira, Pessoa, Pound, Lorca, Witmann, Camões, Leminski, Ferrarini…

Ler livros deveria ser proibido por se tratar de uma atividade perigosa. Se até de olhar para um livro volumoso dá dor de cabeça, imagine se ele vier a despencar do alto da estante, bem no meio da sua testa. Pode matar ou deixar sequelas graves e irreversíveis.

A leitura de livros pode provocar cegueira. O esforço despendido para ler cansa a vista até inutilizá-la. Na contracapa dos livros, deveria constar algo do tipo: “Ler é prejudicial à saúde dos olhos.”

Quem lê pode morar em castelos, viajar em balões, voar em tapetes mágicos e se enfiar numa toca de coelho com Alice rumo ao País das Maravilhas. Quem lê pode escalar o Himalaia, atravessar o Saara, percorrer a Pacific Crest Trail (PCT) com 60 centímetros de largura e mais de 4 mil quilômetros de extensão e ir em busca da Terra do Nunca com Peter Pan. Isso é loucura das grandes!

Ler livros é desaconselhável para todas as idades. As crianças podem descobrir um mundo maravilhoso dentro do mundo em que vivem. Os livros estragam os jovens, tornando-os adultos mais críticos do Brasil que dá certo. Os velhos podem encontrar uma grande fonte de prazer lendo bons livros. Isso é perigoso.

Ironias à parte, isso tudo foi só para dizer que leitura não deve rimar com tortura. Ler deve rimar com prazer. A leitura que mais nos prende é a que mais nos liberta.

O livro é o melhor amigo do homem e não o cão. O livro não morde o dono. O livro não foge de casa. O livro não ataca o carteiro. O livro não pula nas visitas e nem se agarra despudoradamente na perna da visita.

Ler expande a mente, ensina e promove a cidadania.

Ler estimula a criatividade, ajuda a relaxar, apequena a solidão, melhora a desenvolvura ampliando o vocabulário e melhorando a escrita. Ler é uma atividade prazerosa que estimula e colabora com a felicidade.

Ler é um santo remédio: estimula a memória e atenção e ameniza situações estressantes.

Ler é ter a possibilidade de ajudar o mundo, espalhando conhecimento.

Aproveite que as férias terminaram e leia mais. Leia todo dia. É tempo de ler bastante.

 

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