Em isolamento, Irma Bertani, 94 anos, e Helena, 89, ocupam o dia produzindo material de proteção para doação

Em uma sala isolada da casa, Irma Bertani, 94 anos, mede e corta com atenção pedaços de tiras elásticas, enquanto, ao seu lado, frente à máquina de costura com a qual começou a trabalhar há mais de 60 anos, sua irmã mais nova, Helena, 89 anos, une as tiras e o pano, finalizando as máscaras. Os itens de proteção individual feitos diariamente pela dupla são doados ao Hospital Tacchini e à Secretaria de Saúde de Bento Gonçalves, entre outras entidades que sofrem com a fatal do material.

A ideia partiu da veterinária Maria Fernanda Flores Cagnin, 37 anos, que mora com suas tias-avós. Conhecedora da personalidade agitada e solidária da dupla, ela tinha medo que o isolamento pudesse deprimi-las. “Meu esposo, meus filhos e eu moramos com elas, mas devido ao Coronavírus, estamos separados por uma porta de vidro. Nós em um canto, e elas no outro, junto a cuidadora. Minha maior preocupação desde então foi que elas não ficassem mal. Então quando surgiu essa necessidade de máscaras, e sabendo que Helena sempre foi costureira, pedi o que achavam de ajudar com isso e elas aceitaram imediatamente ”, conta.

Com o material em mão, conseguido por Maria em uma loja da cidade, e com um protótipo de máscara oferecido pelo Hospital Tacchini, começaram a produção. Enquanto a cuidadora corta os panos, Irma, que tem mais idade, cuida das fitas, Helena trabalha na máquina de costura. A meta é confeccionar 800 máscaras. Com uma produção diária de 35 itens, 500 já foram entregues desde o momento em que tomaram a frente dessa iniciativa.

Vidas dedicadas aos bons exemplos

Publicado em um grupo de WhatsApp criado por Maria, onde ela mantém toda a família informada sobre a situação das tias Helena e Irma, o vídeo que mostra as duas irmãs trabalhando nas máscaras também foi divulgado, mais tarde, por outra de suas sobrinhas-netas no Facebook. Nele, enquanto Helena costura compenetrada, Irma, com o rolo de tira nas mãos, resume para a cuidadora o que está acontecendo. “Eu gosto de ajudar quem precisa. É um ato de amor que estamos fazendo”, diz.

Esse é só mais um entre os incontáveis “atos de amor”, como bem define Irma, praticado pelas irmãs ao longo de suas vidas. As tias-avós, conforme conta Maria, sempre estiveram envolvidas em ações sociais, servindo de bom exemplo para a família e, em especial, para os netos e sobrinhos. “Minha relação com elas é muito antiga. Elas cuidavam de mim quando meus pais iam ao trabalho. Meu irmão morou nesta casa, casou e se mudou. Então eu vim morar aqui depois dele, tive meus filhos e seguimos com elas. Vindas de uma família de nove irmãos, além de mim, as tias acabaram cuidando de muitos outros sobrinhos, então todos têm esse carinho por elas”, conta.

“As tias são muito queridas e conhecidas, pois sempre ajudaram todo mundo. Isso de ver o próximo e suas necessidades sempre foi algo da personalidade delas. E por sermos da família, acabaram nos passando esses ensinamentos também”

Fora do núcleo familiar, as duas também se empenharam em diferentes causas sociais na comunidade. Entre elas, uma das mais lembradas é a fundação do Lar do Ancião. “As tias fizeram parte de todo o movimento de criação do espaço. Faziam toalhas, crochê, roupas de tricô e mantas para arrecadar fundos e, já velhinhas, continuaram visitando o lar. Helena deixou de ir só aos 87 anos, quando parou de dirigir”, relata.

Com vidas dedicadas a fazer o bem, como não poderia deixar de ser, a solidariedade de Helena e Irma contagiou a família e os amigos. Tanto é que, além das duas, a mãe de Maria, sua sogra, e até a vizinha da sogra, entre outros, estão empenhados na confecção de máscaras.