Diariamente, mesmo que de forma imperceptível, utilizamos uma linguagem e ações que são conceituadas no convívio social como condutas politicamente corretas.

A propósito, estudos indicam que o termo politicamente correto teve sua origem em determinada ideologia política, sendo, desde então, objeto de acirradas discussões no campo político e social… Um campo minado com diferentes bandeiras, causas e demandas de direitos.

Tendo sempre em mente as transformações dos usos e costumes da sociedade, os artigos de “lei” das condutas e “penas” do que temos hoje por politicamente correto não estão descritos em nenhum ordenamento jurídico, embora possa crer, estejam no grande acervo da biblioteca Consciência e poderiam se chamar de CPPC – certamente trará à memória o CPC – Código de Processo Civil aos estudantes e juristas do Direito que ora leem – Código Personalíssimo do Politicamente Correto.

Invariavelmente, diante de alguma atrocidade ao ser humano, em especial quando discriminado como diferente pelos seus iguais, o CPPC tem sido a “arma”, talvez a primeira em defesa ou ataque como resposta.

Ao se recorrer ao politicamente correto em tais casos, entendo que paira, ou pelo menos deveria, um grande questionamento à humanidade: em qual capítulo do grande livro SER HUMANO nós falhamos ou estamos a falhar?

Sem a mínima pretensão de esgotar as grandes discussões que derivariam de tal questionamento, ouso responder em poucas palavras: a família, “mãe” Educação, “pai” Respeito.

Por outro lado, é verdade – mesmo que alguns neguem, motivados unicamente por ideologias –, não faltam críticas aos mandamentos do politicamente correto.

Sem fazer juízo de valor, entretanto, abre-se uma bifurcação em tais casos, cujo caminho da sábia temperança requer um exercício de empatia, colocando-se no lugar de quem se utiliza como ataque ou é atacado pelo “ordenamento” do politicamente correto.

Nesse momento, a resposta pela empatia, na medida que verdadeira, esclarecerá a aplicação ou não do politicamente correto.

De qualquer forma, guiados pela luz do espírito crítico, jamais podemos ficar à margem de qualquer convenção legal ou social, ao contrário, a estas sempre caberá a legítima defesa de nossa vida e liberdade, a qual inicia ainda que introspectiva, na liberdade de pensamento, a qual não foi e tão pouco será, acredito, revogada, mesmo que seu teor, seu conteúdo, não o seja sempre politicamente correto, dada a nossa natureza humana, falíveis que somos.

A propósito, há pouco tempo fui condenado, com pena mínima, por cantarolar a cantiga infantil “Atirei o pau no gato…” – antes que entre novamente no banco dos réus, juro… gosto dos animais, não atirei pau no gato, tenho três cachorros (Nick , Hulk, Thor) e uma gatinha (Bela) – aliás, o fato de ter quatro animais de estimação me absolveu do pior julgamento, aquele em que o juiz não tem conhecimento de causa, no caso, não gostava de animais e sequer teve ou cuidou de algum.

Veremos, assim, casos em que a aplicação ortodoxa do “politicamente correto” implicará em exageros e deturpará o seu sentido maior.

Há de se dizer ainda que, quando o politicamente correto é usado como disfarce, como estratégia unicamente para ficar ao lado da maioria ou mesmo da minoria – principalmente nas redes sociais – com o objetivo único de potencializar um ganho pessoal, ou de se mostrar afeito à modernidade, porém no sentido artificial da palavra, dá margem a hipocrisia e a falsidade, o que, convenhamos, não é nada correto.

Aliás, estamos próximos de um tempo e terreno extremamente fértil a brotar a semente da árvore do fruto amargo, da união espúria do politicamente correto com a hipocrisia.

Faz-se necessário sermos prudentes, escolhermos as pessoas corretas e assim educadas e respeitosas já na sua essência, do que aqueles politicamente corretos somente em tempos de campanha.

Enfim, as coisas mudam, a sociedade mudou e mudará sempre ao longo da sua história e, com ela, virão as contribuições no campo das novas convenções sociais, comportamentos antes aceitáveis, hoje não mais o serão e vice-versa, a fim de que se mantenha a paz social, a qual, ao meu ver, em especial, haveria de ser sustentada pelos pilares da educação e respeito, provas mesmo que não declaradas, de amor ao próximo.

Vamos em frente!
Saúde!

Clacir Rasador