Previsão de geadas para este mês ameaçam parreirais que tiveram a floração antecipada pelo calor das últimas semanas

O trabalho nos parreirais em Bento Gonçalves não se dá apenas de janeiro a março, principal período de colheita da uva, mas durante todo o ano, quando há preparação para uma boa safra.
Segundo o secretário do Desenvolvimento da Agricultura, Dorval Brandelli, algumas ações iniciam assim que termina a colheita. “Como, por exemplo, a retirada de amostras de solo para averiguação; aplicação de adubos, conforme resultados das análises; a prática de alguns agricultores em semear gramíneas ou leguminosas para cobertura e produção de matéria orgânica; e reposição de postes e arames na estrutura do parreiral”, exemplifica.

Além disso, o secretário salienta a importância de outras práticas. “Poda dos plátanos do entorno dos parreirais; reposição de mudas ou enxertia nas áreas existentes para recompor perdas e vazios por morte ou eliminação de algumas parreiras e em áreas de ampliação, montagem da estrutura de posteamento e aramados, entre outros”, explica.

Nos meses de inverno são realizadas a amarração e poda das videiras, fatores essenciais para a brotação. O viticultor, Sandro Vicentini, explica que, nesse processo, primeiro são escolhidos os galhos novos que vão produzir uva no próximo ano. “O que é velho nós tiramos fora, fazemos a amarração no novo e com a poda, finalizamos”, conta.

O enólogo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), Thompsson Didoné, afirma que no período atual, também começam os tratos culturais de prevenção a doenças. “Nós temos a antracnose, que é associada ao vento frio. O pessoal faz tratamentos preventivos para evitar essa e outras doenças”, esclarece.

O calor anormal da estação fez com que algumas espécies tivessem brotação adiantada, como a uva Chardonnay, por exemplo. “Não teve o que segurar, adiantou mais de 15 dias o ciclo, o que é bastante para nós”, afirma Vicentini.

Como resultado da antecipação, o perigo está nas possíveis geadas que podem vir até o final do mês, queimando os novos brotos que, de acordo com o viticultor, estão saudáveis. “Não tem o que fazer. Talvez alguma aplicação de tratamentos controle pouca coisa, mas se vir, não tem solução”, observa.

O enólogo também enxerga essa possibilidade como um grande problema para os agricultores. “Se acontecer a geada tardia, com certeza causará queimada da brotação pelo frio e aí vai diminuir a qualidade e a quantidade da uva”, explica Didoné.

Amarração e poda são processos importantes para uma boa safra
Foto: Divulgação, Emater/RS

Boas expectativas para a colheita

Mesmo com o perigo das geadas, há grandes expectativas para a próxima safra. Algumas espécies, como a uva Isabel, uma das mais comuns para a região, ainda estão em fase de dormência. “É cedo para dizer que vai ser uma das melhores. O indicativo que a gente tem é que a brotação está bonita nas variedades que já estão surgindo, mas a mais representativa e que mais tem produção é a Isabel, e ela não começou ainda. Então, não temos uma noção”, afirma Didoné.

O secretário, entretanto, aponta que basta andar pelo interior do município e constatar a possibilidade de a próxima colheita ser de ótima qualidade. “O bom retorno com a atividade vitícola nos últimos anos tem estimulado os agricultores a investirem na cultura da videira. Soma-se a essa realidade, uma disponibilidade de assistência técnica, por parte da Emater, bem como a disponibilizada pelas Cooperativas, Casas Agrícolas e entidades sindicais, que fizeram a ponte entre os resultados de pesquisa da Embrapa e os viticultores, somado também à disponibilidade e facilidade do crédito bancário”, afirma. Ele revela que isso têm gerado condições propícias de parreirais em bom estado de fertilidade do solo, sanidade das parreiras (redução das viroses), novas variedades, mais produtivas e definidas para o produto final (vinho ou espumante ou suco). “Condições que se traduzirão em maiores e melhores colheitas de uva”, acredita Brandelli.

Vicentini também acredita que, mesmo para as espécies com brotação antecipada, é possível que haja uma boa safra. “Se não vier geada nós temos uma expectativa boa”, observa.