Todas são simples e reais, assim como é a vida…

Há dezoito anos, Seu Mário faz a ronda num bairro próximo daqui, usando como arma, balas enroladas em papel colorido. Ele as deixa na guarita, para eventual necessidade. Teve essa idéia quando, no início da função, deparou-se com a “visita” de um bando de garotos que não eram de ouro e que logo mostraram suas intenções. Desafiado, o homem respondeu com um largo sorriso e uma conversa amigável. Já na semana seguinte, munido de estratégia, presenteou cada menino com uma balinha Sete Belo e algumas palavras de afeto. O grupo foi engrossando, e os encontros se tornaram constantes. Mais crescidinhos, os garotos partiram pra outros rumos…
Dia desses, aproveitando a folga, o homem olhava as vitrinas natalinas quando um jovem se aproximou e o abraçou efusivamente:
-Nono Mááááário! Há quanto tempo! Sabe que o senhor foi meu único Papai Noel?
Os olhos de Seu Mário brilharam, e seu coração sorriu. Tão pequeno o investimento, tão grande a colheita…

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A pimentinha amava a “profe Tere”, a primeira professora da sua história escolar e a primeira na hierarquia dos seus afetos. Com a aproximação do Natal, ela quis demonstrar seus sentimentos através de um lindo cartão de Boas Festas. Sem medir esforços, a menina saiu lá dos arrabaldes, a pé e sozinha. Para a volta, aguardava-a em frente à Arte Impressora, a Kombi da família. Naqueles tempos, tudo era muito escasso: não havia cintos de segurança, nem bebê-conforto, nem placas ou sinaleiras e muito menos consciência do perigo, elementos suficientes para um quadro de risco. Que se confirmou: num entroncamento próximo ao antigo campo de aviação, o veículo se chocou com outro, arremessando a ruivinha para frente. Num gesto instintivo, ela protegeu com o próprio corpo o bebê de três meses e depois desmaiou.
Acordou no dia seguinte – 25 de dezembro – num quarto de hospital. Assim que entendeu a situação, a mãe carregou-a até a janela para abanar ao pai, que estava impossibilitado de subir. Ela ia erguer a mãozinha quando – SURPRESA! – feito um anjo sem asas, ele levantava para o alto a materialização do sonho dela: uma maravilhosa, incrível, inesquecível bicicleta.

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O bracinho de Lindabel despencou. Literalmente. Foi uma dor muito intensa para a menininha, que amava a boneca de borracha como se fosse parte de si. Ela chorou, chorou e chorou. Chorou tanto que o pai prometeu contatar o Noel para ele fazer o conserto até o Natal.
Promessa cumprida. Na hora da abertura dos presentes, Lindabel desabrochou do pacote, inteira. Felicidade geral. Mas a baixinha era muito perspicaz e não demorou a identificar a técnica usada na fixação do membro: a mesma que o pai, grande consertador de gaitas, usava em seus biscates em casa.
A menininha ficou triste? De jeito nenhum! No momento em que perdia uma ilusão, ganhava uma certeza: tinha um superpai.