No dia dois de novembro, a comunidade geral celebra o dia de finados, ou o dia dos mortos, como em algumas partes do mundo ainda se costuma fazer menção às pessoas que partiram. O dia de finados se caracteriza por ser um momento especialmente dedicado para orar, meditar, lembrar, emocionar-se e ressignificar todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da vida, ou mesmo dos que não chegaram a vivê-la. A data surge como forma de resgatar lembranças e dar sentido aos legados deixados pelas pessoas que foram e que, desde sempre, serão importantes. Trata-se de uma maneira de manifestar a saudade, o respeito, o carinho e o amor que nunca morrem.

O dia de finados pode ser pensado sob a perspectiva de um elo de conexão entre o “lado de cá” e o “lado de lá”, independentemente de qualquer crença ou religião. Constitui uma espécie de “fio invisível” que entrelaça a vida e a morte, de forma a possibilitar a continuidade da existência sob outra dimensão: a dimensão do amor. Afinal, é inevitável que, diante de uma experiência de perda e do enlutamento, cada um passe a se enxergar e enxergar também o mundo de forma diferente. Nesta experiência, são possíveis novas formas de aprender: sobretudo no que se refere à aprendizagem de amar em separado. E amar em separado significa jamais esquecer, mas oferecer um lugar seguro dentro de cada um para a perda, fornecer um endereço para a morte e permitir momentos de alegria e descanso da dor. O dia de finados, neste sentido, tm sua import^ncia atribuída à continuidade da vida para os que ficam, ao mesmo tempo que todos aqueles a quem se ama podem ficar guardados dentro de um espaço em que caiba a dor inevitável, mas o recomeço necessário. É este lugar que permite que se tenha acesso às pessoas amadas, que partiram, a qualquer momento da vida.

O dia de finados é uma das provas mais concretas de que nunca se vai esquecer quem se ama e que, além disso, existe um momento muito especial, que trata das lembranças, das homenagens. Acima de tudo, a data sugere que os vínculos de amor que se estabelecem ao longo da vida se transformam sempre e para sempre. Se é possível pensar que o amor nunca morre, aonde quer que se esteja ou que se vá, e que a condição da morte apresenta a possibilidade de amar em separado, por meio de uma conexão eterna de memórias e afetos, é por estas e por outras tantas razões, que o dia de finados não precisa ser atravessado com tristeza, angústia ou pesar. Existem inúmeros caminhos capazes de confortar o coração neste dia, que muito diz respeito às revivências. É possível passar o dia de finados de mãos dadas com a saudade em qualquer ambiente que possa trazer maior sensação de conforto e controle sobre a vida, seja numa Igreja, em outro espaço de cunho religioso e/ou espitirual, em casa, sozinho ou junto de familiares, ou mesmo na praia, observando a imensidão do mar, assim como é o eterno amar.

Franciele Sassi