Além de demonstrar o desgaste do ensino no Brasil, o resultado da prova do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado na última semana, expõe a diferença da qualidade entre o ensino federal, estadual e municipal.  Enquanto a rede estadual e municipal permanecem estagnadas, colocando o Brasil entre os 10 últimos países dos 70 participantes, o ensino federal apresenta notas comparadas a de países desenvolvidos. 

O Brasil ficou abaixo da média em relação aos membros da Organização para a Cooperação Econômica (OCDE) – que inclui países da América do Norte, Europa e Oceania – nas três categorias avaliadas.  Porém, a nota da rede federal supera a dos países desenvolvidos em duas das três avaliações aplicadas, ficando empatado apenas em matemática. 

A explicação para o desempenho satisfatório, de acordo com a diretora do câmpus de Bento Gonçalves do Instituto Federal de Educação (IFRS), Soeni Bellé, está relacionada com a qualificação dos professores e o investimento da União nos estudantes dessas instituições. “Enquanto o custo de um aluno nas escolas em geral é de R$ 2,5 mil por ano, nos institutos é de R$ 10 mil”, compara. 

Além disso, 90% dos professores do Ensino Médio do IFRS são mestres ou doutores. Segundo Soení, este índice coloca a instituição no mesmo patamar das universidades, inclusive em termos de infraestrutura. “Por isso, todos os concursos para os institutos federais tem uma concorrência enorme. O professor pode se dedicar exclusivamente às atividades do câmpus”, comenta. 

Porém, apenas 0,87% dos  43 milhões de alunos matriculados no ensino básico no país correspondem ao ensino federal, de acordo com dados do Pisa. “O acesso à escola melhorou nos últimos anos, mas precisamos aplicar um processo seletivo para entrar porque não temos vagas para atender a todos”, comenta. 

 

Na opinião dos educadores

Enquanto a rede federal oferece condições adequadas de trabalho em relação a salários, carga horária e infraestrutura, a realidade no ensino municipal e estadual é bem diferente. Os professores do Estado precisam submeter-se ao parcelamento de salários, carga horária excessiva – o que impossibilita o aperfeiçoamento do conteúdo trabalhado em sala de aula – e à infraestrutura precária do ambiente escolar. A crítica também se manifesta entre os docentes da rede municipal, mesmo que os problemas não sejam tão profundos quanto os do ensino estadual. 

Para a professora de geografia da Escola Municipal Alfredo Aveline Vanessa Pegoraro, o problema envolve um conjunto de fatores, como carga horária “lotada”, falta de atenção à educação por parte do Poder Público e a necessidade urgente de modernização das escolas. “Para ser professor do ensino básico só com muito amor e dedicação”, pontua. 

Na opinião da diretora mesma escola, Neusa Garbin, outro fator agravante é o perceptível o desinteresse dos alunos, o que aprofunda os problemas e acaba por refletir no resultado dos exames. “Eu acho preocupante essa falta de empenho, alguns chegam a deixar de lado o estudo”, observa. 

Já no IFRS, o professor de filosofia Franco Soares relata que tem tempo de preparar as aulas e estudar, porque consegue trabalhar em turno integral dentro da instituição. “Enquanto os governos entenderem que educação é custo e não investimento, a gente não vai ter retorno” observa. Ele aponta três aspectos como essenciais para melhorar a qualidade do ensino: valorização do professor, carga horária adequada e dedicação exclusiva à instituição. 

Para o coordenador de ensino médio do IFRS, Daniel Ayub, exames como o Pisa  demonstram que a educação no Brasil apresenta muitos problemas, porém não é possível comparar o ensino de países desenvolvidos com o contexto social do interior da Amazônia, por exemplo. “O Pisa é um exame que é igual, utiliza dos mesmos critérios de avaliação, para um país que é desigual”, argumenta. 

Ayub explica que o resultado satisfatório dos institutos federais, no Pisa, está relacionado com a qualificação dos docentes, que também dão aula para o ensino superior, e com as condições que essas escolas oferecem para seus professores. “Eu sei que se oferecer condições ideais de trabalho, esses caras (os professores) vão se esforçar para dar a melhor aula e isso vai melhorar o desempenho dos alunos”, afirma. 

 

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