Freud ainda recebe os créditos de qualquer coisa relativa a sexo: ou só ele explica ou nem ele explica. Mas nem tudo o que se afirma por aí tem a ver com o Pai da Psicanálise, como a ideia de que o veículo é a extensão do pênis.

Na verdade, foi Marshall McLuhan, morto nos anos oitenta, o precursor da teoria de que as coisas são extensões do homem. Segundo ele, a chave de fenda ou a pinça são, por exemplo, extensões da mão; os óculos, extensões do olho; a roupa, extensão da pele; a roda do carro, extensão do pé, e assim por diante. Aliás, ele foi além, afirmando que os meios de comunicação são extensões dos sentidos. Se hoje vivesse, diria que a Internet é a extensão do pensamento.

Mas a autoria pouco importa. O que vem ao caso é que esse machismo é comprovado no trânsito, diariamente, através de xingamentos, agressões, acidentes e, algumas vezes, até de homicídios.

Vamos ilustrar a tese. Um cavalheiro está andando a pé, na calçada. Sem querer, alguém dá uma trombada nele e se desculpa. O homem responde “não foi nada”, ou “tudo bem”. Nem passa pela sua cabeça revidar, insultar, provocar… Ele só continua andando. Mas quando entra no carro, a coisa muda de figura. Assim que veste sua “cueca metálica”, assume uma postura de ataque. Quase atropela o “molenga” que demora a atravessar a rua, chama de “FDP” o “fominha” que o ultrapassa, e, se tivesse uma arma, seria capaz de dar um tiro no “retardado” que corta sua frente.

Já as mulheres, não se tem notícia de brigas explícitas no trânsito. A não ser como coadjuvantes e, mesmo assim, com o intuito de apaziguar. Vejam, por exemplo, a cena que me contaram dia desses:

Num domingo à noite, um jovem casal voltava para casa, de carro, depois de ter ido a uma farmácia. De repente, um motoboy abriu a buzina a uns duzentos metros atrás, anunciando que iria passar. O rapaz do carro, irritado com a precipitação do outro, mostrou o dedo médio, aquele sinal que não é para falar em libras. Estava armada a confusão. O motoqueiro parou e disse?
-Vem cá, vem!

O do carro, que era bem grande, não teve dúvidas. Desembarcou, exibindo seu tamanho. Normalmente, isso era suficiente para intimidar os briguentos. Mas aí, o outro, erguendo-se da moto, mostrou-se por inteiro. “Cacete!”, resmungou o do carro, “parece um lutador de sumô…”.

Prevendo um desfecho nada favorável, a moça se interpôs entre ambos. Tentava afastar o motoqueiro batendo com o embrulho, que acabou se abrindo. Foi supositório pra tudo que é lado. O casal aproveitou a momentânea distração do agressor para se mandar. Sem a encomenda da sogra…

Alguns domingos depois, esse mesmo casal pede uma pizza. Quando a campainha toca, o rapaz atende e… disfarça. É o “mastodonte” da moto.