Moradores se preocupam com a estagnação do comércio, reivindicam posto de saúde e afirmam que a segurança do bairro está melhor

O bairro Jardim Glória fica localizado na parte Oeste da cidade, próximo ao acesso ao Vale dos Vinhedos. Por alguns anos, foi conhecido pela falta de segurança, mas, atualmente, segundo os moradores, ele está bem melhor neste quesito. A maior preocupação deles, agora, se dá pela saúde no bairro, que pela falta do Posto tem dificultado a vida deles. Fora que, muitos sentem que o local e o comércio estão estagnados.

Comércio estagnado

Comerciantes que escolheram o Jardim Glória vêm notando bastante dificuldade em empreender, seja pela falta de consumidores no local, como pela crise que vem desde a pandemia. “Comparado aos outros anos, houve uma queda. Nós trabalhamos com vendas online e loja física, na forma de e-commerce é bem mais vendas, mas no presencial nem tanto. Escolhemos aqui justamente por ser bairro e já que o Centro conta com muita concorrência”, traz o Empreendedor, Maurício Melo.

Mauricio Loreira iniciou, há pouco tempo, sua loja no bairro, pois acredita que há menos concorrência do que no Centro

Por ser uma loja situada em um bairro, Melo entende que sua maior clientela será os residentes do local.  “Quem frequenta o estabelecimento são os moradores daqui, e este não está sendo o melhor ano para vender, mas entendemos que estamos vindo de uma pandemia e desde então as coisas estão difíceis”, realça.

Paulo Cesar Nascimento é empreendedor, mas antes disso ele é morador há mais de 15 anos do Jardim Glória, e relembra de quando foi para lá. “Vim de Santa Tereza em busca de emprego com a minha esposa e meus dois filhos. Escolhemos aqui porque é tranquilo e já tinha amigos que moravam aqui, então era bom viver perto destas amizades, que assim como nós, tinham vindo da colônia”, lembra. 

Paulo César da Silva está apreensivo com o bairro pois sente que ele está estagnado

Entretanto, com o passar dos anos, preocupações começaram a surgir em relação ao bairro, que com o passar do tempo, não parecia evoluir como ele imaginava. “Sinto que está estagnado, quando cheguei ele era mais completo do que é hoje em dia. Há casas de aluguel porque o pessoal vai embora, fora que não temos posto de saúde. Pela proximidade que temos do centro, poderíamos estar melhor equipados”, cobra Nascimento.

Para ele, a única solução seria mais integração entre os moradores, para que juntos reivindicassem pelas melhorias que são necessárias. “Acredito que o pessoal deveria ser unido aqui, porque se houvesse, conseguiríamos mais melhorias para o nosso bairro, uma comunidade mais forte e lideranças que se esforçassem por ele”, propõe.

Há 20 anos, Marcos Casagrande e a família compraram o ponto de um mercado falido, hoje em dia ele é um dos três mercados presentes no local. “Já tinham dois mercados aqui quando iniciamos, e o comércio vem crescendo, apesar de ser devagar, já existem algumas fabriquinhas e outras lojas. Desde que abriu uma rua transversal que dá acesso ao Municipal, e por isso passou a ter mais movimento de pessoas e de frequentadores do bairro. Logo, o comércio deu uma aumentada”, esclarece.

E diferente dos outros, ele acredita que o problema dos comércios esteja ligado a economia num geral e não no bairro. “Tem sido um ano bem ruim para as vendas, principalmente por conta da política, as pessoas têm muitas dúvidas sobre o que vai acontecer e isso tem segurado. Acredito que isso seja o que está prejudicando”, expõe.

“Falta Posto de Saúde”

Com o passar dos anos, o aumento de habitantes do Jardim Glória foi crescendo gradativamente. Fora que, com o fácil acesso a outros bairros após a abertura de ruas, o movimento de pessoas por ele também aumentou consideravelmente. Justamente por isso, seus moradores não compreendem a falta de um posto de saúde para atendar a grande demanda que existe por lá.

Ana Maria Valente é residente há 40 anos do local, após se casar, foi morar com o marido e percebe que nestes últimos anos, muitas mudanças ocorreram. “hoje em dia é bem diferente, o movimento aumentou muito, antes era muito tranquilo. Sinto falta um pouco da tranquilidade, porque parecia um interior, só tinha a nossa a casa e mais de alguns vizinhos, tinham proteiros, mas depois do asfalto cresceu muito, fora que os vizinhos são excelentes, não se tem encrenca com ninguém”, declara. 

E é por esse movimento e aumento de moradores que ela acredita ser necessário a colocação de um posto de saúde, além de que este fluxo está começando a prejudicar no trânsito. “A falta do nosso posto de saúde é o que mais incomoda, poderia ter para facilitar a vida das pessoas. Temos que acessar ou a UPA que está sempre muito cheia, ou postos de outros bairros próximos, mas que ainda sim, ficam longe para nós. O outro problema que enxergo é a velocidade dos carros, as vezes fico esperando ouvir a batida dos carros”, alarma. 

Lurdes Vi Cari mora em uma casa de esquina, relembra da insegurança presente lá, já que, há anos vive no Jardim Glória, e neste período, sempre se questionou a respeito da falta do posto de saúde. “Os vizinhos são bons, o bairro anda mais seguro, mas antigamente era pior. Mas o que realmente precisa agora é um posto de saúde, foi feito um ginásio que ninguém ocupa e precisaríamos mesmo de um posto. Faz muita falta, preciso ir no médico as vezes, mas a UPA, onde nos manda, é muito cheia e é longe”, alega.

Lurdes Vi Cari tem exames pendentes e diz que a falta do Posto no bairro dificulta o processo

Roseli Grigolo nasceu e cresceu no Jardim Glória, toda sua família mora lá, com exceção de sua filha mais velha. “Sempre morei aqui, desde que nasci. Minha família é toda daqui, e até hoje é assim. Nunca pensei em me mudar do bairro, mas com uma filha em Porto Alegre e a outra se programando para ir, estamos vendo se vamos para a Capital. Mas o bairro em si é muito bom, e se não fosse por isso, não sairia daqui”, constata.

De todas as partes boas de viver ali, ela lista a vizinhança e a calmaria presente no bairro e lembra do passado. “Aqui é tranquilo, a vizinhança é boa, temos muitas coisas aqui. Quando era criança, o número de moradores era muito menor, não tínhamos mercado ou farmácias, era bem menor. Sem falar que estamos próximos de outros locais que crescem muito, como o Municipal, e esses moradores acessam aqui”, frisa.

Mas assim como seus vizinhos do Jardim Glória, a falta ao acesso a saúde pública através de um posto de saúde a preocupa. “Não temos posto de saúde, é algo que pedimos muito, nosso bairro é antigo e falta um posto de saúde, porque aqui é grande e tem muitos moradores. Usamos o posto da zona sul, lá na UPA. Sim, é a nossa maior dificuldade, mesmo minha família tendo plano, utilizamos o SUS. Imagina para quem não tem e precisa desse auxílio?”, questiona.

Durante a juventude morava no Jardim Glória, se mudou para a colônia após se apaixonar, e no fim, retornou para o bairro que tanto gostava, esse é um resumo da história de Clenice Troian, moradora do bairro há 40 anos. “Aqui é bom morar, nunca quis me mudar. E já tinha morado aqui, quando jovem, antes de me mudar para a colônia. Então quando viemos para a cidade, pois meu marido teve problemas de saúde por conta das parreiras, viemos viver na Glória. Mas sofremos muito, porque chegar até aqui não foi fácil”, confirma.

Quando ela foi viver lá, pela segunda vez, ainda era uma das poucas residentes dali, e relembra enfrentar os problemas de um local pouco habitado. “Fui a segunda moradora daqui, antes de ter tantos residentes. Mas passamos por momentos muito incertos aqui, a violência e o roubo eram muito grandes. Conseguimos contornar a situação e hoje em dia melhorou muito”, indica.

Mas tudo isso fez com os residentes se unissem e se protegessem, como nos dias atuais, que sempre estão repassando informações que acreditam ser suspeitas. “A melhor parte de viver aqui é a paz que estamos tendo. Atualmente, se entra um carro estranho nós nos comunicamos, temos um grupo pelo celular onde conversamos e alertamos outros moradores. Os vizinhos que tem vindo morar aqui também são pessoas boas”, enaltece.

E suas criticas envolvem a saúde e o lazer dos pequenos, que anda sendo esquecido. “Não temos posto de saúde e nem uma praça para as crianças brincarem. Então, o que mais faz falta aqui no nosso bairro é esse olhar do poder público. Uma época vinha um ônibus da saúde, que hoje em dia ele não vem mais, e o nosso posto fica na UPA. Só que lá é muito cheio, e atende a cidade inteira, então precisaria de um posto, sem falar que aqui tem muitos moradores e  o Jardim Glória cresce cada dia mais”, finaliza.

Escola de educação infantil

Silvana Pegoraro, Vice-Diretora da E.E.I. Jardim Glória, entende que comunidade deveria estar mais presente

A Escola Municipal de Ensino Infantil Jardim Glória está de portas abertas desde 1995, contabilizando 28 anos. Atualmente, são 70 anos alunos que fazem parte, entre o Berçário 1 e o Jardim B. “Nós temos um público muito bom, fácil de conversar, que compreende as coisas, principalmente os pais. Mas existem algumas crianças com um pouco de atraso, cada vez mais. Acredito que isso tenha influência do pós-covid, temos uma turma onde todos nasceram em 2020 e é uma turma com bastante peculiaridades, são 15 crianças e às vezes parece que são 30”, explica a Vice-Diretora Silvana Pegoraro.

Com um prédio razoavelmente novo, as maiores questões da escola em relação a estrutura são as manutenções, e a ampliação já que ela acaba se tornando pequena para abrigar os alunos. “A estrutura está razoavelmente boa, estamos fazendo algumas mudanças agora, trocamos o piso, mas tivemos problemas e eles estão refazendo. Em questão de obras futuras, precisaríamos de ampliação. Temos uma sala para cada turma, o jardim B é cessão de uso na escola e aqui sentimos falta de um espaço a mais. Como uma sala de professores, uma brinquedoteca e podermos atender o jardim aqui. É o que falta para nós”, revela.

Sobre a vulnerabilidade social o colégio tem pouca demanda, mas ainda assim, elas existem. Por conta disso, a escola participa do programa da Rede. “Não é um bairro que tem muitas situações de risco, mas elas existem. Fazemos parte da rede, uma vez por mês ocorrem as reuniões no Municipal onde leva-se os casos mais graves. Quanto escola também, estamos sempre mantendo o diálogo com os pais, com CREAs, e sempre tentando fazer essa comunicação”, traz.

Silvana tem sentido a comunidade um tanto ausente, e relata que geralmente são os mesmos pais que não comparecem sempre nas reuniões e demais atividades propostas pela escola. “A comunidade poderia estar mais presente, mas são sempre os mesmos, aqueles que precisam estar realmente ouvindo não estão. Reuniões de pais são em torno de 50%, presentes e ausentes”, destaca.