Hoje eu deveria estar publicando o 5º capítulo de “A Viagem Continua”, mas vou interromper a sequência para contar outro lance e, “que lannnnce!”, diria Celestino Valenzuela, em seus tempos áureos. Mas, na semana que vem, “voltaremos”, talvez numa gôndola ou num barco-táxi e deslizaremos pelas águas venezianas, que refletem uma cidade verdadeiramente, absolutamente, apaixonadamente mágica…

Que roubada!

Então me convidaram para fazer compras num shopping de muitas opções e possibilidades. Um perigo… Mas, aceitei sem pestanejar, afinal ninguém nasce mulher de graça. Tudo muito bom, preços pela metade, carrinhos cheios, e lá fomos à cata de um rango, algo que ficasse na medida das bolsas e dos bolsos já desfalcados durante as duas horas de peregrinação pela loja. Enquanto três de nós… na verdade, duas e meia (a terceira era uma pessoinha de meio metro) procurávamos o lugar ideal para reabastecermos a máquina, os outros dois foram desovar as compras no carro.

Seguindo as recomendações de quem conhece o mercado, chegamos ao restaurante ideal. Charmoso, aconchegante, com muitas mesas disponíveis e, principalmente, de preços módicos. O atendimento era demais. Voltei a me sentir “madám”, como há um mês, enquanto sobrevoava o Mediterrâneo.

A sede me matando, fui logo pedindo. Virei meu enorme copo de suco de laranja num gole, e, disfarçadamente, o da pequena também, enquanto ela dedilhava o celular. Com o profissionalismo e elegância de um L´Arpège, da França, ou de um Amadeus, de São Paulo, foram nos servindo as entradas, e nós ficamos mordiscando, sem fome, enquanto aguardávamos os demais.

De repente, tive a atenção atraída por duas caras entre preocupadas e divertidas. Era o nosso pessoal que gesticulava adoidado. Uma parede de vidro nos separava, mas pela leitura corporal entendi: estávamos lascados. Bom, não há o que um cartão de crédito não possa cobrir, pensei com meus botões, totalmente desabotoados, em virtude da onda de calor que me deu.

O jeito era relaxar e comer, pois seríamos mais otários se não curtíssemos a culinária sofisticada por conta da preocupação com as finanças. Mas que raiva! Meu estômago se negava a receber mais alguma coisa. O espaço ficara totalmente inundado pelo suco. No máximo, caberia uma saladinha de folhas. Seriam as folhas mais caras do mundo, e, com certeza, não estavam salpicadas com pó de ouro comestível. Fim do jantar, toalete (ninguém segura tanto líquido por muito tempo), pagamento da conta… o dobro das compras.

Lá pelas tantas, no caminho de volta, uma parada emergencial numa loja de conveniência (decididamente, humanos não têm nada a ver com camelos). Na saída, minhas narinas foram beliscadas pelo cheiro inconfundível de hot-dog. Apalpando a bolsa, fiz menção de parar, mas uma cantada de pneu foi traduzida inequivocamente pelo meu Google interno: “Ou vem ou fica”. Fui, né!