O Colégio Marista, como era chamado o colégio Aparecida, estava comemorando seu jubileu de Prata em 1965. O Colégio Marista formava os rapazes da comunidade e tinha uma expressão muito forte especialmente por seu Escritório Modelo, pelo qual passou a grande maioria de nossos empresários.

Anualmente a Associação dos ex-alunos do colégio promovia duas a três comemorações muito aguardadas pela juventude. Naquele ano pensou em fazer algo diferente para comemorar. Surgiu daí a ideia de fazer um Festival do Vinho. Porém, o ano coincidia também com o cinquentenário da instalação das irmãs Carlistas, Colégio Medianeira, e com 75 anos de emancipação do Município. Portanto, 1965 havia de ser um ano marcante, e a ideia do festival foi ficando cada vez maior. Ele não havia de ser um evento apenas interno, mas, sobretudo algo de toda a comunidade.

Nesta época, havia em Bento Gonçalves um padre com posicionamentos muito fortes, de expressiva liderança e comando comunitário: o Padre Ernesto Mânica. Este padre tinha uma força popular realmente especial. Era mais provável alguém desobedecer uma autoridade constituída do que ousar afrontar o padre Ernesto Mânica. Austero e disciplinador, o padre Mânica teve um papel muito importante no desenvolvimento de Bento Gonçalves. E diante de todas as comemorações e já se passava mais um ano, o padre foi ao prefeito propondo a renovação da diretoria da festa a partir de pessoas que tivessem disponibilidade para levar adiante o projeto. “Mas quem??” perguntou o prefeito. “Eu sei quem poderia presidir a festa!”, respondeu o padre. E na mesma hora, levou o prefeito até a Indústria de Massas Alimentícias Isabela. Sem pedir licença – ele nunca precisou – o padre foi subindo as escadas do antigo prédio que a empresa possuía na época e entrando na sala de Moysés Michelon, que naquele tempo, era um gerente conceituado da fábrica bem organizada que estava começando a mostrar sua capacidade empresarial e fazia parte da diretoria de Loreno A. Gracia. Moysés foi de fato surpreendido naquela tarde com o padre e o prefeito entrando de repente na sua sala. E estava, assim, escolhido o novo presidente da Primeira Festa Nacional do Vinho, em maio de 1966.

Antes deste episódio, havia entrado em cena uma personalidade que teve um papel extremamente importante: um médico. Eleito como vice-prefeito, Ervalino Plácido Bozzetto, estava em exercício de prefeito por motivo de doença do prefeito Milton Rosa. A prefeitura não tinha dinheiro, e a população sabia disso. Por isso os proprietários da área não sentiam nenhuma segurança em vender sua terra para a prefeitura e se mostravam vacilantes no negócio. Mais do que isso, o prefeito Milton Rosa estava atravessando problemas de saúde. Foi neste momento que Ervalino Plácido Bozzetto, um médico de grande atuação comunitária, de conceito e crédito. Na condição de prefeito em exercício, Bozzetto comprou o terreno para a prefeitura e deu aos proprietários a sua assinatura como avalista pessoal do negócio. Com este aval, o terreno foi vendido na hora para a prefeitura.

Em poucos meses, prefeitura e diretoria começaram praticamente do zero, após a compra do terreno para construir um pavilhão. Foi preciso antes de tudo escolher a área, negociar, comprar o terreno, para depois organizar toda a festa, expositores, divulgação. Tempo para tudo isso: seis meses! QUE DESAFIO!

(continua na próxima edição de sábado)