Imagina estar passeando pelo shopping e receber uma ligação contando que você salvou uma vida há alguns anos? Foi o que aconteceu com o autônomo Ismael Pretto em novembro do ano passado. Quem estava do outro lado da linha, diretamente do Paraná, era Laecio Manosso, pai de uma menina que recebeu a doação de um transplante de medula óssea em 2015 para curar uma grave leucemia.

Essa história começa em 2008, quando integrantes do Moto Grupo fizeram uma campanha para conseguir doadores de medula óssea para tentar salvar uma pessoa de Bento Gonçalves que precisava de um doador. Todos que fizeram o teste naquela época, consequentemente deixaram uma amostra do DNA no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) do Rio de Janeiro. “Quem faz parte do banco de doadores assina um termo dizendo que está deixando o líquido lá, não significa que tenha que doar, mas a amostra fica e o que dia que tiver alguém possivelmente compatível, eles vão chamar para fazer testes”, explica Pretto.

Foi exatamente isso que aconteceu. Sete anos depois, Pretto foi chamado para refazer os exames, pois havia uma pessoa compatível com a medula óssea dele precisando de transplante. “Refiz todos os exames, deu a compatibilidade e então confirmaram o dia do procedimento”, relembra.

Quem precisava do transplante era a Isabelly Feitoza Manosso, que na época tinha apenas cinco anos de idade e já vinha lutando contra a doença desde os três. O transplante era a última alternativa, pois ela já havia passado por três tipos de quimioterapia, da mais fraca até a mais forte, sem sucesso. “Quando os médicos descobriram o problema dela, a doença já estava bastante avançada. De 150 mil plaquetas ela só tinha 10 mil. O médico disse que ela só tinha 4% de chances de sobreviver, porque a doença já tinha se alastrado bastante”, conta o pai da Isabelly.

Para fazer o transplante, os próprios familiares fizeram os testes de compatibilidade. Quem chegou mais perto era 80% compatível, mas não era suficiente. Foi então que a Isabelly entrou para a fila do banco mundial de doadores. Somente dois anos depois é que encontraram um doador 100% compatível: Ismael Pretto.

O transplante de medula óssea foi realizado no dia 28 de fevereiro de 2015, no Hospital Pequeno Príncipe, localizado em Curitiba, no Paraná, Estado onde a família da pequena menina vive. Depois do procedimento, que durou cinco horas e era considerado de alto risco, os pais ainda viveram dias de angustia, pois existia a possibilidade do organismo da Isabelly rejeitar a doação. “Na hora do transplante ela ainda corria risco de vida, qualquer erro era fatal. Foi controlado gota por gota da medula, a febre foi medida de cinco em cinco minutos. Depois, foi preciso aguardar trinta dias no quarto para ver se a medula pegou. Por fim, ela precisou ir para um quarto isolado por mais cem dias, só ela e um acompanhante, além dos médicos”, relata Manosso.

Quatro anos depois, com o transplante considerado um sucesso, a família ganhou a notícia mais aguardada: Isabelly recebeu alta e hoje é considerada totalmente curada da doença. Entretanto, os pais ainda tinham um desejo: conhecer o doador da medula óssea da filha. “A ideia de procurar o doador a gente sempre teve, desde antes de ele doar, mas existe um sigilo, regra de medicina de que somente após dois anos pode ser fornecido o contato”, conta Manosso.

O encontro

Os pais da Isabelly só conseguiram as informações do doador em novembro do ano passado, quando foi realizado o primeiro contato. De lá para cá, não pararam mais de conversar pelas redes sociais, até que Ismael e a filha, na terça-feira, 22, depois de uma viagem de 30 horas, foram recepcionados por Ismael na rodoviária de Bento. “Era para a gente ter se encontrado bem antes, mas só agora nas férias escolares que conseguimos vir para cá. Foi muito emocionante, valeu a pena, só alegria, sonho realizado. Agora temos outra família, doada por Deus, estamos muito felizes, a Isabelly realizou sonhos aqui”, conta emocionado Manosso.

Pretto atribui esse encontro ao destino. “É quase um milagre o que aconteceu. Ela é um amorzinho, a coisa mais linda do mundo, brinca bastante, é bem sorridente, desde as primeiras fotos que recebi ela sempre estava bem alegre, confiante”, relata.

Quinta-feira, 25, eles retornaram para o Paraná, depois de conhecer todos os pontos turísticos da cidade. “Eu adorei de conhecer ele, estava ansiosa. Gostei de andar na Maria Fumaça e de uma festinha com os parentes do Ismael”, conta Isabelly.

Doação de medula óssea

De acordo com Manosso, na época em que a filha precisava achar um doador compatível, em todo Brasil só havia pouco mais de seis mil doadores cadastrados no banco.

É justamente por isso que o doador Pretto sabe da importância de deixar uma amostra da medula óssea no banco de doadores. “Talvez a pessoa nunca precise doar, mas é interessante deixar a amostra, porque tem muita gente com essa doença que geralmente aparece em crianças e idosos. Para quem doa, não tem risco nenhum, não tem corte, é só uma pulsão que suga o tutano, o líquido. E para quem recebe geralmente eles colocam pelo sangue, demora cerca cinco horas”, incentiva Pretto .