Clacir Rasador

Você se considera normal?
Certamente, há quem ouse dizer que sim, mas não seria ‘maluquez’ afirmar isso de forma categórica?
Ou até quando a mistura da lucidez com a ‘maluquez’, da música de Raulzito, passará a ser a menor porção da mente, até virar aquele maluco beleza…ou não?
Talvez, a melhor resposta seja: cada cabeça terá a seu tempo a sua sentença, mesmo que injusta…
Contudo, no decorrer da vida, senão nunca ou raro, alguém haverá de chamar-lhe de normal; entretanto, perderemos a conta de quantas vezes ouviremos a exclamação: ô loco!!!
Fato é que um dos grandes desafios da vida é chegar na velhice, opa… na melhor idade, para amenizar o tom cinza dos anos, com as “duas pernas”, ou “ancora firmes com le gambe”, ou seja, ainda firmes com as duas pernas, diria nossos avós quase centenários.
Não me refiro ao ato de locomover-se propriamente dito, mas, sim, ao fato de estar bem de corpo e mente, ou seja, a realização da velha citação latina do poeta romano Décimo Júnio Juvenal (55 d.C) – autor da coleção de poemas Sátiras, 55 d.c – ‘Mens sana in corpore sano’ (Uma mente sã em um corpo são).
Contudo, se “as pernas pra que te quero” nos dão no mínimo a perspectiva de nos sustentar por mais tempo no decorrer da vida, a saúde mental tem deixado muitos a pé ainda jovens.
Assunto sem dúvida para especialistas, embora, na era da informação e turbinada pelos efeitos psicológicos da pandemia, não faltam filmes e documentários que descortinam essa dura realidade.
A propósito, recentemente assisti, na Netflix, ao documentário “Como mudar sua mente”, do escritor Michael Pollan, o qual retrata a história e o uso de drogas psicodélicas sob ótica da cura medicinal, ocasião em que a ciência as inocenta em microdoses, bem como desnuda os conceitos mais moralistas e, como um facho de luz, guia mentes em passos invisíveis, deixando a escuridão para trás.
As novas revelações da ciência acerca do uso de drogas psicodélicas para literalmente chegar à cura das doenças da mente é de virar a cabeça… uma verdadeira loucura… ops… no sentido positivo… vocês me entenderam, não…?!?
Lembras do sentimento que tomou seu corpo e mente quando te apresentaram e experimentaste o sorvete e/ou chocolate pela primeira vez? E/ou quando recebeste de presente aquela bola e/ou bicicleta ou aquela boneca tão esperada? Ou ainda aquele bichinho de estimação, isso ainda criança? Estimando que não lhe faltem tais experiências, pergunto: seria àquela a felicidade no seu estado original, sem filtros, sem comedimentos, sem qualquer etiqueta senão uma explosão hormonal de endorfina?
Então, imaginas hoje voltar a ter o olhar do novo em tudo que lhe é apresentado, valorizar a vida mesmo em microdoses, fazer de cada momento simples, um instante sublime, como se fosse a primeira vez, com suas cores originais, não apagadas pelo tempo, pela rotina e pelos transtornos mentais de um mundo que parece girar de cabeça para baixo.
Há pessoas que, segundo dados científicos demonstrados em tal documentário, em razão desta nova terapia, já estão ‘recetando’ seu presente, se reencontrando em tal “viagem” com a essência de sua felicidade original e tendo por consequência o restabelecimento da saúde mental.
Bem, caro leitor, se leste até aqui e ainda seus sintomas respondem a primeira frase desta coluna com um SIM, só me cabe encerrar com a habitual recomendação: se persistirem os sintomas, procure um médico.
Valho-me finalmente do “diagnóstico musical” e ora providencial da canção “Balada do louco” composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee da banda Mutantes, ultra-psicodélica da época: “Dizem que sou louco por pensar assim; se eu sou muito louco por eu ser feliz; mas louco é quem me diz; e não é feliz, não é feliz…”
Vamos em frente!