Como de costume cheguei em casa e não tinha vontade de fazer nada. Igual uma marionete, lavei algumas roupas e retoquei a unha (não nessa ordem, para ficar mais dramático). A ansiedade estava a mil, entra e sai das redes sociais, buscando alguma coisa, buscando encontrar algo que me deixasse fazer parte daquilo, por pelo menos, naquele momento. Acho que busquei o dia inteiro, inconscientemente.
Mas nessa noite, não consegui ficar ali, anestesiada com a vida dos outros, escapando das minhas responsabilidades. Senti um embrulho no estômago, como se estivesse num tráfego intenso na BR, entre veículos impacientes e outdoors piscando, um em cima do outro. Um vendedor de paçocas de um lado, do outro um de meias, uma banca de frutas e alguém gritando o cardápio do dia. Queria prestar atenção, mas não conseguia entender e os motoristas estavam impacientes, buzinando. Para onde estão indo? Preciso ir também?
Qualquer pessoa em sã consciência diria que sim. Eu também diria que sim. Mas custo a acreditar que esse lugar exista. Talvez eu só tenha parado no tempo e me acostumado com isso.
Nessa noite me senti bombardeada de informações, reclamações políticas, truques, cursos gratuitos, imigração para o Canadá, looks, looks, looks, presentes inúteis embrulhados em papel disfarçado de conceito.
Sentei para escrever essa coluna e me senti uma idiota. Quem não deveria estar lá sou eu. Tanta gente sem ter para onde ir, na única estrada que sobrou, uns fazendo malabarismo no sinal, outros querendo ultrapassar, outros sendo atropelados, e eu aqui, querendo achar que meus problemas são maiores?

Em Israel quase 90% da população acima de 16 anos já foi vacinada. Eles haviam comprado a vacina, guardaram, e no dia seguinte à liberação, a vacinação começou, láaa em dezembro. Mesmo assim, as crianças estudam em cápsulas, a máscara é obrigatória, e bares, jogos e shows aceitam apenas quem tem o ‘passaporte verde’, ou seja, quem já tomou as duas doses da vacina – e que tenha passado 10 dias da segunda dose. Em tempos de lockdown, ele foi cumprido, e os resultados foram vistos em pouco tempo. A economia voltou, mudando também o número de desempregados, visto que o número de infectados diminuiu drasticamente.
E aqui no Brasil, como é? Negamos a vacina, porque não queríamos virar jacaré por causa de uma gripezinha. Em tempos de bandeira vermelha, teve gente que até esqueceu que existia coronavírus. Em tempos de bandeira preta, as regras não são cumpridas, fazendo com que ela se prolongue, incomodando os setores, aumentando a crise, e alguns AINDA achando que não existe coronavírus. Em época festiva, de viagens e de compra de presentes, as regras ficam menos rígidas, as filas aumentam, o coronavírus se deleita, vamos vivendo esse looping infinito e a culpa é sempre só de uma pessoa. Algo de errado não está certo.

Nessa noite eu queria voltar a ser criança. Não é justo na minha vez tudo isso estar acontecendo e a gasolina estar mais de R$ 5. Senti vergonha do meu país e foi nesse momento que pensei seriamente em fazer o curso gratuito de inglês e seguir as dicas de como imigrar para o Canadá.