Esse texto é em homenagem a uma pessoa querida que achava que a vida era mais fácil. Sem distinção de gênero, raça e condição financeira, relato uma breve, hilária e irônica linha do tempo.

Cinco anos e estamos achando que conseguimos comer sozinhos. Não nos importamos com as sobras de arroz na blusa, nem os restos de bolacha pelo rosto, as brincadeiras são muito mais importantes. Oito anos e estamos juntando as coisas boas entre ser criança e ser adulto, tudo é divertido, não nos importamos se já estamos grandinhos e ainda brincamos de boneca. É uma boa fase.

Onze anos e nos sentimos adolescentes e queremos ser tratados como um. Diariamente somos lembrados da nossa idade, o que se torna um tanto vergonhoso, mas ainda aceitamos com certo entendimento. Quinze anos e a gente já se governa. Dezoito e já queremos abrir nosso próprio negócio na internet. Não sabemos nem abrir uma lata de milho, mas sobre amor e relacionamentos, já sabemos tudo.

Primeiro emprego, ter dinheiro e passar no teste de habilitação, estar na moda com os lookinhos mais divos ao mesmo tempo que é a época em que somos mais mandados em casa. Lavar a louça, respeitar pai e mãe e arrumar a própria cama. Alguns aprendem tarde, por isso se torna mais dolorido. Mas calma, que tudo piora.

Primeiro ou quarto namorado, surgem os problemas de ciúmes, amigas fura-olho, acordar para almoçar com a família depois das festinhas. Faculdade, ir trabalhar maquiada todos os dias, comer burguer com azamiga. Resumindo, gastar todo dinheiro dos pais e do estágio.

Casar ou só juntar as escovas de dente? Ir morar sozinho, com um amigo ou continuar na casa dos pais? Ganhar um pequeno aumento, comprometer todo o salário em boletos, deixar de pagar uns boletos para ir no barzinho.

Roupa para lavar, unha para fazer, carro no mecânico, aluguel atrasado, produtos de limpeza para comprar, bebida alcóolica para amenizar. Gastamos dinheiro em chocolates e pizza na TPM, bebemos para esquecer aquele cafajeste. As gorduras localizam-se e a respiração fica ofegante, o cigarro já não faz mais tão bem. As ressacas vão piorando, está na hora de ir na nutri, comprar sementes de abóbora para o lanche e tomar remédios, pagar uma academia para ir lá fazer selfie e dizer “ta pago”.

Evoluimos. Ou mudamos. Somos pessoas independentes, cheias de cicatrizes, mágoas, alegrias, momentos, pessoas. Somos um misto de tudo o que vivemos e aprendemos, e como vamos lidar com isso é uma decisão muito pessoal. Um pé na bunda vai me derrubar ou me empurrar para frente?

Quero lhe dizer, querida amiga, que não perca, pelo menos não tão logo, a tua serenidade. Não seremos isentos de problemas ou desafios, mas o poder do amor que possuímos será crucial ao definir em quanto tempo estaremos varrendo a calçada e xingando as crianças que jogam bola.