No momento em que eu me preparava para escrever esta coluna – utilizando um dos meus bens de estimação, uma máquina de escrever alemã, Triumph Gabriele 10, importada pela Comabe e adquirida por mim há 50 anos, ainda toda original e em estado de zero – ouvi o Presidente da Associação dos Hospitais firmar que “no estado não faltam leitos, o que faltam são serviços e equipamentos hospitalares, lembrando ele que enquanto a inflação subiu 400% – não lembro o período referido – o aumento do SUS foi de apenas 60%. A Presidente do Grupo Hospitalar Conceição esteve em Bento na inauguração da UPA. Tempos atrás fui visitar um amigo que estava naquele Hospital, que é público. Ao entrar no local, sofri um impacto profundo, havia inúmeras pessoas nos corredores esperando leitos. No quarto em que meu amigo e compadre estava – havia sofrido um AVC Isquêmico – repousava também um rapaz de 23 anos com mal de Parkinson, no auge de uma crise. Quando cheguei no estacionamento, onde meus familiares me esperavam, fiquei inerte, profundamente abatido pelo que tinha visto, questionando sobre o que tinha acontecido, simplesmente disse “nada, nada”. Por três dias fiquei profundamente afetado. Não muito tempo depois, deu uma epidemia de infecção dentro do Hospital – não me surpreendeu – que exigiu até a visita do Ministro da Saúde. Se olharmos a situação no Brasil, não foge muito disso.

Em Bento Gonçalves estamos nos encaminhando para situações insustentáveis. O número de idosos aumenta – a expectativa de vida está beirando os 80 anos – a população cresce, a deficiência de uma alimentação saudável, prejudicada pela alta inflacionária, aumenta, e nossa capacidade de internamento hospitalar se resume no Tacchini. Quando tínhamos cerca de 60 mil habitantes existiam três hospitais, o do Batalhão – sob a liderança médica do Dr. Lago – o Giorgi, sob a liderança do Dr. Beniamino – e o Tacchini, sob a liderança do Dr. Antônio Casagrande. Hoje temos um, o Tacchini, é muito pouco, quase nada mesmo diante da sua extraordinária importância. As carências na área de saúde são notórias, gritantes, também entre nós. A conclusão do Hospital Público de Bento, anexo a UPA, é imperativa, mais imperativa ainda era a conclusão da UPA, Unidade de Pronto Atendimento. Visitei a UPA na semana anterior a sua inauguração e estive presente nos atos inaugurais.

Era o grande e primeiro ato inaugural de expressão estadual do Prefeito Pasin, obra fruto também de esforços – não se discute a forma mas sim a importância – dos ex-prefeitos Gabrielli e Lunelli, de Deputados Federais do PT, do PMDB, do PP, do PDT, enfim foi um mutirão de empenhos para que tivéssemos melhorias em torno da saúde em Bento. Observei que os políticos não estavam muito preparados (ou dispostos) para expressar, ou falar, sobre a importância deste ato inaugural. Falar sobre a saúde é complexo, por mais que se fale sobre as melhorias sempre aflora o muito que há por se fazer, o povo clama, fundamentalmente, por saúde e segurança, nem mesmo obras públicas de significância se sobrepõe a essa expectativa. Além, é claro, a indignação diante da impotência que tem os governantes de conter a inflação e impedir o aumento do índice de desemprego que atingiu mais de 8% e que – na minha visão – deverá superiar 15% diante da falta de desenvolvimento do país nos índices necessários.

Voltando à inauguração da UPA, evidenciou-se que o protocolo foi para o espaço, embora regulado por Lei Federal, não é seguido, é um protocolo que atende conveniências. A Banda Municipal apareceu mas, na hora do Hino Nacional, do Rio-grandense, a Banda não tocou, ficou de mãos no bolso e figura decorativa no palco. Deu a impressão que faltava à Banda um suplemento vitamínico, a propósito, o Prefeito não ia constituir uma “nova” Banda? Entre as presenças, detentores de cargos comissionados (deu para notá-los na hora do “é isso aí Prefeito, matou a pau!), lideranças e autoridades municipais, muitas pessoas nominadas pelo protocolo não estavam lá, assim como alguns Secretários Municipais nominados pelo protocolo. O foguetório que se ouviu foi desproporcional no significado do ato diante dos problemas de saúde que se abatem sobre a população, minimizados, pela inauguração da UPA. O Prefeito Pasin, aproveitou a oportunidade para repudiar críticas que só ele sabe de quem e por quê vem. Sempre tivemos em Bento uma oposição tímida, quase inexistente, por falta de coragem política ou de conteúdo, em relação aos prefeitos eleitos, seja de que partido forem. O Presidente do Legislativo, Valdecir Rubbo – dizem que vai deixar o PDT – fez um pronunciamento simples mas focado na saúde e nos esforços coletivos necessários, imaginem, o Presidente da Câmara falando em ato público, há quantos anos isso não acontecia?

O Governador do Estado, mergulhado em problemas de toda ordem, se limitou mais a descontrair, enaltecer, brincar um pouco com as autoridades presentes e ficou por aí, esperava-se mais da palavra do Governador e do Prefeito, eles podem mais, dizem mais, quando querem são significativos nos seus pronunciamentos, parecem não compreender a importância do momento, o povo quer ouvir de seus governantes sobre os caminhos que virão, sobre praças, áreas verdes, estresse no trânsito, desemprego, saúde pública. Tudo isso não espana o brilho da importância do trabalho da classe política ao concluir a UPA, especialmente a determinação do Prefeito Pasin em concluí-la, revestida de qualidade de instalação, equipamentos e atendimento. Vamos torcer agora pelo surgimento do hospital cujo esqueleto está lá edificado atrás da UPA, lembrando que o Hospital Geral de Caxias, “construído por mim e com recursos da Prefeitura quando eu era prefeito” disse o governador, está passando por dificuldades, e o Hospital do Trabalhador de Farroupilha foi para o espaço como Hospital do Trabalhador.

Na saúde é preciso atencioso e constante mutirão de empenho, avanços na saúde têm que ser sustentáveis e, como disse o Sartori, “briga política não constrói pontes, hospitais e creches”.

Parabéns Prefeito Pasin. Sempre é bom lembrar, “na saúde o próximo passo sempre é mais importante do que o passo já dado”. Boa ou ruim, própria ou imprópria, essa afirmação é minha. Falei.