A estrutura financeira ao longo dos 100 anos do Esportivo passou longe de ser saudável, algo que é histórico nos clubes do interior. Para competir e fazer futebol em alto nível, é necessário ter em caixa um bom dinheiro, algo que poucos possuem. A melhor alternativa para mudar essa situação passa por uma categoria de base, que trabalhe e busque formar jogadores profissionais para que a longo prazo, possa render retorno financeiro, o qual pode ser milionário por ser o clube formador.

O Esportivo está caminhando, ainda em pequenos passos, para conseguir entrar em definitivo dentro de processo. Um planejamento a longo prazo formatado por Acacio Eggres, coordenador geral e Márcio Ebert, coordenador técnico e comandante da categoria Sub-17, que juntos estão há quatro anos tocando em frente o projeto de base do Alviazul.

Segundo Ebert, a ideia foi primeiro analisar o que já havia e executar ideias novas. “Primeiro fizemos um planejamento para ajeitar os setores do clube e em paralelo outro com uma metodologia de treinos, visando um padrão de jogo para todas as categorias. Buscamos sempre incrementar esses conceitos dentro do futebol moderno para formar da melhor forma esses meninos”, indica.

Atualmente, de acordo com Eggres, mesmo com dificuldades normais, sobretudo financeiros dentro de um processo em clube do interior, houve avanços importantes dentro da base do Esportivo. “Saltamos de 50 meninos para mais de 150 em pouco tempo. Iniciamos neste ano núcleos de futsal e futebol sete em parceria com a AABB, com crianças a partir dos cinco anos, desde a iniciação, até os 15 anos. Nossa ideia de formação começa cedo, é lapidar aos poucos para quando chegar as categorias de competição, eles estejam adaptados. Se no meio do caminho, não se queira ser atleta, estaremos formando então, uma nova geração de torcedores”, destaca.

Em termos de competições, o clube está disputando o Estadual Sub-15 e Sub-17. As duas equipes estão na segunda fase e lutam para se classificar para a terceira, no formato de mata-mata. Recentemente, tiveram confrontos iguais contra clubes prospectores de talentos, como Internacional e Novo Hamburgo. E eles, assim como o Grêmio estão monitorando atletas do Esportivo através destes jogos.

Foto: Kevin Sganzerla

Segundo Eggres, o Sub-15, para estar atuando no torneio, tem ajuda financeira dos pais dos atletas, que auxiliam nas despesas de alimentação, viagem e alimentação dos meninos. Enquanto o Sub-17, é custeado pelo clube. “É fundamental os meninos estarem nas competições de alto nível, no caso o estadual. O custo é alto, inclusive na base, por isso, contamos com ajuda de um grupo de pais no Sub-15 e no Sub-17, mesmo com as dificuldades, o clube acaba nos auxiliando. Ambos estão vivos na busca da classificação e estamos contentes com a evolução ano a ano desses garotos que nos jogos diminuem a diferença para os clubes maiores”, exalta.

Ao contrário de grande parte das equipes participantes da competição, o Esportivo tem em seus elencos meninos de Bento Gonçalves em sua maioria e poucos vindos de cidades da região. Quem revela isso é o Ebert, que treina o Sub-17. “Neste ano, no Sub-17 temos apenas três meninos de fora de Bento, em 2016, por exemplo, eram oito. Na categoria 15 anos, apenas três atletas vindos das escolinhas parceiras. É um modelo interessante, pois mostra na prática que o projeto que pensamos está dando o resultado positivo. Não somos um clube de captação e sim, de formação. Pegar eles no início, desenvolver e passar de uma categoria para a outra da melhor forma possível”, analisa.

Resultados que também se mostram no grupo principal. Nos últimos anos, o elenco sempre contou com meninos vindos da base. Em 2019, do acesso, eram cinco garotos. Ebert ressalta a importância deste processo. “É fundamental. Temos essa demanda, mas é claro que dentro das possibilidades, pois não podemos jogar eles no profissional sem estarem prontos. O Carlos Moraes (técnico que renovou para 2020) aproveitou os meninos, deu a moral necessária e eles treinaram de formas iguais. Tudo faz parte de um processo de amadurecimento, como no caso do Alisson e o Adrian, que se desenvolveram e hoje foram cedidos para o Brasil de Pelotas na Copa Sub-19. Para 2020, sabemos que o nível de exigência é maior, é primeira divisão, mas acreditamos que alguns desses meninos podem sim, estar no grupo”, frisa.

Uma categoria Sub-19, que ajudaria neste processo de formação, sem que houvesse etapas sendo puladas, ainda não entrou em execução. Porém, de acordo com Eggres, é uma demanda necessária. “Nós da base, estamos ainda alinhando esse projeto com a direção do clube, que está se esforçando ao máximo para dar esse aval, pois sabe que é necessário a categoria Sub-19. Esbarramos na parte financeira, mas estamos trabalhando na busca de recursos. Isso ajudará muito na formação dos meninos, pois eles permanecerão aqui e serão trabalhados até o último ano de maturação técnica e física, assim cheguem melhor no profissional”,finaliza.

Da base do Esportivo para o mundo

A lista de jogadores que passaram pela base do Esportivo e hoje estão em clubes grandes do estado, do Brasil e até mesmo da Europa. Os garotos Adrian e Alisson, no Brasil de Pelotas, nesta temporada. Além deles, Douglas Krammer, esteve no grupo do Juventude na temporada passada da Série B do Brasileirão, assim como Kevin, hoje no Boa Esporte, Arthur, terceiro goleiro do Novo Hamburgo e Fabrício Dutra, na base do Grêmio. E ainda, nomes como Andrei Girotto, atualmente no Nantes, da França e Everaldo, com passagem pelo Grêmio e um dos principais nomes da Chapecoense no Campeonato Brasileiro. Atletas que através da clausula de solidariedade imposta pela FIFA aos clubes nos quais os mesmos tiveram registro, renderam valores financeiros ao Alviazul. Vale lembrar que no passado, iniciaram no clube nomes como Renato Portaluppi e Arilson.

Rendimentos esses que podem ser maiores ao Esportivo no pensamento a médio e longo prazo. Para isso, o clube aos poucos buscará se consolidar em seu trabalho de base para quem sabe conquistar a difícil chancela da CBF de formador, o que ocasionaria fatias maiores quando um jogador for vendido para outro clube. Fatores a serem pensados para o futuro e que podem ajudar na sobrevivência no interior, no caso, do centenário Clube Esportivo de Bento Gonçalves.