Neste dia 22, John F. Kennedy, presidente norte-americano, foi assassinado em Dallas, no Texas, enquanto percorria as ruas da cidade em carro aberto, mas esse fato que mudou a história do mundo sequer é lembrado em dias de tempos descartáveis do fast-food, das rapidinhas e do delete Vivemos tempos das vitrines cheias, despensas vazias e dos cérebros ocos.

Nada mais é feito para durar. Nada, nem os relacionamentos. Ainda vamos ver a troca de parceiros com maior frequência com que se troca a roupa de cama.

Ainda ontem minhas duas sobrinhas mofaram de rir de mim e me disseram que sou da “idade da pedra” por ainda usar um aparelho de celular sem acesso à internet.

– Esse modelo de celular já era, tio – garantiram.

Como querem que eu entenda isso se fui educado para fazer as minhas coisas durarem uma eternidade e meia. O tênis Kichute, por exemplo, devia morrer em combate.

Minhas sobrinhas e seu círculo de relações, acham o cúmulo dos cúmulos, quando peço a elas para não jogarem fora os talheres de plástico utilizados somente uma vez.

– Me poupe, tio – gracejam.

Tenho um pouco de dificuldade de jogar fora minhas coisas para comprar o novo.

Os caminhões que recolhem lixo quase não dão conta de esvaziar lixeiras amontoadas nos cordões das calçadas. Pelos números estatísticos, se produziu mais lixo nos últimos 50 anos que em toda a história da humanidade. Você já pensou nisso?

Por incrível que pareça, minhas sobrinhas não entendem a diferença entre os verbos “guardar” e “descartar”. Também não fazem nenhum esforço intelectual para conseguir estabelecer essa diferença.

Não sei dizer se era melhor ou pior do que hoje, mas fui educado a guardar tudo, inclusive o primeiro dente de leite. Guardei, inclusive, as sábias palavras de papai:

– Guarde isso, pois nunca se sabe o dia de amanhã.

Por falar em palavras sábias, minhas sobrinhas atiram ao lixo meus ensinamentos, inclusive quando digo a elas que as palavras são poderosas ferramentas que servem para desmontar e remontar o mundo.

Para minhas sobrinhas é meio chocante me ouvir dizer que aprendi a guardar pregos tortos em uma velha lata vazia de querosene. Mais tarde deviam ser endireitados e servir para pendurar um quadro na parede, consertar uma perna de mesa, uma janela, um caixote ou um nada qualquer.

Pois desse tempo venho eu. Um moletom ou outro agasalho deveria passar do irmão maior até chegar ao caçula e deste ao cachorro que o usaria como colchonete.

Fui educado a não jogar nada fora. As famosas pilhas alcalinas Rayovac que usávamos em rádios portáteis e em lanternas, iam para o forno do fogão de lenha assim que perdiam a carga. Devidamente aquecidas duravam um suspiro mais. As caixas de sapato viravam pequenos cofres dentro dos quais viviam fotos e cartinhas trocadas com as namoradas, quase sempre em segredo dos pais e irmãos mais velhos.

Se quer mesmo saber, minhas sobrinhas não juntam ideia de que a vida era assim e não havia o que fazer. Elas sequer imaginam quanto nos custava declarar a morte de um velho brinquedo, uma ferramenta, um objeto ou uma peça de roupa.

Bem diferente dos dias de hoje em que uma capa de celular é jogada fora na segunda semana de uso. Uma revista vai para o lixo pouco após de ter sido folheada. Uma mochila vai para o quarto das tralhas antes do fim do ano escolar. Uma declaração de amor eterno vai para a lixeira antes de completar o primeiro aniversário.

Bem, esta é apenas uma crônica descartável. Talvez, você deseje guardá-la em alguma gaveta, mas acho bem pouco provável.