Autoconhecimento e superação. Duas palavras que definem bem os usuários dos serviços da Associação de Deficientes Físicos de Bento Gonçalves (Adef). De uma forma divertida, a equipe encontrou uma outra utilidade para ajudar na recuperação e tratamentos de enfermidades: o tênis de mesa.

Professor de matemática Paulo Pires Rusezyt, de 38 anos, nasceu com uma doença chamada Charcot-Marie-Tooth (patologia nervosa degenerativa). Cadeirante por quase dois anos devido a problemas médicos, Rusezyt relata que chegou na Adef para pedir o adesivo para colocar no carro, e uma fisioterapeuta questionou o porquê de ele não estar fazendo fisioterapia. Sabendo dos processos para garantir a vaga, conseguiu entrar.

Rusezyt recebeu o diagnóstico de que sua situação era irreversível. Foi então que passou por um período de depressão. “Eu não tinha vontade de sair de casa, de falar com as pessoas. Mas, poucos meses depois de iniciar na Adef, já conseguia tomar banho sozinho, mas ainda sentia algo dentro de mim que não me satisfazia, não achava um lugar no mundo. Encontrava preconceito das pessoas e até o próprio preconceito para comigo mesmo”, lembra.

A fisioterapia deve ser feita de forma constante e regular. “Com o trabalho dos profissionais mais o meu em casa, em questão de um ano eu voltei a caminhar. Vi, então, que todas as coisas eram possíveis”, comemora.
Mesmo diante de tantas dificuldades, ele não desistiu e continua atuando como professor. “Meus alunos foram espetaculares nesse processo e isso me ajudou muito”, valoriza.

Até que, inesperadamente, ele foi convidado para participar do projeto esportivo nas dependências da Adef. A atividade funciona com pessoas com deficiência física ou cognitiva que são encaminhadas por meio do trabalho de fisioterapeutas. A proposta é ofertada em um horário aliado ao da fisioterapia.

Rusezyt junto a outros colegas, encontrou no tênis de mesa uma maneira de enxergar a vida de outra forma e auxílio em suas dificuldades físicas. “Sempre admirei os paratletas, mesmo antes de ficar na cadeira de rodas e passar por esse processo. Quem sabe tem um esporte para mim”, se questionava.

Ele lembra que a educadora física nunca o tratou como alguém que tivesse deficiências, mas sim como alguém com potencial. “A Carla chegou e me disse ‘vamos treinar para a competição’, eu pensei: ‘mas como, se nem sei sacar direito”, brinca. “Ela me deu uma bolinha e uma raquete e comecei a praticar em casa, sem pretensão alguma, apenas para melhorar”, complementa. Após três meses de fisioterapia e tênis de mesa, Rusezyt voltou a comer e a jogar sozinho.

A educadora física cedida na Associação Carla Lizzot (CRF 0164410-G/RS) reitera que na Associação não existe discriminação, nem de professores e nem de colegas. “É tudo muito natural. O Paulo foi se achando e notando que nunca existiram obstáculos em ser um atleta paralímpico”, salienta.

Com dificuldades ou não, o esporte proporciona diversos benefícios no organismo de uma pessoa. “O esporte vem resgatando esse porquê de sair de casa, a alegria, os momentos de vitória. Tudo isso começa a influenciar no estado psicológico e mental e na sociabilização com outros colegas”, garante Carla.

Desde o ano passado, a iniciativa ampliou suas atividades para campeonatos internos. “Eles vieram com o principal objetivo de motivação. Como o projeto está se estendendo, estamos conseguindo receber pessoas cada vez com potencial maior e vontade de se inserirem realmente no esporte”, explica a educadora. A proposta é ampliar o espaço para pessoas de fora da entidade.

Paulo Rusezyt, professor, marido e agora atleta paraolímpico, ficou em terceiro lugar no primeiro campeonato da Associação e em terceiro no 4º “Grand Slam” da Federação de Tênis de Mesa do Rio Grande do Sul, realizado em outubro do ano passado, no Colégio Sagrado.

O tênis de mesa é aberto para pessoas que queiram participar, mesmo que não necessitem de fisioterapia. A atividade funciona nas segundas-feiras, das 13h30 às 15h30, e nas quartas-feiras, das 9h às 10h, na Rua Étore Geovane Perizolo, 199, bairro Progresso.

Foto: Franciele Zanon