Era uma vez um enorme país, onde caberiam 28 Itálias, ou 24 Alemanhas, ou 14 Franças, ou 205 Bélgicas, ou 19.354.016 Vaticanos… Ou então (para não afrontar a Língua), a Itália caberia 28 vezes nessa vasta região territorial, a Alemanha, 24… Enfim, já entendido.

Cortado por linha imaginária e deitado em improvável berço esplêndido, esse “paísão” (para alguns, paizão com “z”) é fantástico. Lá escreveram uma tal Carta Magna que estabelece que todos são iguais. De forma que o trabalhador, cujo salário é pouco digno, mas que se transforma em algo digno de nota em função dos impostos e taxas, tem o direito de compartilhar do mesmo oxigênio dos que vivem em eterno estado de graça.

Nessa terra abençoada por Deus e bonita por natureza, “Ordem e Progresso” tremula ao vento. E a insegurança também. Nada demais, porque a Lei diz que casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém podendo penetrar nela. A não ser que seja convidado.

Nesse baita país, alguns negociam seu pedacinho de Céu, já que, aqui na Terra, perderam o chão. Outros, mais despojados e sem ambições póstumas, investem em paraísos fiscais terrenos. E há os que tratam de equipar suas casinhas, ranchos, haras… com aeroportos, jatinhos e calhambeques importados. Mas a maioria vai vivendo assim como Deus quer… Deus? Bom, alguém precisa assumir a responsabilidade!

Pois nesse país previdente, enxurradas e deslizamentos só acontecem quando chove pra valer. Falta de água, só quando a estiagem retalha a terra. Mortes por doenças do tempo da “onça”, só quando a região é desfavorecida pela sorte.

Como é um país que se preza, há de tudo: gente que adoece por comer demais e gente que morre por comer de menos; criança que nunca mamou e adulto que não larga da teta; cachorro com vida de gente, e gente com vida de cão. Sobram clínicas para animais e faltam hospitais para humanos. Ou quando existem, escasseiam médicos e materiais para um atendimento eficaz. Enfim, uma zona, no bom sentido… ou no mau, dependendo do ponto de vista.

Ideologias já não garantem os discursos nos palanques. Barganhas de toda ordem acontecem e malas de todo tipo permeiam a vida pública. O eleitor até pode escolher a bandeja com o “fast food” de sua preferência, mas – todos sabem – esse tipo de comida contém alta dose de glutamato de irrealidade.

País da desesperança? Em termos. A solução até existe, desde que se fechem todos os escapamentos por onde se esvaem os recursos públicos, nessa sangria desatada de corrupção, desde as esferas menores até as maiores. Já imaginaram o que daria para fazer com o montante esbanjado, desviado, roubado e mal aplicado?

Mas ninguém mais acredita em milagre… Se bem que O Lá de Cima, de repente, poderia retornar e retomar os ensinamentos, interrompidos quando foi crucificado. O risco é Ele ser recebido com uma saraivada de balas.