Moradores do bairro denunciam quedas de energia frequentes, e relatam que qualquer mau tempo já é indício de falta de luz. Alegam também que já perderam eletrodomésticos, comidas refrigeradas e até mesmo remédios

O Jornal Semanário recebeu denúncias de falta de luz frequentes no bairro Caminhos da Eulália. Moradores alegam não saber mais o que fazer, visto que qualquer chuva, seja leve ou moderada, já faz com que passem horas sem eletricidade. Eles relatam que isso vem prejudicando-os, seja na perda de eletrodomésticos, alimentos refrigerados ou remédios que necessitam ficar na geladeira. Também alegam que a empresa não lhes dá muitas respostas e notam que o bairro não é prioridade na hora do restabelecimento da energia.

Alberto de Oliveira é o presidente do bairro, mora há alguns anos no local e diz que começou a notar os transtornos iniciais. “Desde que o bairro passou a crescer, a falta de luz tem sido mais presente. Sempre que chove ou tem alguns ventos mais fortes, as quedas de luz acontecem. A resposta que recebemos, ao ligarmos para a RGE, é a de que não há previsão para restabelecer a falta de energia”, conta.

A média que os moradores relatam ficar sem eletricidade é de seis a sete horas, entretanto, há casos como em janeiro passado, que levou em torno de 24 horas para a luz ser restabelecida. “Como presidente desse bairro, preciso tentar intervir por outro meio para que eu e os moradores não tenhamos mais prejuízos causados pela queda e retorno de tensão elétrica em nossos eletrodomésticos. A propósito, nós do bairro precisamos ser ressarcidos pelos danos e prejuízos”, diz.

O presidente esclarece que é possível ver que o problema é somente do Caminhos da Eulália, já que as quedas ocorrem ali e não em bairros vizinhos. “A solicitação foi feita nos canais de atendimento junto à RGE por diversas vezes. Entendo que nosso bairro cresceu bastante nos últimos anos e os equipamentos da RGE estão defasados aqui. Acontece geralmente a mesma coisa: nosso bairro, Caminhos da Eulália, fica sem energia elétrica, enquanto Eulália Alta, Eulália Baixa, Vale Aurora, Loteamento Gabardo, São João, Vinhedos e rua Joaquim Toniolo têm luz. Por isso, acredito que o equipamento não está suportando a nossa demanda de energia elétrica”, avisa.

Elaine Fátima Godoy tem um salão de beleza no bairro, onde já mora há 14 anos. Ela explica que a situação vem ocorrendo de um ano para cá, após o crescimento do bairro e aumento da demanda. “Em dezembro, tivemos uma noite e um dia sem luz. Este sábado, tivemos um pouco de vento com chuva e já ficamos 40 minutos sem. Estava com minha cliente no salão, de cabelo molhado, e tive que esperar quase uma hora para finalizar o atendimento”, frisa.

Elaine Fátima Godoy tem seu trabalho prejudicado pelas constantes quedas de luz

A cabeleireira está cansada da situação e reivindica melhorias rápidas. “Não podemos mais viver nesse lenga-lenga, de choveu, queda de luz e temos que ligar e aguardar pelo atendimento. Acredito que eles devam fazer a troca do transformador, porque como o bairro aumentou, o consumo aumentou. E logo mais, com o inverno, a demanda de energia será maior, e a instabilidade do tempo também”, expõe e complementa que “existem pessoas que usam aparelhos contínuos para a saúde em casa, então acredito que a RGE precisa dar atenção aos moradores do bairro Caminhos da Eulália. É o nosso direito, luz para todos. Estamos pedindo que venham resolver nosso problema, que para eles é fácil, mas que para nós é difícil”, conclui.

Problemas gerados

Adriano Alécio, de 42 anos, trabalha com suporte técnico e se considera um morador recente do local, visto que vive há apenas três anos. Mas nesse meio tempo, já enfrentou diversos problemas com a instabilidade da energia. “Em primeiro lugar vem o aborrecimento de estar em casa sem luz, sabendo que a partir da empresa Bonapel em direção à transportadora Bertolini, todos estão com luz. Geralmente quando eles vêm consertar é algo ali perto da Bonapel e creio que seja algo rápido de resolver. Isso chateia bastante pois dá a entender que é falta de investimento e descaso com nossa parte do bairro”, lamenta.

Alécio explica que sempre que há problemas, ele busca a empresa atrás de soluções. “Usamos o canal de whatsapp para relatar a queda e como se trata de um robô, eles dão opções pré fixadas e acabamos informando que a queda é no bairro inteiro e não só em nossa casa, não tendo muita opção para ir muito além do programado pelo canal de atendimento”, expõe.

Há vezes que sequer o horário do reabastecimento de energia é avisado, e o moradores esperam preocupados a volta. “Geralmente temos uma previsão em média de 24hs, sendo que às vezes é sem previsão nenhuma, informando que tem alta demanda por ter mais bairros afetados. E nós ficamos esperando, e torcendo que ela volte, antes que nossos alimentos estraguem”, diz.

Adriano Alécio se preocupa com os remédios de seus cachorros que necessitam de refrigeração

A falta de luz tem gerado transtornos que prejudicam até mesmo o trabalho de quem depende da internet. “Outro fator é que temos problemas para fechar negócios pois sem internet, minha esposa não consegue cotar passagens para os clientes (trabalha numa agência de viagens e dependendo do dia, está em casa). E eu, caso esteja em home office, tenho que me deslocar para o escritório que fica no Centro”, assegura.

Ele realça que a falta de energia também pode prejudicar a saúde, tanto de pessoas como de animais, que necessitam de remédios refrigerados ou aparelhos que dependem da energia elétrica. “Um agravante é que temos dois cães idosos que tomam medicação que precisa estar resfriada na geladeira e dependendo do tempo que ficamos sem energia, perde-se e aí eles ficam sem a medicação. Somente é possível comprar novamente indo até a clínica, pegar a receita e encomendar. Imagino que possa haver pessoas no bairro que estejam enfrentando a mesma situação como eles e é a saúde que está em risco”, adverte.

Alécio conclui que todos eles se sentem bastante afetados com a situação e que parece que não há o que fazer para solucionar. “Fica um sentimento de impotência, sabendo que a energia poderia não ter faltado caso houvesse algum investimento. E quando a energia cai, a preferência é para bairros centrais. Creio que os moradores já estão esgotados com este descaso, pois afinal, pagamos nossas contas em dia para termos a mesma qualidade de serviço que outros bairros possuem”, considera.

Jorge Neves é aposentado, e talvez o morador mais recente da localidade, uma vez que está apenas há meio ano, mas o período já foi suficiente para ter perdas. “Quando passamos esses períodos sem luz, além do desconforto normal da falta de energia (sem luz, sem ar condicionado, sem TV, chuveiro), acontece de se perder alimentos, remédios, que precisam de refrigeração, e isso é bastante grave podendo trazer sérias consequências”, acredita.

E os prejuízos já foram altos, visto que teve que gastar com consertos e até mesmo com a compra de um novo eletrodoméstico. “Devido às quedas e oscilações de energia, minha geladeira duplex estragou. Já foi várias vezes para o conserto, mas não alinhou mais. Tive que investir em uma nova, cerca de R$5 mil, sendo que antes ela estava em perfeito estado”, finaliza.

Neves avalia que desde que chegou no bairro, notou que não eram normais as quedas de luz frequentes. “Sou morador recente no bairro, mas desde que mudei para cá, há cerca de seis meses, tenho enfrentado situações de falta de energia. A frequência dessas quedas é muito alta, já morei em outros bairros antes na cidade, e a incidência de falta de energia e oscilações é muito mais frequente aqui”, aponta.

Pronunciamento da RGE

distribuição de energia elétrica na região opera dentro dos padrões exigidos pelo órgão regulador. A maioria das ocorrências que afetaram os clientes da localidade em fevereiro de 2024 estão relacionados a causas não gerenciáveis pela distribuidora, como ventos e toque de vegetação na rede.

A empresa ressalta ainda que, somente em 2023, investiu mais de R$ 25,6 milhões em obras de manutenção e melhoria da rede elétrica de Bento Gonçalves. Ainda, nos últimos três anos, a RGE substitui 2.332 postes, gerando maior robustez e confiabilidade ao sistema elétrico. Atualmente, o Município conta com 88% da sua rede composta por postes de concreto. Além disso, informa que os pedidos de indenização dos consumidores são avaliados conforme a Resolução Normativa n. 1000/21, da Aneel.

O titular da instalação, ou seu representante legal, deverá entrar em contato com a RGE por meio dos canais de atendimento e fornecer os dados solicitados para análise do caso.

Jorge Neves afirma que constantes quedas de energia resultaram na queima da geladeira

O que diz o Procon

O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), menciona que no ano de 2023, até agora, houve 70 ocorrências de reclamações em relação a RGE, em toda a cidade, dentre elas algumas relacionadas a queda de rede elétrica e prejuízo causados por sobrecargas, sendo cerca de 20 situações voltadas diretamente à queda de energia elétrica.

O Coordenador do Procon Municipal de Bento Gonçalves, Maciel Giovanella, explica o que o consumidor deve fazer em casos de perdas ou prejuízos. “Quando ocorre esse tipo de situação, o consumidor pode solicitar junto ao canal de atendimento da RGE 0800 ou via site, através de preenchimento de formulário, ou solicitando visita técnica para apurar os prejuízos, visando ressarcimentos e indenizações”, instrui.

Em casos de quedas constantes de luz, o coordenador orienta a abertura imediata de um protocolo junto a empresa prestadora de serviços e solicitação do reparo, após isso “o consumidor é orientado vir até o Procon com o número de protocolo, que é muito importante, pois essa informação é fundamental para que nós possamos identificar junto a RGE, quando não cumpridos os prazos de reparo”, destaca.

Por fim, o Procon irá notificar a empresa, solicitando as adequações e correções frente aos eventuais descumprimentos diante do Código de Defesa do Consumidor, realizando não somente a abertura do termo de reclamação, mas também a atividade de fiscalização.