Empresário, ex-presidente do CIC e, atualmente, Presidente do Esportivo, Piccoli, fala sobre o Clube, sua passagem pela ExpoBento e CIC e a importância da união empresarial para Bento Gonçalves.

Natural de Roca Sales, Laudir Miguel Piccoli veio morar em Bento Gonçalves com a família aos 12 anos. Empresário, é proprietário da Gráfica Bento e da LL Rótulos e sempre teve grande papel como líder comunitário. Foi diretor de Marketing da ExpoBento (2003-2004), diretor de Marketing do CIC-BG (2012), vice-presidente do CIC-BG (2014-2015), presidente da ExpoBento (2015) e presidente do CIC-BG (2016-2017). Hoje, com 48 anos, Piccoli é o Presidente do Clube Esportivo Bento Gonçalves. Casado com Shana Romano, o casal tem dois filhos, Rafael e Miguel, que residem em Serafina Corrêa.

ExpoBento e CIC

Tenho um perfil de operar, de fazer acontecer e meu envolvimento nas entidades me ensinou muito. No Esportivo e a ExpoBento, especialmente, tive um aprendizado de relações humanas. Na feira fizemos muitos projetos bacanas, como Mesa ao Vivo, com aulas de gastronomia. Em 2015 deliberamos projetos de lei de incentivo, como a Rouanet, e isso foi muito importante para qualificar a ExpoBento e fazer com que os visitantes tivessem ainda mais atrações. Assumi o CIC logo após, com o projeto do Centro Empresarial, que era o sonho de todos os presidentes, que colocaram um pouco de seu trabalho pensando em ter uma sede própria. O Leonardo Giordani, que foi o presidente antes de mim, me deu um projeto a ser executado, e tive o privilégio de inaugurar aquele espaço, que é bom para Bento e região. O grande desafio foi a conclusão e entrega do Centro e, também, conseguir agregar pessoas abnegadas que trabalham pela entidade. No CIC há muitos bons projetos, mas precisam de parceiros voluntários para ajudar. Consegui, na minha gestão, executar o trabalho da melhor forma possível, assim como os que vierem depois de mim, o Elton Gialdi e agora o Rogério Capoani.

Fundaparque

A Fundaparque tem um valor intangível para Bento Gonçalves, como parque e centro de exposições. Hoje, sou vice-presidente do Conselho Deliberativo e muito trabalho foi e está sendo feito. Lá atrás, tivemos que fazer uma força tarefa, e reunir todos para resolver um problema crônico do Parque. Um menino levou um tiro lá dentro, e a causa estava em R$4 milhões, onde 30% de todos os aluguéis era destino à família da vítima. Naquela época, por exemplo, a ExpoBento tinha que investir na central de gás e a Movelsul construir os banheiros, e o CIC e o Sindmóveis desembolsaram um valor para amenizar o problema. Quando a Fundaparque estava praticamente se autossustentado, veio a pandemia. Hoje quem sustenta o Parque são as três principais feiras: ExpoBento, Movelsul e Fimma, e com a pandemia não teve mais nenhum evento ou feiras, até o CIC está enfrentando problemas de receita. Só que, precisa-se manter aquele elefante branco, e como? Eu não sou o Prefeito, nem Presidente da Câmara de Vereadores e nem do CIC, mas temos que nos unir, reunir as pessoas, um jurídico e ver o que cada um pode fazer, só que para isso, precisa-se de diálogo e um articulador. Eu dou a minha opinião, não tenho como resolver.

A Presidência do Esportivo

Eu já me envolvia no Esportivo desde 2015. Naquele ano o Clube vivia um caos, não tinha nem presidente, e teve um dia histórico, uma reunião no Jornal Semanário com as lideranças de Bento. Resolvemos abraçar o Clube, onde surgiu o Guilherme Salton para assumir a presidência. Depois, veio o Anderson Zanella e agora eu. Em 2019, quando o Esportivo subiu para a Série A do Gauchão, eu fazia parte do grupo que estava trabalhando, ano passado assumi como Presidente e meu mandato termina em novembro de 2021. Tenho que agradecer todos os lugares que passei, pois aprendi muito. Só quem já foi Presidente de um Clube, entende sua grandeza para a sociedade e a cidade. Deixei minhas empresas em segundo plano para me dedicar muito na ExpoBento, CIC e agora, no Esportivo. No clube, eu vivi os dois lados: fui Campeão do Interior em 2020 e rebaixado para a Segunda Divisão em 2021.

O rebaixamento

Tenho 100% de certeza que falhamos em trazer as pessoas erradas. O time que foi Campeão em 2020, não ficou com praticamente ninguém do elenco para 2021. Em 2020 tivemos a convicção de continuidade de um processo e de um trabalho, por exemplo, mantivemos o Técnico Carlos Moraes, que subiu o Esportivo e se manteve na Série A. Neste ano, não é novidade para ninguém, eu não queria o Luís Carlos Winck como treinador. Eu sempre gostei do trabalho do Rogério Zimmermann, mas naquele momento ele não teria como assumir o time. Na mesa, tinha Carlos Moraes, Winck e Bem Hur Pereira, definiu-se pelo Winck, por ser da cidade. A diretoria definiu, não votei à favor e nem contra e nem eximo minha responsabilidade, mas infelizmente não deu resultado. Então, o Zimmermann veio para tentar tirar o Esportivo do rebaixamento. Depois de três jogos ele me deu feedback, dizendo que estava preocupado com o Clube e que não se sentia confortável em ficar à frente do Esportivo devido ao perfil dos atletas, que não era o mesmo que ele trabalhava, e não teria tempo hábil para uma mudança. O seu auxiliar, Gustavo Papa, assumiu então os últimos jogos da equipe, mas Zimmermann continuou orientando o treinador. Quem olha de fora, acha que ele abandonou o clube, mas não foi nada disso. Por isso, assim que confirmamos a participação na Série D, eu fui buscar ele novamente, que veio por um valor muito abaixo, porque ele acreditou e comprou o projeto do Clube. Demos todo o respaldo necessário, mas devido às escolhas feitas lá atrás, o Esportivo acabou rebaixado.

Série D e Copinha

Depois do rebaixamento, em um primeiro momento, tínhamos definido não jogar a Série D, porém, e essa foi até uma ideia do ex-prefeito Pasin, convoquei uma reunião com o Conselho Deliberativo do Clube para ouvir a opinião deles, e foi unânime o apoio para jogarmos, afinal, era algo inédito para o clube participar de uma competição Nacional. Para jogar, precisa de dinheiro, e eu só faço se consigo pagar, se não, nada feito. Na reunião, perguntei quem dos conselheiros ajudaria com R$10 mil para viabilizar a participação do Esportivo, e a maioria levantou a mão. Com isso, criamos um projeto de captação, como as plaquinhas, com os apoiadores do centenário, onde teu nome fica eternizado no clube. Fizemos rifas e venda de placas, proporcionando à cidade dar apoio ao clube. Tivemos que criar alternativas. Cada um ajudou no que pode e, assim, estamos disputando a Série D. Hoje, o clube está totalmente em dia com as contas, tem dinheiro no caixa e a nossa folha de jogadores é 1/3 da que pagávamos no Campeonato Gaúcho. Entre jogadores e comissão técnica, a folha é de aproximadamente R$ 77 mil. A ideia é contar com mais alguns atletas no decorrer do campeonato, queremos mais um atacante de extrema. Temos até agora 18 contratados, o restante são os guris da base do Clube.
Todo esse esforço é para um projeto maior. Por exemplo, o Esportivo tem em torno de 300 crianças nas categorias de base, e ajudando o clube, a comunidade colabora com a formação desses garotos. O grupo vai disputar a Copa FGF no mês de agosto, e a equipe será basicamente o sub-20 e, dependendo da necessidade, os jogadores que estão jogando a Série D, afinal, na Copinha só podem 10 atletas amadores.

O Esportivo e a cidade de Bento

Quando era presidente do CIC-BG, me chamavam de ‘Homem Evidência’, pois eu só aceito se há evidência que comprovam determinados fatos, e eu tenho isso, na própria relação do Clube Esportivo com a cidade. O troféu de campeão do interior de 2020 eu ofereci, em uma reunião do Conselho, às lideranças e à comunidade de Bento Gonçalves, porque aquilo foi um reflexo da união. Este ano, rebaixamos, e ouvi críticas de todos os lados. O quero dizer é que o Esportivo pode unir como desunir uma cidade. Dentro de um clube de futebol centenário como o nosso, existem muitas situações. Quando o time ganha, a maioria fica feliz, porém, há aquele que pode estar torcendo contra que não quer ver o crescimento e as conquistas do clube. Para uma cidade maravilhosa como Bento Gonçalves, que pode melhorar ainda mais, temos que pensar em um projeto maior, e não nas diferenças de cada um. Para uma cidade ir bem, todos tem que puxar para o mesmo lado. O empresariado deve ser mais unido, e isso não acontece, muitas vezes, devido às questões individuais de quem está à frente de determinados projetos. No momento que o empresário e o morador de uma comunidade perceberem que um projeto é legítimo, que tem potencial de ser vencedor a médio e longo prazo, eles ajudam, abraçam a causa. Não faço bobagem dentro do Clube, me coloco no lugar de quem vem depois de mim, por isso eu acredito no projeto. Quero frisar que esse clube é a maior bandeira de Bento Gonçalves e as pessoas tem que criar essa consciência. A cidade vive uma relação de amor e ódio com o Esportivo. A cidade abraça o time só quando ganha, e temos que mudar isso.

Desafios na gestão

O maior desafio é entender como funciona o futebol, que é um mundo à parte. Compreender o cenário operacional, legal e o que isso representa. Quando fomos campeões em 2020, teve uma pessoa que me ligou, não sei quem foi, chorando e me agradecendo, dizendo o quanto estava feliz. Emocionei-me demais, e ai tu começa a entender o que é esse clube e sua grandiosidade. Tenho minha gestão até novembro deste ano, e minha ideia é não seguir. Tinha um candidato para 2022, mas ele acabou retirando o nome, pois surgiu uma nova chapa. Acreditamos tanto no projeto do Clube, que não queremos uma disputa de eleição, queremos uma chapa única, pois se ocorrer divisão de votos, automaticamente vai ter gente que não vai mais entrar aqui, e não queremos isso. Temos quem pensar no projeto do clube Esportivo como um todo.

Legado

Acredito que fiz a coisa certa dentro do Clube, dando continuidade à um projeto, o que não é nada fácil. Nós temos cerca de 300 sócios e 100 conselheiros, e não há um dono, o Esportivo é de Bento Gonçalves, e como líder, com muita humildade, paciência e vontade, tento equalizar todas as situações para fazer o Esportivo ir um pouco mais à frente. Conseguimos implantar também um modelo de gestão, que carecia muito dentro do clube.

O trabalho em prol de Bento

Temos sempre que fazer tudo com muita seriedade, como se fosse nossa empresa, ou até mais. Ter a consciência da responsabilidade que é estar à frente de uma entidade ou de um Clube, pois não é nada fácil, se fizermos tudo certo, ninguém fala nada, se fizermos errado, as pessoas se dão o direito de te incriminar. Por exemplo, cada presidente que passou por aqui, merece estar nesse quadro dos presidentes na parede do clube, pois ao menos eles deram o CPF pelo Esportivo e por esse projeto, todos se doaram. Como liderança comunitária, escolhi Bento Gonçalves para viver e ter minhas empresas, por mais que minha família não more aqui. Muitas vezes as pessoas sugam a cidade, e nada dão em troca. No momento em que o ser humano entender a sua responsabilidade individual, no meio onde vive e executar legitimamente para o bem comunitário, vai compreender que esse também será o seu bem.
Teve uma época que todo mundo achava que eu ia entrar para a política, eu nem sabia que era filiado a partido, mas agora não sou mais. Não tenho vontade nenhuma de ser político, o meu propósito é a comunidade, é fazer essa cidade melhor. Eu sou grato por Bento Gonçalves e faço de coração. Muitas pessoas já me falaram que sou otário, que trabalho de graça e me criticam, ainda mais agora que o Esportivo foi rebaixado, mas o que vale é minha consciência, não o que os outros falam. Tem pessoas de valor, que entendem o processo e tem orgulho de quem faz algo para o bem comum. Quero que meus e filhos e netos, quando lerem essa entrevista, percebam o bem maior, e entendam que não é só o malandro que se dá bem. Eu sou uma pessoa realizada. Dizem que para ser feliz, tem que estar de bem com a família, com os negócios, consigo mesmo e com a comunidade e eu sou muito realizado em todos esses aspectos.

Lideranças Comunitárias

Estou nesse meio há muito tempo e já vi acontecer de tudo. Nesse ciclo de lideranças, tanto política quanto de comunidade, estamos evoluindo muito. Nunca esqueço de um encontro no CIC, quando estava na presidência, e nós nos reuníamos com antigos presidentes. Um deles me disse que tínhamos que bater uma foto daquele momento, porque nunca na história de Bento aquelas lideranças tinham sentado em uma mesma mesa. Hoje a gente senta e conversa, por mais que existam diferenças.
Precisamos de novas pessoas, de jovens líderes. Eu comecei minha primeira empresa, a Gráfica Bento, com 17 anos e meio e agradeço ao meu pai por ter me cobrado tanto. Sempre morei no centro, perto da Igreja Santo Antônio e, quando jovem, tinha muitos amigos que estudavam no Colégio Aparecida, particular, e eu estudava no Mestre Santa Bárbara, pública. Um dia perguntei para meu pai porque não podia estudar em uma escola da rede privada, e ele me fez uma proposta: pegar um carrinho de mão, com uma enxada e uma pá, subir a Igreja Santo Antônio e ir até o Colégio Bento empurrando o carrinho, ir e voltar, se fizesse, ele me colocaria em uma escola particular. Achei tudo aquilo um absurdo, uma humilhação total, mas depois entendi e levo comigo até hoje, a humildade. Não é a conta bancária que decide quem é melhor, e sim, o que tu carrega consigo, a sua origem. No final, todo mundo morre na beira da praia e ninguém leva nada. Fica um querendo ser mais que o outro, uma luta de egos que não leva a lugar nenhum. Precisamos evoluir como seres humanos, menos é mais, e isso está inverso.

Pedido a Bento Gonçalves

Toda vez que existirem lideranças comunitárias bem intencionadas e que aplicam no bem comum, e não no seu ganho próprio, que a comunidade apoie o máximo possível. Quando alguém se propõe a fazer algo, que faça de verdade, tanto se der certo ou errado, sem teatros.