Cultivo da uva – uma das principais atividades da economia de Bento – pode ser afetado se temperatura continuar elevada como aconteceu nesta semana

O inverno no Hemisfério Sul teve início no último sábado, 20, às 18h44min e a tendência das temperaturas no mês de julho é que fiquem dentro da média para o perído, ou seja, bastante frias, oscilando na faixa dos 10 graus ao amanhecer, e abaixo da média em agosto.

De acordo com Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) o prognóstico aponta como estimativa que as massas de ar frio estarão presentes de modo frequente na segunda metade do inverno. O estudo ainda indica que esse padrão favorece a ocorrência de geadas e nevoeiros.

Durante o inverno de 2020 também haverá ocorrência de chuva de forma mais regular, principalmente para a metade sul do estado. Na metade norte, onde está localizado o município de Bento Gonçalves, deve-se ter um clima mais seco, segundo a Metsul Meteorologia. A mudança de estação é necessária para que os cultivos da região se desenvolvam, principalmente o da uva, essencial para a economiua da cidade.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Cedenir Postal, comenta a influência do inverno na cultura da uva dizendo ser “importante que a parreira tenha o seu descanso natural, que é feito no inverno. Nesse período, a planta para de ter o seu funcionamento fisiológico e acumula energia para a produção futura. Isso define se a safra vai ser boa no outro ano. Principalmente para as uvas viníferas, é indispensável uma quantidade razoável de frio”.

Além da uva, outras culturas importantes para a região são beneficiadas com a chegada do frio. “Como estamos em uma região de clima temperado, o inverno é extremamente importante para as nossas culturas, como o pêssego e a ameixa, além de alface, chicória, couve-flor, brócolis, repolho, radite, tempero, rúcula e as frutas cítricas”, explica Postal.

Conforme estudos do pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Henrique Pessoa dos Santos, neste inverno “as horas de frio podem ser insuficientes para a superação da dormência e indução da brotação, especialmente para frutíferas ou cultivares de maior exigência”. A recomendação, nesse caso, é que os produtores priorizem o uso de podas mais curtas ou utilizem indutores para garantir uma brotação maior e uniforme nos parreirais na próxima primavera.

Já o enólogo da Emater/RS-Ascar, Thompson Didoné diz que as temperaturas baixas são necessárias para o tratamento natural das plantas. “Para as caducifólias (plantas que perdem as suas folhas nos meses mais frios do ano), o clima é importante para auxiliar no controle de natural de pragas, doenças e ervas daninhas”, diz.

No cenário atual, quando o inverno não começou com o rigor esperado e diante da crise global causada pela pandemia da Covid-19, quem depende do trabalho rural tem insegurança em relação ao cultivo na nova estação. “Seria preciso bastante chuva nessa época para refazer as reservas de água que foram bastante comprometidas com a longa estiagem. Também há grande apreensão quanto ao coronavírus, que é um contexto de bastante incerteza. Quem está fazendo o plantio das hortaliças não sabe se vai ter bom comércio, porque possivelmente a economia vai estar retraída”, finaliza Postal.

Fotos: Rejane Paludo Emater/RS-Ascar