Yoshy é um número! Mais: um número ímpar e indivisível. Igual a ele, nem os primos, que descendem do spitz alemão anão, também conhecido como lulu da pomerânia.

Adotado por uma professora de Língua Portuguesa, ele é paparicado através da linguagem mais envolvente que existe no mundo todo: o amor.

O carinha é descendente dos puxadores de trenó no gelo e, por isso, tem complexo de superioridade. Ele não se vê com apenas 20 cm de altura. Para fins de enfrentamentos, Yoshy se acha. Esse seu lado primitivo faz com que encare qualquer parada.

Noutro dia, a família foi a Santa Teresa, num camping muito bonito freqüentado por gente, gatos e cachorros. Yoshy ficou ouriçado. Embora tivesse intimidade com as gatas de sua casa – algumas, peludas, e outras, peladas – os felinos da vila lhe pareceram por demais esnobes. E ele, um mauricinho de Bento, não ia deixar passar…

De repente cadê o Yoshy? Em cachorrês, minha amiga pôs-se a chamá-lo. Nada do fulaninho.

Desesperada, ela convocou seu povo para uma devassa nos arredores. Encontraram o bichinho rolando na boca de dois ogros que o haviam tocaiado embaixo de um caminhão.

-Seus, seus… totós de uma figa! Vazam daqui, filhos de uma cadela! – gritou minha amiga, possessa.

Os grandalhões se afastaram, mas sem abaixar o rabo.

Yoshy, dolorido e mudo, com alguns rasgões entre os pelos. Nada, porém, que pontos, antibiótico e analgésico não resolvessem.

Na verdade, o problema central nem é esse. Acontece que Yoshy anda com a saúde meio frágil. Os exames constataram que seu coração também está ficando grande, assim como o ego. E para completar o check-up, foi solicitado exame de urina. Foi então que começou a saga da família para coletar o xixi sem o uso de método invasivo…

Minha amiga, de canequinha em punho, seguindo o baixinho pelo pátio… Ele “sniff” aqui, “sniff” ali, levanta a patinha… E ela, atrás, já no aguardo. Ele desconfia… Algo não cheira bem… Ela disfarça, olha pro alto, chama os “mimis”, assobia… Ele anda mais alguns metros, mais cheiradas, levanta a patinha… Ela, atrás. Ele abaixa a patinha e rosna. Outros canteiros são visitados e… Ele faz que vai, mas não vai. Ela, paciente, atrás.

Meia hora depois, e o bichinho ainda na indecisão: urinar ou não urinar? É a grande questão filosófica que o atormenta.

Anda pra cá, anda pra lá, até que a mulher pisa em algo gosmento e fedido que gruda em seu chinelo. Enquanto ela diz um palavrãozinho de nada, ele aproveita, levanta a patinha traseira e… Ela, mais rápida que um raio, ajeita a canequinha no lugar certo sem ele perceber. Ufa! Só quem tem um grande coração é capaz de cuidar de outro.