Ciência explica de que forma o ser humano tende a buscar um suporte e como a espiritualidade é benéfica ao asseguramento da vida. Procura por ajuda psicológica e pastoral têm aumentado durante pandemia

Fé. Uma palavra tão pequena, mas que carrega um poder gigantesco de crer intensamente sem que se veja o processo. É ela que traz a existência o que ainda não é, mas como se já fosse, que consiste em combinar a atitude de hoje com a imagem do futuro. Mediante às turbulências que o mundo vive, o ser humano tende a buscar uma zona de conforto e a fé tem cumprido esse papel em muitos lares.

A morte, que sempre foi um tabu, se tornou uma realidade próxima. Consequentemente, pessoas foram acometidas de condições físicas e psíquicas, como depressão e desordens do sono. Com isso, o acompanhamento psicológico cresceu vertiginosamente. A psicóloga especialista em lutos, Franciele Sassi, esclarece que o ser humano sofre diante do sentimento de impotência. “A nova rotina e as mudanças impostas de forma brusca levaram à necessidade de as pessoas se adaptarem continuamente, o que foi demandando esforços gigantescos em termos de saúde mental para o enfrentamento de adversidades”, pontua.

A fé em algo, independente da religião, consiste em uma ferramenta poderosa de proteção e prevenção de complicações emocionais. Franciele Sassi, psicóloga

Ela afirma que, diante de crises, a espiritualidade é um meio benéfico no que diz respeito ao asseguramento da vida. “A fé se mostra importante fonte de construção de significados para a vida, podendo amparar e acolher em momentos difíceis. No luto, por exemplo, a fé em algo, independente da religião, consiste em uma ferramenta poderosa de proteção e prevenção de complicações emocionais, uma vez que a crença ajuda a dar sentido para aquilo que nem sempre temos resposta. A fé, como uma das alternativas que temos, pode ajudar em tratamentos pela via da esperança de que é possível fazer movimentos, a reinvestir e reconstruir possibilidades de viver mesmo após uma perda ou enquanto estiver passando por uma questão complicada de saúde”, salienta.

Pandemia trouxe, para todos, o exercício de empatia e a necessidade de olhar para
dentro de si. Foto: Franciele Zanon

A pandemia trouxe, para todos, o exercício de empatia e a necessidade de olhar para dentro de si. A psicóloga sublinha que é quando conseguimos estabilizar com pequenos prazeres, damos conta de olhar para o outro e ajudá-lo. “O cuidado é praticado por meio daquilo que está mais acessível e que possibilite o bem-estar: ficar com a família, valorizar os momentos em casa, manter possibilidades de comunicação com outras pessoas queridas fazendo uso das tecnologias que temos a nosso favor, resgatar formas de distrair usadas antigamente como jogos de mesa, contação de histórias, revisão de fotos e lembranças, organização de pertences, doação daquilo que pode ser encaminhado, aprender por meio de cursos e outras propostas de conhecimento. São algumas ferramentas que exercitam a espiritualidade”, destaca Franciele.

Procura por atendimento espiritual cresce em igrejas

O pastor presidente da Igreja Batista Nacional Ágape, João Batista dos Santos Leite, diz ter notado a presença de novos fiéis nos cultos. “As pessoas se deram conta do quanto é necessário cuidar da vida espiritual. Temos feito um tratamento individualizado e, principalmente, atendido pedidos por aconselhamentos. A fé tem sido suporte imprescindível para se manter firme em meio à pandemia”, reitera.

O pároco da Igreja Santo Antônio, padre Ricardo Fontana, acredita que com as novas cepas da Covid-19 a insegurança se torna ainda maior. “Vivemos um momento conturbado, de relações que se tornam mais tensas, porque acabamos em isolamento social, não querendo, muitas vezes, nos deparar conosco mesmos. Recordo de um texto do evangelho de João, capítulo 14, em que Jesus diz: não se perturbe o vosso coração, tendes fé em Deus, tendes fé em mim também. Então, essa é a certeza que Jesus nos dá nesse tempo de desolação, Ele nos consola em todas as nossas aflições para que saibamos consolar uns aos outros”, menciona.

Período de pandemia proporcionou a frequência de novos fiéis. Foto: Felício Silva, divulgação

Ao encontro da fala da psicóloga Franciele, o padre acredita que o ser humano só consegue se reintegrar quando restabelece as dimensões física, psicológica e espiritual. “Estamos passando pela fragilidade de uma pandemia que atinge a saúde, a mente e emoções. Para encontrar a verdadeira paz é preciso uma vida mais intensa de oração, acalmar a alma e também procurar ter distensões para o próprio organismo físico”, aconselha Fontana.

A fé sem obras é inoperante. A busca nos templos religiosos tem sido por aconselhamento pastoral, direção espiritual e confissões, além de frentes sociais, como entrega de cestas básicas a quem perdeu renda.

“Venci a Covid-19 com ajuda do Senhor”

A pedagoga Cleonice Barbosa dos Santos, 43 anos, mais conhecida como tia Nice, e o esposo Salvador Junior contraíram o vírus no ano passado. Ela conta que ao receber a confirmação se apavorou, mas logo o coração foi tomado pela paz. “Em todo período da quarenta, me senti muito mal, com náuseas, dores fortes no corpo e falta de apetite. Perdi o olfato e o paladar praticamente o tempo todo. Foram momentos difíceis, longe da família e de todos que nos rodeiam”, lembra.

A pedagoga relata que nos momentos mais cruéis do vírus, não tinha forças pra se levantar e fazer algo para comer. Foi a fé em Deus que os mantiveram fortes. “Eu clamava ao Senhor pedindo que Ele me ajudasse. Deus é fiel e cuida sempre de nós. Ele quem nos coloca de pé todos os dias e nos dá a vida. Sou grata a Ele por tudo, mesmo em meio à tempestade, sempre está conosco e nos ajuda a passar. Venci a Covid com a ajuda do Senhor. Sem Ele, não teria forças para vencer”, reconhece.