Dezenas de estudantes do Instituto Federal de Educação (IFRS) de Bento Gonçalves ocupam o campus desde domingo, 27, em protesto contra o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 241, que determina um teto para os gastos com saúde e educação por 20 anos e contra a Medida Provisória (MP) 746, que prevê a reforma do Ensino Médio. Da mesma forma que os jovens, o IFRS teme as consequências da aprovação, uma vez que o entendimento da direção é de que o Projeto ameaça o funcionamento e a estrutura da instituição.

Para não paralisar as aulas e as atividades cotidianas do Instituto, os jovens organizam os atos da ocupação em horário paralelo ao de funcionamento do campus. Sendo assim, todo o processo de deliberação sobre a continuidade do movimento e para a tomada de decisões sobre a manutenção do coletivo ocorre durante a noite.

Oficialmente, o IFRS apoia os atos de protesto, desde que se preserve o patrimônio público e a segurança dos adolescentes. “São atos que estão acontecendo em todo o Brasil  e nós consideramos legítimos. Além disso, a ocupação é pacífica”, afirma a diretora do IFRS de Bento Gonçalves, Soeni Bellé. 

 

Ocupação pacífica e organizada

Victor Frainer, do Grêmio Estudantil, conta que desde domingo não vai para casa. Ele frisa a natureza pacífica dos atos e afirma que o debate entre os integrantes é constante. “Nós fazemos autocrítica e votamos diariamente a continuidade do movimento, com um dia de diferença. Se a maioria optar por continuar com a ocupação, continuamos”, explica.  A bandeira principal dos jovens é pela educação pública. 

Além disso, o coletivo decidiu, por meio de votação, não prejudicar as demais atividades do IFRS. No entanto, no entendimento de Frainer, se o protesto paralisasse o campus, ocupando de forma integral, a repercussão seria maior. “Nós decidimos em conjunto e a maioria optou por manter o ato pacífico”, observa. A ocupação, de acordo com os manifestantes, será por tempo indeterminado.  

A busca dos jovens é por fortalecer a “intelectualidade orgânica” do movimento, de forma que atraia mais pessoas para apoiar a causa, tornando-a maior e mais eficaz. “Nós temos que tomar cuidado para não deslegitimar o coletivo, porque se não tivermos uma base forte é fácil de corromper”, analisa Frainer. Mesmo assim, a ocupação não tem apoio de todos os estudantes e professores do campus. Frainer diz que muitos jovens utilizam da educação pública, mas são a favor da PEC. “Não dá para entender como isso acontece”, comenta. Os manifestantes temem que atores externos boicotem os atos. 

Além disso, alunos do ensino superior estão oferecendo apoio à ocupação dos secundaristas. A estudante de licenciatura Lydia Lacerda afirma que busca participar de todos os atos, e que sua turma se mobilizou para o cancelamento de uma aula para participar de uma reunião. “Buscamos estar presente nas ocupações”, afirma. 

 

PEC vai prejudicar Instituto

O IFRS teve uma redução de repasses federais nos últimos dois anos. De acordo com dados da Instituição, em 2015 o orçamento era de R$ 8,3, milhões. Em 2016, ocorreu uma redução de 24% e os recursos repassados foram de R$ 6,2 milhões. A previsão para 2017 é que o repasse seja de R$ 5 milhões. 

Na opinião de Soeni, a PEC não prejudicaria o IFRS caso o teto fosse estabelecido no orçamento de dois anos atrás. Porém, com o corte de recursos federais, a Instituição fica comprometida. “Nós já estamos tendo que reduzir  o número de funcionários terceirizados. Isso impacta principalmente nos trabalhadores da limpeza e nos demais contratos terceirizados”, argumenta. 

Para o diretor de extensão, Daniel Clós, o impacto maior será sentido nos próximos cinco anos. Ele observa que a medida pode prejudicar a compra de insumos para pesquisa, a abertura de novas vagas e até a inauguração de novos cursos.  “Não acredito que cortar na saúde e educação seja a solução para a economia”, opina. 

O IFRS deve inaugurar dois novos cursos para o próximo ano, ambos de licenciatura. O diretor de extensão observa que eles não serão prejudicados, em função de haver um preparo antecipado para receber os estudantes. “Nossos alunos tem um custo. Os de licenciatura custam menos que os de cursos técnicos, por exemplo. Os mais prejudicados serão os que dependem de mais estrutura para as aulas”, afirma.

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