Lideranças religiosas e psicóloga ressaltam a importância do luto e apontam caminhos para amenizar a tristeza sentida

Milhares de pessoas devem homenagear seus entes no feriado. Foto: Arquivo

A dor da perda de entes queridos é única. Cada pessoa age de maneira diferente na hora de enfrentar a tristeza e a saudade, afinal, é somente ela que sabe o que passa em seu coração. Em muitos casos, sufocar a tristeza e as lágrimas pode ser prejudicial, justamente por ser um sentimento humano e não um desejo divino. Profissionais da área de psicologia sugerem que seja necessário dar tempo ao luto, afinal, essa postura sentimental pode demorar semanas, meses, até mesmo anos. No entanto, é um processo que precisa ser elaborado aos poucos. Para religiosos, apegar-se a fé pode ser um dos caminhos para superar o trauma da perda.

Em alguns casos, muitos querem ficar sozinhos, outros preferem partilhar sua dor com algumas pessoas. Outros ainda buscam forças na oração. Conforme a psicóloga Franciele Sassi, especialista em luto, separação e perdas; em dinâmicas vinculares e relacionamentos, a época de Finados é caracterizada por um momento dedicado para orar, meditar, lembrar, emocionar-se, além de dar um novo significado a todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da vida, ou mesmo dos que não chegaram a vivê-la. A data, segundo Franciele, surge como forma de resgatar lembranças e dar sentido aos legados deixados pelas pessoas que foram importantes. “Trata-se de uma maneira de manifestar a saudade, o respeito, o carinho e o amor que nunca morrem”, salienta.

Existem inúmeros caminhos capazes de confortar o coração neste dia…

Para a psicóloga, o dia de Finados é uma das provas mais concretas de que os entes queridos jamais serão esquecidos. “Existem inúmeros caminhos capazes de confortar o coração neste dia, que muito dizem respeito às revivências. É possível passar a data de mãos dadas com a saudade em qualquer ambiente que possa trazer maior sensação de conforto e controle sobre a vida, seja numa igreja, em outro espaço de cunho religioso e/ou espiritual, em casa mesmo ao acender uma vela, sozinho ou junto de familiares num almoço, ou mesmo na praia, observando a imensidão do mar”, explica.

Apego à fé também pode ser aliado

Para muitos teólogos e lideranças religiosas, as pessoas que são ligadas à fé são mais condicionadas a superar a morte de um ente querido de forma mais rápida e com maior facilidade para se adaptar às novas condições de vida. Para a pastora da Paróquia Luterana de Farroupilha, Paula Naegele, a morte é algo inevitável para o ser humano que traz junto consigo a dor, o sofrimento e o luto. Para os cristãos luteranos, há também uma data para a reflexão sobre a morte. Isso ocorre no último domingo do ano eclesiástico, chamado de “Domingo da Eternidade”. “A cada ano, nesse dia não se realizam cultos pelos mortos, como era do costume católico, mas, lembra-se dos limites da vida humana e do poder de Deus sobre ela. Acredita-se, inclusive, que os mortos continuavam a fazer parte da comunidade, pois, juntamente com os vivos, continuam esperando a vinda do Senhor Jesus”, garante.
Conforme a pastora, a bíblia aponta maneiras diferentes de encarar a morte sem entrar em desespero. “Cristo não fugiu da morte, antes a enfrentou. Ele venceu a morte”, afirma.

O padre Gustavo Predebon diz que com a aproximação do dia de Finados, é comum as pessoas lembrarem dos entes queridos que já partiram. Segundo ele, esse sentimento pode ser visto positivamente, pois, conforme o religioso, a saudade é um sinal de que aqueles que partiram foram importantes. “É o sentimento que surge quando percebemos que os momentos vividos foram determinantes na nossa vida”, explica.

De acordo com o sacerdote, nem sempre suportar a saudade é algo fácil. E, nesse sentido, a oração, a visita ao cemitério, o conversar sobre o falecimento, o encontrar-se em família, também ajudam a ressignificar a dor da saudade. “Entender que a morte, principalmente quando é antecedida de longos períodos de sofrimento, pode ser vista como uma libertação, é muito importante”, esclarece. “Finados é um dia de preceito para visitar os cemitérios, mas este processo ajuda também a elaborar o luto e fazer com que o coração também se acalme”, observa.

Teólogos ainda afirmam que o apoio na fé funciona como forte ferramenta de superação do luto, no período mais delicado, que é quando a pessoa toma consciência da perda. Para os especialistas, a figura de Deus tem grande representatividade no processo de adaptação às novas condições de vida. Segundo o reverendo da Igreja Metodista de Bento Gonçalves, Márcio Gomes, antigamente o luto se expressava em janelas cerradas, laço no umbral da porta, as mulheres vestindo roupas pretas, meses depois o roxo, lilás ou xadrezinho preto e branco. Mas com a mudança de hábitos, isso acabou mudando. “A expansão do Evangelho, com a certeza da salvação eterna em Cristo e a alegria da ressurreição, desfez muitos desses costumes que exteriorizavam o luto”, explica. Para o religioso, cada pessoa enlutada tem uma experiência e reação diferente à sua dor. “É preciso respeitar a realidade de cada um, lembrando que Cristo nos ensinou a não julgar para não sermos julgados. A perda sempre deixa uma ferida no coração”, reflete.

Manter a rotina também pode ajudar

Gomes garante ainda que é necessário trabalhar a mente e o interior para conseguir entender o que esse período significa na vida das pessoas. Ele aconselha que as pessoas continuem realizando as tarefas e responsabilidades normais dentro do possível. “Nós voltamos a este equilíbrio à medida que integramos a realidade da dor da perda à nossa vida, não esquecendo a pessoa amada, mas encontrando o espaço certo para sua lembrança e significado em nossa vida”, afirma.