A Praia de Imbé foi meu deslumbre de infância. Com 18 anos conheci o mar e na primeira visita quis andar a cavalo, no pelo, que lá alugavam para turistas incautos. Estatelei depois de umas quadras e banhados escolhidas pelo galopante, cai e quebrei um braço. Até hoje dói antes das chuvaradas de verão e nunca mais andei a cavalo. Guri metido a besta!

Lembro do Titi, colega de trabalho, que contou seu “causo” quando regressou de Imbé:“Todo mundo me abanava e eu até respondia. Juro que todos me pareciam conhecidos de Bento. Só depois vi que eram umas mãozinhas de plástico, com molinha, que ficavam dependuradas no vidro dos carros e não cumprimentei mais ninguém. O problema foi que um cara me abanou de verdade e nem dei bola. Logo ali na frente estava a polícia e levei multa: dirigir com o braço para fora do carro, com todo o vidro aberto e a mil por hora”.

Outro fato interessante foi narrado assim (preservo o autor):

“Cara! Na viagem pra Imbé a mulher pediu para parar naquela casa que vende de tudo ali em Maquiné e desceu do carro para as compras junto com minha sogra. Me estiquei todo no banco do motorista e levei aquele susto quando minha mão encostou num par de sapatos de mulher debaixo de meu assento. Fui rápido e antes que as mulheres voltassem joguei na macega. Sei lá quem havia esquecido aquela prova do crime. Quando chegamos na casa do veraneio a sogra não parava de falar sobre um par de sapatos que jurava ter trazido no carro”

Agora as pérolas do Tito. A Olga deu as últimas “ordens” antes de terminar o “carregamento” do carro para a viagem:

“Vamos Tito: te mexe! Carrega aquelas sacolas e coloca no porta malas”.
Foi só chegar lá em Imbé que apareceu a falha:

“Mas Tito! Tu carregou também as duas sacolas do lixo…”
Nas viagens de ida ia o rancho: pão, salame, copa, queijo, galinha congelada (algumas), capeleti, bigoli, garrafão de vinho para todo um mês, verdura, farinha de milho do moinho da cidade e até umas panelas de estimação. As pessoas mal cabiam no carro e os vidros ficavam abertos para ninguém ficar sufocado.

Na volta o problema se agravava:

“Para ali naquela tenda do seu Júlio que os preços são bons”.
O atendente sabia o nome dos clientes e dê-lhe comprar: abacaxi de Terra de Areia, melancia, açúcar preto de Osório, alguns saquinhos de feijão preto, do bom, um vidro de melaço, três ou quatro réstias de cebola comum e mais duas réstias daquela cebolinha vermelha para fazer conserva em vidro e lá vinha a mesma pergunta:

“Tito! Tem mais espaço no porta malas?”
Não adiantou o Tito sacudir a cabeça de forma negativa. Entraram mais duas abóboras de pescoço que ficaram nos pés da Olga, no banco da frente, e um pacote de rapadura quadrada, embrulhada em palha de milho, para as crianças irem lanchando na volta.
Meu Deus! Quanta felicidade.