Ontem acordei e me senti estranha. Não existia nenhum motivo especial, não aconteceu nada de ruim, a não ser pela penca de remédios que eu havia tomado na semana anterior e pela depressão de domingo que ainda não havia desgrudado do meu ser.
Era um misto de dor no corpo com preguiça com tristeza com ansiedade. Estava tudo cinza, tal qual essa primavera tímida que mal começou. Sim, está cedo ainda, mas é que dias de sol são tão esperançosos…menos ontem. Ontem o sol apareceu, mas podia jurar que não era ele. Saiu tão tímido, sorriso amarelo.
Enfim, eu estava em uma segunda-feira de bad. Não voltei para a academia, não assisti à aula EAD, não comprei comidas saudáveis, meu corpo clamava por alguma vitamina que eu não sabia qual era.
Para quem me perguntava se eu estava melhor, eu resolvia dizer a verdade (menos para alguns). Não estava bem. E então, sem antes terminar minha reclamação, a recíproca era bem pior. Então quem era eu para reclamar? Estava na moda, era só para me sentir melhor ou ninguém se importava mesmo? Enfim, presumi que a escolha da minha resposta foi infeliz, talvez só porque criamos essa cultura de sorrisos e felicidade sem limites.
Ontem, em especial, eu queria sumir. Não queria ver uma avalanche de conteúdo nas redes sociais, não queria entrar no Linkedin e ver como as pessoas são proativas e cultas. Não queria fazer as compras da semana, mas fui ao mercado só para comprar sucrilhos e panetone. Só queria pegar no sono e esperar um amanhã melhor. Fechei os olhos e comecei a imaginar todas as desgraças possíveis e imagináveis. Chorei. Dei um tapa na minha cara. Parei. Dormi.
Aí até eu diria: mas como você quer um amanhã melhor se você não fez nada de diferente e teve pensamentos impuros e ‘desgracentos’?
Às vezes é só a maré que não está para peixe. São muitos estímulos, muita cobrança. E produza, viu. Afinal, ser feliz podendo viajar o mundo é bem melhor, mas dê um tempo para apreciar o pôr do sol no seu bairro. Faça o que você ama, mas desde que dê dinheiro. E não esqueça de meditar. E fazer exercícios. E ter uma grande ideia. E entregar no prazo. E assista aquela live, compre aquele curso on-line, leia aquela coluna motivacional (?), aquela biografia, aquele documentário.
‘Pane no sistema alguém me desconfigurou’.
Nada é absoluto. Nem o que eu digo, nem o que você faz. Algumas coisas dependem de grandes feitos, outras de grandes mancadas. Algumas de um porre, outras de uma boa noite de sono. Cansei de lutar contra mim mesma e resolvi ser minha aliada.
‘Vou resolver esse pane indo dormir sem banho.’
Bom, o amanhã chegou. Acordei melhor. Mais cedo (também pudera, pela hora que fui dormir). Me sinto mais disposta. Se foi pelas horas de sono a mais, pelos remédios que estão saindo do organismo, pelo fato de ter feito um trato e ter que cumprir, não sei. Só sei que se ontem eu chutei o balde, hoje vou ter que ir buscar.