Comissão foi criada para buscar acordo com as indústrias; preço da uva e custo da produção também foram questionados

 

O atraso no pagamento da última safra de uva e a projeção de valores para a próxima que se inicia em breve foram debatidos em encontro na tarde quarta-feira, 31 de outubro, que contou com a presença de agricultores e dirigentes ligados ao setor rural. Preliminarmente, uma comissão foi criada para levar as reivindicações junto ao setor responsável.

Mais de 60 pessoas estiveram presentes no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves (STR-BG). A demonstração de insatisfação e até mesmo frustração era latente principalmente nos agricultores.

Um dos motivos é a falta de pagamento e de prazo para o acerto de algumas indústrias que recolhem a uva da última safra. Um dos presentes comparou a situação dos viticultores com outros produtores. “A soja, o agricultor recebe o pagamento integral quando entrega. Aqui mesmo em Bento, quem produz laranja e entrega a safra recebe o pagamento no máximo em 30 dias. E nós, da uva demoramos quase um ano para receber, isso é demais”, questionou.

Várias indústrias estariam em débito da última safra de acordo com os produtores. Para cobrar uma posicionamento destas empresas, foi acordada a criação de uma comissão em defesa do pagamento ao viticultor formada por agricultores e do presidente do STR, Cedenir Postal.

O segundo tema de insatisfação parecida por parte dos presentes foi o valor da uva para a safra 2018/2019. Em estudo feito pela Comissão Interestadual da Uva, o valor mínimo apresentado foi de R$1,08.

As indústrias apresentaram R$0,92, mesmo valor das últimas duas safras. Segundo Postal, não possível se manter com o valor sugerido. “Não é justo e é preocupante manter esse valor. Não tem nenhum agricultor que se mantenha assim, está defasado. Tivemos aumento nos valores de insumos, adubos, defensivos pela alta do dólar, o combustível e os agricultores seguem gastando nas terras e não ainda recebem”, cita.

De acordo com Cedenir, a justificativa das indústrias não condiz com a realidade. “Eles dizem que está tudo retraído, que não estão vendendo. Mas os dados da comercialização mostram que as vendas aumentaram em relação ao ano passado. Algo está errado”, frisa.

Custo de produção questionado

Os agricultores questionam algumas pesquisas apresentadas por setores ligados a indústria, referente ao custo da produção. Para a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), com a produção do ano passado e os custos, o lucro dos produtores seria de acima de 36%. Sugerindo, valor de R$0,58 para ser aplicado na atual safra.

Já o Sindicato Rural da Serra Gaúcha, apresentou estudo feito em 2017, em conjunto com a Confederação Nacional da Agricultura e a Farsul, feito pela Universidade Federal de Lavras de Minas Gerais (UFLA) sobre o custo da produção de uva na Serra Gaúcha. Ele foi de R$1,40 e R$1,50.

Diante de tantas disparidades, o presidente da entidade, Elson Scheneider, encaminhou uma sugestão que foi aceita na reunião. “Sugerimos um encontro entre o pessoal da Ufla, o matemático da Embrapa e o pessoal do Dieese nas próximas semanas. Que eles venham e expliquem a base de cálculo de cada estudo, o que se leva ou não em conta. Precisamos ter esse esclarecimento para cobrarmos algo real, pois há custos diretos e indiretos que temos com nosso produto”, analisa.