Quando eu tinha lá meus oito anos e morava no Barracão, meu avô me dava como tarefa limpar a estrebaria onde tinha três vacas, duas leiteiras e outra que desistiu de ser leiteira para se dedicar ao consumo de pasto. Ao todo a produção girava em torno de 20 a 25 litros. Forca na mão, respiração presa, coragem e lá se ia o esterco para o monte externo que virava adubo para o pasto. Logo após, uns seis a oito baldes de água para lavar o piso, que comigo se resumiam a dois (achava muito pesado), aí eu anunciava “pronto vô!”. Ele olhava e dizia negativo e emendava: tu dormiria ali?E eu: não! “Então as vacas também não vão dormir ali porque ao deitar as tetas se apoiam no chão e, se ele não esta limpo, vai infectar o leite, limpa melhor!”. A partir da explicação e afetado pela palavra infectado eu caprichava na limpeza diária, chegava até me espelhar no piso, de tão limpo que ficava. Meu avô insistia em me dar um copo de leite recém ordenhado. Um dia arrisquei tomar e fiquei três dias com um gosto ruim na boca lembrando da “gasosada” do Morbini. E as vacas ficaram sem o meu serviço nesses três dias. Tempos depois, lá pelos dez anos, fui estudar no Aparecida e morar com minha avó lá no lado da Todeschini velha. Ela tinha uma cabra que dava leite e minha vó me fazia tomar leite de cabra (já tomaram? Nem tentem). “Toma, é ruim, mas faz bem, tu precisa ficar forte”, dizia a vó Dileta. Era mais ruim que óleo de rícino, que saudade do leite das vaquinhas do vô, era “gasosada” e eu não sabia. O leite saudável é o alimento do momento, mas o momento está requerendo muito cuidado em relação ao produto. Lá pelas Missões há uma família inteira que está na cadeia, sob acusação de adulterar o leite com produtos extremamente nocivos a saúde pública. E muitos agricultores perderam o dinheiro do fornecimento, que era adulterado no caminho do consumo. Crime hediondo, como classificar pessoas assim? Eu queria, ao menos, como sentença preliminar que eles tomassem, na cadeia, leite de cabra por 90 dias.