Sobreviver era o desafio maior para os primeiros imigrantes e seus descendentes. Os sonhos, as fantasias eram interrompidas pela realidade…

“Depois, o milho começou crescer e se faziam sacos grandes e dentro se colocava as palhas de milho e se estendia sobre as tábuas. Para quem estava acostumado a dormir sobre folhas secas de taquara, deitar-se sobre as palhas de milho era um conforto.”
De posse deste mundo exuberante, mas agreste, cedo se deixou de ser criança e a juventude foi absorvida pela necessidade primeira da sobrevivência. É dentro deste universo pobre, rude, acostumado a poucas coisas que se insere a confecção do enxoval – o único dote dado à mulher, já que não tinha direito a herança da propriedade.

“PORTAR LA DOTA” – por ocasião do casamento era uma tradição, um costume da família italiana. Em torno dele (o enxoval) pode-se ver a história de modos diversos e, a que escolhemos, é a de relatar os passos das moças que bordando e costurando, sonhavam, assim como se já fossem casadas. Nos primeiros tempos pouco se comprava. Praticamente tudo era produzido em casa. Os bordados eram crivos, pontos cheios, corrente, richelieus… e sobre as toalhas de mesa, as franjas, o ponto-cruz, e nas bordas os crochês de mesa, “i gropi” (os nós nas franjas). Este trabalho era feito à noite.
As condições eram precárias e na memória, a lembrança da fome, do frio eram tão reais quanto o ato de viver. Diante dessa realidade, poupar, fazer reservas para o futuro tornou-se um hábito no comportamento da população. Ao longo do tempo, este espírito está presente também na confecção dos enxovais, prevendo-se peças não só para o uso cotidiano, mas para toda vida.

Em depoimento, uma noiva, em 1923, disse: “Dobrei palha de milho, fiz trança de palha de trigo, trabalhei na roça para comprar meu enxoval.” As Coisas do dia-a-dia eram de saco de açúcar. Para os dias de festa, nos domingos, a gente tinha os panos, as toalhas, os lençóis de algodão bordados; as camisolas melhores eram guardadas para quando se “ficasse doente.”

Trabalhar para fazer o enxoval não era o mesmo que trabalhar na roça. Era uma atividade lúdica, significando a permissão para sair das tarefas impostas pelo cotidiano e ingressar no imaginário onde tudo era possível – “O Sonho” – a casa com rendas, tapetes, cortinas – a vida por alguns instantes adquire poesia.

Em cada peça da “Dota”, emoções históricas. É como se a realidade fosse desordenada ou grande demais para compreendê-la… “Era vergonha se uma moça casasse sem saber bordar e sem saber costurar, pelo menos as roupas das dia-a-dia – camisas, calças para o trabalho de seu marido…” – afirma a escritora Alice Gasperim.

Assim, o sonho da moça se tornava realidade no dia de seu casamento, com uma grande festa, onde toda a comunidade e parentes participavam. Sabendo que a única herança que levava era o seu enxoval – “LA DOTA” – E O SONHO DE CONSTRUIR UMA NOVA FAMÍLIA.