-Vaaa-giii-na…
A mãe quase teve um piripaque. Sua princesinha, um toquinho de gente, “soletrando” no guia telefônico … aquilo?! Suspirou fundo e mentalizou: “Muita calma nesta hora!”. Com um jeito aparentemente casual, perguntou:
-Filhinha, o que você está fazendo?
-Tô lendo, né!
-E … o que está escrito aí?
-Vagina! – disse a pequena unindo as sílabas com segurança.

A mãe ficou em pânico. Estaria a escolhinha dando aulas de educação sexual ou a filha já andava com más companhias? Resolveu rastrear as informações.
-O que é que essa palavrinha quer dizer?
-Tu não sabe, mãe? É a pepeca! E o amendoim do Duda se chama tênis.
A mãe até pensou em corrigir, mas desistiu. Afinal, se a filha ficasse “lendo” a palavra em tudo o que é lugar, melhor que o fizesse com a inicial “t”, que ninguém acharia estranho. Mesmo assim resolveu cortar o barato da menina:
-Vamos ver televisão, meu amorzinho? Está passando Teletubbies.
-Ah, não! Eu queria desenho do Puto.
Mais um sobressalto… que logo passou. A mãe deu-se conta de que a sua garotinha ainda derrapava no “l”.

-O Pluto está dormindo, querida…
-Então do Pica.
-QUÊÊÊÊ? – gritou a mãe apavorada.
-Pau, mâmi!
Um friozinho percorreu sua espinha. Seria uma conspiração do Universo ou coisa da cabeça dela?
-Ia falar, mas a menina já estava noutra:
-Olha que bicho engraçado!
-São as hienas. Até parece que dão risada! – disse a mãe relaxando.

-Eu sei por quê! Aquela lá tá cheirando o rabo da outra. Mãe, o leãozinho nasceu que nem o Duda? Quem cortou a barriga dele? E o cavalo? E a vaca? Olha a galinha! De onde sai o ovo?
Aquilo estava andando depressa demais. E se a baixinha perguntasse como se fazem os bebês, ela teria coragem de narrar as andanças do “tênis” pela anatomia feminina?
-Sabe que também não sei?! Vou fazer pipoca, tá?! Chama o papai pra ficar aí contigo.
-Paie, PAAAAI! Como eu nasci?
-Pergunta pra mamãe. Papai está ocupado.

Os interesses infantis mudam mais depressa que as nuvens. Para alívio geral, a menina fixava-se agora em “simples” questões existenciais, como saudade do cachorrinho morto, céu e coisas do gênero. Nada que uma boa conversa não resolvesse.