O impacto da violência entre traficantes nas ruas também chegou no Presídio Estadual de Bento Gonçalves. O diretor Volnei Zago aponta que a situação ainda não está crítica, mas se a onda de homicídios continuar, a perspectiva é de que seja incontrolável.

Segundo ele, a direção busca amenizar os conflitos entre facções rivais. Contudo, os apenados acabam sofrendo consequências na rua, quando cumprem a pena ou são soltos. “Tem pessoas da região metropolitana vindo para cá e um grupo de Bento que não está permitindo a entrada deles”, explica.

Zago afirma que internamente, os presos não se apresentam como membros desses grupos, contudo, existem divisões internas. “Fica um conflito, a gente faz o possível para amenizar. Tem casos de alguém se sobrassair e tentar extorquir ou oprimir outro apenado. Eles têm as divisões deles”, relata.

Já a criminalidade que jogou para cima o número de mortes violentas em Bento Gonçalves têm reflextos diretos na casa prisional. “Pela proporção do que aconteceu na rua, dentro do presídio ainda está calmo. A gente tem que tentar administrar para ter melhor convivência”, aponta. Ele prevê que se aumentar os homicídios, vai ficar praticamente impossível controlar a convivência.

Superlotação é principal problema

Antes de 2017, a média de homicídios no município era menor do que atualmente. O secretário de Segurança Pública, José Paulo Marinho, atribui a alta à superlotação do presídio estadual. “Não há cumprimento de pena, sabemos que é uma questão da superlotação. Isso denota para o delinquente uma sensação de impunidade”, argumenta.

Outro fator citado por Marinho para a alta na criminalidade é a transferência de presos de alta periculosidade para Caxias do Sul. Segundo ele, os subordinados desses detentos atuam na região. “Meu receio é que as facções já existentes se associem a outras organizações criminosas, de outros estados”, pontua.

A previsão de Marinho é de que a situação melhore a partir do próximo ano, com a inauguração do novo presídio, que deve suprir a necessidade de vagas. “Esperamos que para o ano que vem, nós consigamos retirar da rua esses delinquentes e que eles permaneçam cumprindo pena”, prevê.

Na sua percepção, o trabalho ostensivo da Polícia Civil e da Brigada Militar (BM) tem surtido efeitos positivos, embora haja incremento no número de mortes violentas. “A efetividade da punibilidade não está acontecendo. A legislação precisa ser mudada”, considera.

Sobre o foco da violência ser em determinados bairros periféricos, o secretário observa que o Programa Sou + Bento deve auxiliar a inserção do Poder Público em áreas de risco. “Queremos colocar os serviços nas áreas de maior vulnerabilidade social. Não adianta ter somente segurança nos bairros, precisa também de cultura”, explica.

Segundo Marinho, o Comando da Brigada Militar enviou um efetivo para o município. “Assim vão prender os delinquentes e dar um choque na criminalidade”, ressalta.