Dia dezenove de dezembro completam-se bodas de ouro. Não sei até quando ele vai manter o tranco, mas o que dá pra ver é que continua animadinho…

Pensando bem, é um amor… crônico. Mas não anacrônico. Quilometragem de quase uma vida. Percurso equivalente ao realizado por várias naves espaciais. Ou seja: é como se tivesse ido pra lua 6 vezes, assim como os astronautas nas missões Apollo 11, 12, 14, 15, 16 e 17.

Ou, então, é como se tivesse dado 57.500 voltas ao mundo. Nem Júlio Verne conseguiu tal proeza…
Ou, ainda, como se tivesse feito 285.000 voltas do Oiapoque ao Chuí, limites extremos brasileiros. Tem que ser muito bom pra não se perder nessas curvas…

Mas ele garante que o casório vai longe, porque não existe tédio nesta seara. Por mais rotineiro que seja o caminho, a satisfação do encontro é sempre renovada. Além do mais, ela surpreende. O problema é quando o bonito se transforma em armadilha…

Assim é ela: às vezes, generosa; às vezes, ardilosa. Nos seus dias mais exuberantes, especialmente no inverno, vestindo um manto branco que confunde os sentidos, faz muita gente perder a cabeça. Felizmente, ele vem superando os desafios com muita clareza de espírito.

Nesse meio século, ele viveu experiências interessantes, prazerosas, satisfatórias… Obviamente, também passou por momentos ruins. Das boas, destaca a abertura de horizontes, as mudanças de perspectivas, os relacionamentos com os clientes – amizades duradouras construídas na troca – o reconhecimento, cujo simbolismo veio através do “Carrinho de Ouro 95″…

Fala também dos dias de primavera, com o vento no cangote provocando arrepios… Das cores das paisagens, revelando detalhes só vistos por quem percorre a estrada… Do perfume das manhãs, dos entardeceres vermelhos, da chuva benfazeja, do retorno… Aliás, ele costuma dizer que o melhor da viagem é o retorno.

Das coisa ruins, não gosta de lembrar, pois foram provocadas justamente (ou injustamente) por ela, e tem a ver com vidas ceifadas, corpos mutilados, tristeza, dor, lágrimas…

Sua própria vida esteve, muitas vezes, por um triz – quando, do veículo à frente, desprendeu-se um pneu, que saiu voando direto para o seu carro; quando uma chapa de aço deslizou da caçamba do caminhão quase ao seu lado; quando óleo derramado na pista fez com que rodasse feito baiana; quando seu veículo perdeu contato com o solo em função de aquaplanagem inesperada; quando uma distraçãozinha qualquer empurrou-o para o mato…

Na verdade, não sei de todos os “quando”. Há eventos que permanecem guardados a sete chaves, na “caixa de pandora” particular. Melhor não abrir.

Enfim, no próximo dia dezenove, ele estará comemorando cinquenta anos de lua-de-mel com ela, a estrada. Ou vocês pensaram o quê?!

Parabéns, “companheiro de viagem”!