Na batalha pela vida, médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, entre outros, convivem com o medo e o estresse. A cada sábado, o Jornal Semanário apresenta um novo capítulo desta série

Há mais de um ano, pessoas têm se levantado como verdadeiros heróis da vida real para combater um dos maiores vilões da história: o coronavírus. Os dias incansáveis em que profissionais, que aqui representam a todos que dedicam suas vidas em prol da população, são o tema da série especial: Heróis da Pandemia. A cada sábado um novo capítulo dessa história.

O dia a dia não tem sido fácil para os que estão na chamada “linha de frente”. A rotina começa cedo: tomar café da manhã, se arrumar, pegar o transporte ou ir de carro, bater o ponto e colocar o uniforme. Plantões de 12, 24 e até 36 horas levam os colaboradores de saúde ao limite. Assim, inicia mais um dia de batalha.

Quem não perdeu a luta contra a Covid-19, precisou buscar forças para superar momentos de medo, incerteza, angústia, desespero e até de frustração por, às vezes, não conseguir salvar uma vida.

A enfermeira do Hospital Tacchini, Siliane Rodrigues dos Santos, 34 anos, é uma das nossas personagens. Há mais de um mês, o local onde atua excedeu a capacidade máxima de atendimentos de pacientes críticos. Com isso, automaticamente, as equipes de saúde absorvem esse excesso de trabalho. “Essa sobrecarga, somada a outros fatores que vínhamos acumulando, desde o início da pandemia, tem deixado a rotina pesada”, afirma.

Siliane afirma que “desistir não é opção”

Nesses ambientes, vínculos são criados com as famílias dos enfermos internados e o sentimento de empatia é inevitável. “Muitas vezes os familiares nos pedem que a gente diga que seus parentes vão melhorar, que não serão intubados ou mesmo que vão sair do tubo, mas a doença não nos permite dar essa previsão. Sou mãe e me coloco no lugar das gestantes ou já mães que estão no setor. Penso nas crianças que correm o risco de não as ver mais e nos entes queridos. Outra situação pesada é quando temos que cuidar de familiares, amigos ou conhecidos de alguém da equipe, isso deixa o clima mais cansativo entre nós”, pondera.

Além da Covid-19, outras doenças não deixam de existir e a ajuda, nesses casos, continua sendo necessária. “Apesar de todo suporte que o hospital nos fornece, com ajuda, quando necessária, de psicólogo e psiquiatra, a rotina tem sido pesada, não temos como ficarmos indiferentes. Sabemos o nosso papel nesse momento. Desistir não é opção. Só queremos chegar ao final dessa pandemia o mais rápido possível, por nós, pelos pacientes, famílias e por todos que estão envolvidos de alguma forma”, reitera.

Fisioterapeutas entram em cena

Outro papel importante no combate ao vírus é a pronação, que nada mais é do que colocar o paciente, acordado ou em ventilação mecânica, deitado de barriga para baixo a fim de melhorar a passagem de ar. Essa técnica evita que ele vá para uma intubação.

Aí é que entram os fisioterapeutas, como a Julia Mognon, 30 anos, que atua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Sendo uma doença desconhecida, até então, pelos profissionais da saúde, consequentemente eles foram tomados por sentimentos de angústia, dúvidas, medo e ansiedade.

Julia divide o período em duas fases: a de incertezas e a de esperança. “Eram muitas informações vindas internacionalmente, não sabíamos o que deveríamos seguir. Cada dia era uma notícia diferente. Os artigos não existiam para a gente se basear e todo nosso conhecimento prévio parecia que tinha ido por água abaixo. Nossa pergunta era: o que vamos fazer?”, sublinha.

Os artigos não existiam para a gente se basear e todo nosso conhecimento prévio parecia que tinha ido por água abaixo. Julia Mognon, fisioterapeuta

Em meio a isso, ela é transferida de setor para tentar suprir algo incógnito. “A gente não sabia o que era na verdade. Então, para mim foi muito angustiante. Criar protocolos e processos de uma coisa que não se tinha noção de como iria ser feito. Sofri muito psiquicamente, foi bem difícil. Eu levava isso para casa, acho que é impossível um profissional da saúde não ter levado” — com os olhos molhados, ela faz uma pausa na fala. “Nossa família sentia e tinha medo junto conosco”, continua.

Julia é uma das profissionais da linha de frente. Foto: Reprodução

A fisioterapeuta pontua que quando os pacientes começaram a chegar, na primeira onda da crise mundial, a equipe era formada apenas por ela. O que a ajudou foi saber que tinha pessoas com quem contar. “Graças a Deus tive dois colegas iluminados que, mesmo não sendo a área deles, abraçaram a causa e deram o melhor. Trabalhamos em três para atender todos os internados. Foi assim que começou aliviar um pouco a tensão. Depois disso, vimos que tudo seria possível. Enfrentar um lugar novo e com uma crise de saúde nova foi estressante. Hoje, somos em seis fisioterapeutas e com certeza fizemos a diferença no trabalho dentro da Unidade. Fico muito feliz e agradeço a cada colega”, enaltece.

Atualmente, o conhecimento técnico é o que também dá tranquilidade para atender os positivados. “Tem sido gratificante, trabalho com isso e estou na linha de frente mesmo. Tenho muito orgulho. As pessoas estão onde devem estar. Tenho muita esperança do dia que tudo isso vai acabar, vamos poder tirar a máscara e voltar a ver o sorriso no colega de novo”, acredita Julia, com um sorriso confiante.

Assista o primeiro capítulo

Foto capa: Franciele Zanon