Tem dias que olho pela janela e só vejo a rua. Tem dias que eu vejo o mundo. E outros onde vejo um mundo paralelo. Tudo bem se não tiver sono e mesmo assim não tiver uma grande ideia. Tudo bem estar cansado e ir dormir. Pequenos detalhes não são pequenos diante de um grande processo.

E falando em detalhes, é neles que nos perdemos. A grandiosidade que está diante de nossos olhos faz com que nosso dia tenha menos horas, que nosso dinheiro não seja mais suficiente, que nossa casa não seja mais confortável.

Sabe aquele “cheirinho de carro novo?” Ele se desfaz depois de alguns meses de uso e logo, não há mais felicidade pela aquisição. Emoções positivas de uma situação positiva tendem a declinar com o passar do tempo. E aí vem a questão evolutiva: o cérebro começa a querer “outra” novidade, o que vai impedi-lo de ficar sempre acomodado numa situação confortável.

Somos seres adaptáveis. Quando o ambiente muda, utilizamos vários recursos para nos encaixarmos às novas circunstâncias. Quando produzem prazer e alegria, chega um ponto em que paramos de avaliá-las e elas deixam de produzir satisfação. Chama-se adaptação hedonista. A alegria e a excitação desaparecem, não são mais novidade. Assim, caímos em um ciclo infinito de necessidades não satisfeitas, tornando cada objetivo alcançado, insuficiente em tempo recorde.

Situações como a que estamos vivendo e outras incomparáveis entre si e para cada um, são difíceis de tolerar e superar. Situação desnecessária pelas vidas afetadas, pelas vidas tiradas e disso não há dúvidas. Não sabemos se existirá um novo normal e se esse normal será bom. Mas como na fábula do rabino e do homem atormentado, às vezes é preciso que as coisas piorem para darmos valor ao que tínhamos.

Ao passo que a adaptação hedônica foi crucial em nossa evolução, por nos dar resistência e resiliência para viver a vida, se não a mantermos em cheque, ela pode arruinar nossa felicidade a longo prazo. Por isso, é necessário saber buscar felicidade de outras formas. O estoicismo, por exemplo, é sobre como você aprende a lidar com momentos inesperados e melhora com isso. Ele procura combater nossa adaptação hedônica através da racionalidade e procura interna da felicidade.

É clichê, é chato, é batido, mas não tem jeito. Em vez de nos concentrarmos no que falta, valorizar mais o que temos. Essa mudança de perspectiva não leva à estagnação, mas nos permite viver melhor, até que possamos fazer as mudanças que queremos. Siga seus objetivos, sem hipotecar sua vida e não deixe sua felicidade depender do futuro.

Ou seja, valorize seu nariz desentupido.