Tenho, por mim, que o ato de generalizar tudo e todos sem o devido conhecimento é a forma mais simples de esconder a verdade e transparecer a ignorância.

Portanto, sempre que algo chega no arrasto da generalidade, a prudência requer um teste de singularidade, sob pena de colocar todos no mesmo balaio, como diziam os antigos.

Aliás, recorrer aos sábios dizeres das mães sempre é um ótimo filtro, pois quem já não se arriscou com a aquele argumento falho para conseguir algo do tipo “todo mundo vai”, “todo mundo isso…”, “todo mundo aquilo…” e ficou pelo caminho com o contra-argumento de quem lhe conhece como ninguém “você não é todo mundo”!!!

Mas o leitor deve estar se perguntando: aonde ele quer chegar com essa conversa sobre generalidades?
Ocorre que, ultimamente, nos mais diversos círculos de convivência, reclamações cotidianas se referem à falta de responsabilidade, de profissionalismo, do desleixo e por outro lado à temeridade em realizar seguidamente as mesmas cobranças, por mais óbvias que sejam. Logicamente, sempre com o devido respeito, contudo, a temeridade consiste pelo fato de que a cobrança legítima e por mais singela que seja, possa ser interpretada como demasiada, abusiva, sujeita, portanto, a processo judicial e lá se vai tempo e, com ele, possivelmente dinheiro, quando não a própria reputação.

Tal comportamento tem recebido ao final, como em tom de desabafo e de forma velada, a boca pequena, a conceituação sem filtros e generalizada: geração nutella, geração mi mi mi, feitos de açúcar…

Na linguagem do politicamente correto, seriam aquelas pessoas que, sem qualquer problema de ordem psíquica ou psicológica, mesmo assim se enquadram dentre os indivíduos com um alto grau de sensibilidade às tarefas cotidianas, quando não uma ojeriza, alérgicos, em especial, as naturais cobranças da vida, dentre elas as que provem do trabalho, da escola, das relações familiares; por outro lado, tais pessoas, via de regra, estão sempre abertas e prontas para o desfrute das benesses…desde que alcançado pelo suor dos outros. Sim, sugam a seiva até a raiz, mas não produzem frutos. Cá entre nós… que tipo de ação, de virtudes, gera uma geração dessas?

Socorrendo-me na sociologia, estudos conceituaram gerações que duraram até 25 anos, atualmente, até 10 anos.

Fiquei perplexo, refleti e, mesmo que meu pensamento me levasse a pensar que não há sociedade que consiga se perpetuar por tanto tempo com tamanha “nutellagem”, lembrei-me da singularidade das pessoas e respirei aliviado, pois, afinal, nem você, nem eu, nem ninguém é todo mundo.

Recorri às lembranças do passado, desfilaram em minha mente pessoas cuja promessa era um grande futuro, muitas das quais, apenas por herança e entendi que o ser “mi mi mi” não se trata de um lançamento recente; já é conhecido por gerações como um “ser mimado”. No dialeto talian, então, parecia ouvir meu nono dizendo, em alto e bom tom: “Delicati, delicati, fatti de altro material” (Delicados, delicados, feitos de outro material).

Não se trata de qualquer forma de discriminação, mas sim do tipo de tecido da sociedade que queremos: homens (me refiro a homens e mulheres) de atitude, fé, coragem, autorresponsabilidade e trabalho, ou àqueles feitos de “açúcar” que se desmancham até mesmo com a previsão de chuvas esparsas.
Não é novidade, homens não nascem prontos, crescem com suas experiências de vida e trilham seu caminho pelas suas escolhas.

Com idades variadas, assim entendo, também seres “mi mi mi” não nascem prontos, muitos são alimentados, servidos diariamente ao menor “mi”, mesmo que inconscientemente e acredite, com as melhores das intenções.

Aliás, este “seleto” grupo de “intocáveis” às vicissitudes da vida, logo cedo dão sinais de tal tendência, pois, no seu vocabulário, é muito presente o “não sei”, “não posso”, “não quero”, “não é comigo”, “não dá” e o famigerado “tô nem aí”. Numa analogia incomum, possuem diminutos, pequenos braços de dinossauros Rex para o FAZER, em compensação, numerosos e longos tentáculos de polvo para RECEBER.

Oque seria o ideal?

Só DEUS sabe e jamais viria eu, mesmo que pretensiosamente, sugerir algo nesse sentido. Contudo, sempre o equilíbrio tem pautado bons resultados, fortes sem ser amargos, doces sem ser açúcar… Talvez seja um bom início…

A propósito, de uma geração não tão distante e do outro lado do planeta, onde o desafiador deserto abriu passagem aos oásis do que há de mais moderno no mundo, assim profetizou o fundador de Dubai, Sheikh Rashid: “Tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis criam homens fracos, homens fracos criam tempos difíceis”.

Vamos em frente e viva a República!