Qual foi sua última tentação?

Não, não responda, embora, confesso, por um instante fiquei tentado a saber…

A medida da tentação, seja ela pela falta de ou a ganância por, compreendo, não está no objeto de desejo, por mais valioso que seja, mas no tamanho da renúncia de valores morais pelos quais se faz a “troca”.

Podem ser coisas simples, a exemplo daquele chocolate que, em um simples estender de braços, poderá estar em nossas mãos e queimar horas de hercúleos exercícios de academia.

Enfim, ceder a uma tentação é medir a força daquela dúvida cruel: eu até posso, mas devo???

É fácil? Certamente que não, pois não ceder à tentação é alimentar o bom lobo e deixar à míngua a sua cara metade.

Grande fragilidade humana, não ficou desapercebida à sabedoria DIVINA na oração do PAI NOSSO: “e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” …

Mas vamos lá, nem sem sempre o plano arquitetado da tentação passa necessariamente para a engenharia da execução, pois pode ser apagado, deletado da “planilha” mental, logo após chegar ao resultado negativo do cálculo moral da consciência.

A propósito, a tentação também nem sempre se configura no execrado pecado original já puído pelo tempo, em que, obrigatoriamente, temos a pessoa tentada e o tentador, este último sempre honorário e articulado representante do lado sombrio da força…

Contrariando particularmente e sabidamente sem qualquer autoridade, os conceitos mais ortodoxos e os exemplos mais conhecidos da história da humanidade, entendo que o sujeito que cede à tentação – por mais persuasiva ou até mesmo ameaçadora que esta venha a ser – não reflete categoricamente o perfil daquele inocente desavisado, do ingênuo, da vítima de um prazer sonhado; poderão, outrossim, o tentado e o tentador serem a mesma alma num mesmo corpo de fronte ao espelho, basta-lhe unicamente… PODER para tanto.

Este poder supremo de conjugar a primeira pessoa do singular – eu o tento – e ao mesmo tempo sou tentado – poderia não passar de um mito; entretanto, quando a tentação ultrapassa a linha do desejo, até então íntimo, escuso, mudo e solitário, o ato de tentar, por sua vez, se transforma em ação, passa a ter forma, endereço, propriedade, valor, nomes, apelido e, até mesmo, governo!

De fato, as fontes de desejo são ingovernáveis, poderão estar num inocente pedalinho naquele lago de sítio emprestado por um amigo, naquele tríplex de fronte ao mar, e porque não, naquelas joias das Arábias ou, ainda, quem sabe, nas mais desinteressadas horas daquele relógio de pedras…

Enquanto muitos se descobrem ingênuos do passado, outros tantos cedem diariamente à tentação do “presente”. Mal sabem eles que são o próprio objeto da cobiça do tentador.

Uma coisa é certa: registrada nas páginas seculares da história, seja à esquerda ou à direita, idealizar mitos é forjar para si próprio o ouro de tolo.

Vamos em frente.