Em torno de 55 famílias da CooperaBento contribuem com a venda de alimentos para as merendas escolares
A inclusão de alimentos provenientes da agricultura familiar nas escolas públicas de Bento Gonçalves foi possível com a Lei nº 11.947/2009, que estabelece que 30% dos recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) devem ser aplicados na compra de produtos da agricultura familiar. Essa iniciativa se tornou um alicerce para a segurança alimentar nas escolas e para a valorização da agricultura local, como evidencia o presidente-fundador da Cooperativa de Agricultores de Bento Gonçalves (CooperaBento), Carlos Alberto da Silva. “A quantidade de produtores na nossa cooperativa que fornecem esses alimentos para as escolas é em torno de 55 famílias”, pontua.
Alexandre Misturini, coordenador da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), destaca que, no Rio Grande do Sul, o repasse dos valores é feito integralmente pela Secretaria da Educação, que distribui os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) diretamente às escolas da Rede Estadual.

Em 2023, as escolas estaduais de Bento Gonçalves investiram aproximadamente R$ 654.871,00 na aquisição de alimentos, sendo deste valor 30% no mínimo, proveniente da agricultura local. No primeiro semestre de 2024, esse valor alcançou R$ 333.188,00. Os dados são do setor de alimentação escolar da 16ª CRE.
Segundo Daiana Franceschini Rizzon Soares, assessora administrativa do setor de alimentação, a seleção dos produtores segue um processo de chamada pública. “As escolas publicam um edital com os itens que desejam adquirir e o valor de aquisição. Os produtores e/ou cooperativas interessados devem apresentar o seu projeto de venda”, frisa.
Conforme ela, o cardápio é regionalizado e elaborado por um nutricionista da SEDUC. “No cardápio são citados os tipos de frutas, saladas e legumes que a escola deve adquirir, porém ela tem autonomia de fazer trocas destes itens conforme a sazonalidade dos produtos. Temos algumas cooperativas que se enquadram como cooperativas familiares que vendem carnes congeladas, massas e sucos, esses podem ser armazenados conforme o rótulo por períodos que às vezes chegam a seis meses”, salienta.
Papel da agricultura familiar
Marilice Marcolin DallOglio, fornecedora de alimentos desde 2012, para as escolas de Bento, compartilha sua contribuição. “Começamos como feirantes, mas com o convite da Emater, nos adaptamos para atender a alimentação escolar. O nosso primeiro convite foi para participar da alimentação escolar da rede municipal e depois também para a estadual e agora participamos também da federal, no qual vendemos para o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)”, conta. Marilice fornece pães artesanais para as escolas e destaca que a produção é cuidadosamente ajustada às normas nutricionais fundamentais, como a redução de açúcar e gorduras, para garantir uma alimentação saudável e equilibrada para as crianças. “A frequência de entregas é conforme o cardápio escolar, que é planejado também pelas nutricionistas, mas geralmente a entrega é semanal”, indica.

Os produtos frescos e de qualidade, provenientes da agricultura familiar, trazem benefícios à saúde dos alunos. A 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) incentiva que 100% dos recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) sejam aplicados na compra direta de produtos locais, superando a obrigatoriedade mínima de 30%. Segundo Daiana, essa prática não só garante refeições de qualidade, mas também contribui para uma economia sustentável e a valorização dos pequenos produtores.
A agricultura familiar não apenas enriquece o cardápio escolar com variedade e frescor, como também representa uma fonte de renda significativa para as famílias da região, como destaca Marilice. “Esse mercado traz uma renda essencial, especialmente em tempos em que o clima afeta nossas colheitas. Saber que temos uma venda garantida é um incentivo para continuar”, salienta.
Edvaldo Gallon, produtor de sucos para a merenda escolar, compartilha que sua agroindústria começou em 2015 com o intuito de atender não apenas as escolas, mas também outros nichos do mercado. “Quando a gente começou a legalizar a nossa agroindústria, já sabíamos da demanda por parte do município, do estado e até de instituições federais”, relata. Desde então, Gallon busca garantir a conformidade com as normas legais, o que permitiu que sua produção de suco de uva integral pudesse ser distribuída nas escolas da região.

Charles Strapazzon, que integra a cadeia de hortifrúti, entrega semanalmente produtos frescos como alface, cenoura, tomate, cebola, ameixa, nectarina e pêssego, de acordo com a sazonalidade. “Colhemos tudo na segunda-feira, o mais próximo possível do dia da entrega, e na terça da manhã já estamos nas escolas com os produtos. No início fornecíamos o que tínhamos, mas hoje já plantamos pensando em fornecer para as escolas. Com certeza nos ajuda muito financeiramente, mas a satisfação de ver as crianças bem alimentadas é maior”, reitera Strapazzon.
Projeto “Olhar Atento”
Em Bento Gonçalves, o projeto “Olhar Atento – Ciências para a Vida”, desenvolvido pela Prefeitura Municipal e com apoio dos produtores locais, é um programa que tem como objetivo ir além das orientações tradicionais de sala de aula sobre alimentação saudável, levando os alunos a vivenciar o processo de produção dos alimentos locais, diretamente nas propriedades e agroindústrias do município.
Marilice, que participa do projeto, explica que a proposta vai muito além de ensinar sobre a importância do consumo de frutas e verduras. “A prefeitura leva os alunos para visitar as feiras de produtores locais e propriedades como a nossa, onde mostramos desde o plantio até a produção dos alimentos. Eles participam do processo, produzem alguns itens e levam para casa o que fizeram”, conta.

Já Gallon ressalta a importância de valorizar o consumo de produtos regionais. “Ao trazer os alunos para conhecer o processo, mostramos que o leite não vem simplesmente da caixinha, e que o suco de uva requer o trabalho desde o vinhedo até a agroindústria”, explica.
O projeto acontece todos os anos desde 2013 e já foi motivo de reconhecimento em 2017, quando o município ganhou o prêmio “Boas Práticas de Agricultura Familiar para a Alimentação Escolar” do Governo Federal.