Apaixonado pela música e pelo tiro esportivo, Michelin compartilhou bons momentos ao lado dos amigos, que lembram com carinho a trajetória do homem alegre e de bom coração

Uma pessoa amiga, de bom coração, divertida, alegre, sempre com um sorriso no rosto e disposta a ajudar quem mais precisava. Assim, Fausto Michelin era denominado por seus amigos, familiares e conhecidos. Filho de Loreno e Marta Michelin, veio de São Paulo para Bento Gonçalves ainda novo. Ao longo de seus 76 anos de existência, muitos deles foram dedicados à música e ao tiro esportivo (ao prato), suas atividades preferidas, que gostava de compartilhar com os amigos. Por um longo período, foi integrante do Conjunto Melódico Arpège, que fez muito sucesso nas décadas de 60, 70 e 80. Fausto Michelin faleceu nesta semana, porém, as lembranças de sua história ficarão marcadas no coração de quem conviveu com ele. Por isso, os amigos lembram com carinho da trajetória do homem que deixará saudades.

Na música

Um dos mais conhecidos grupos musicais bento-gonçalvenses era o Conjunto Arpège. Embalando romances e animando os bailes dos clubes da Capital do Vinho a partir da década de 60, estava Fausto que, suavemente, conduzia os pianos da banda e encantava ao público com sua voz. As lembranças daquela saudosa época são relembradas pelos seus companheiros de estrada, Beto Valduga e Daltro Abreu.

Valduga conheceu Fausto ainda criança, quando ambos tinham 10 anos. Naquela época, a rotina era de diversão, quando corriam pelos corredores da Ford. Passados alguns anos, estudaram juntos no Mestre Santa Bárbara e cursaram faculdade quase no mesmo período. Após isso, descobriram um gosto em comum: a música. “Fomos os fundadores do Arpège. Começamos a tocar nos anos 60, uma fase maravilhosa em nossas vidas. Animamos muitos bailes em diversos locais, viajamos para diferentes lugares, conhecemos muitos artistas, como Gal Costa, Jair Rodrigues, entre outros. Como músico, Fausto era muito criativo, fazia arranjos, se destacava”, recorda.

Abreu lembra que Fausto foi o melhor e mais versátil intérprete que já conheceu. “Era dono de um notável timbre de voz. Tive o privilégio de acompanhá-lo no conjunto Arpège e de compartilhar com ele e com o Beto. Era um músico talentoso, fomos amigos desde a nossa adolescência até agora. Sempre o considerei um cantor que tinha plenas condições e ser o melhor entre os melhores. Insisto em enaltecer a voz e a versatilidade dele, pois vários amigos músicos, ao ouvir suas interpretações, ressaltavam à semelhança com o timbre de Sinatra e, em certos trechos, com Elvis”, pontua.

No tiro esportivo

A participação no tiro esportivo iniciou muito cedo e foi praticada juntamente com seu pai e um tio, desde a fundação do Clube de Caça e Pesca Santo Huberto, há mais de 50 anos. “Ele tinha uma habilidade muito grande para a prática do esporte e o destaque especial fica por conta do reflexo e da velocidade com que efetuava os disparos. Por conta disso, conquistou inúmeros campeonatos no país e no exterior. Mais tarde, tornou-se um estudioso do tiro e, desta forma, sempre buscando novas técnicas e conhecimentos, tornou-se técnico”, revela o amigo João Paulo Pompermayer. Segundo ele, Fausto também tinha o prazer de compartilhar seus conhecimentos, por isso, muitos neófitos e jovens ingressaram no tiro esportivo e continuam praticando até hoje graças aos incentivos e ensinamentos transmitidos por ele.

A prática esportiva foi interrompida após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há alguns anos, que deixou sequelas, impossibilitando-o de praticar o esporte que tanto amava. “Sofreu muito por isso, mas nem assim deixou de gostar. O Santo Huberto nunca mais foi o mesmo quando Fausto se ausentou”, lamenta.

As amizades

Os amigos, tanto da música quanto da prática esportiva, destacam que uma das coisas que Michelin mais gostava eram os encontros e confraternizações com. “Ele adorava estar com os amigos, confraternizando e conversando, principalmente sobre tiro, novas técnicas, pois vivia buscando novos conhecimentos”, salienta Pompermayer.

Valduga revela que Michelin foi um irmão que a vida lhe deu. “Foram mais de 60 anos de amizade, tanto que tenho dois filhos, o Felipe e o Marcelo, e considero os filhos dele, Alexandre e Marcos, como meus também. Eles são muito amigos até hoje”, esclarece.

Abreu pontua que ele e Bento Gonçalves perdem uma grande personalidade. “Sem dúvida um grande cantor, um grande intérprete, um músico nato e um amigo muito querido”, finaliza Abreu.