Enquanto as escolas do Estado cresceram significativamente no número de reprovações dos alunos, fazendo do Rio Grande do Sul o líder do país no ranking elaborado a partir de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inpe), os índices das escolas de Bento Gonçalves apontam justamente o contrário.

Em cinco anos, o aumento das reprovações no Estado cresceu ao todo 29%. Indo contra esse cenário, Bento Gonçalves apresentou uma diminuição. De acordo com os dados cedidos pela 16° Coordenadoria Regional de Educação, na comparação entre os anos letivos de 2018 com 2017, apenas o 1° ano do ensino médio apresentou crescimento do número de reprovações, enquanto o 2° e 3° ano reduziram esses índices. Os números finais, mesmo com o aumento de 61 alunos de um ano para outro, também mostram uma queda, conforme mostra a tabela abaixo.

De acordo com Leonir Razador, Coordenador da 16° CRE, a incidência maior de reprovações no 1° ano se deve ao fato de ser um ano de transição do ensino fundamental para o médio. “Essas dificuldades de transições determinam a qualidade de ensino. Muitos alunos chegam com defasagem significativa no 9° ano e ela consequentemente é levada para o 1° ano, que passa a ter outra visão, outra forma de trabalhar. É possível observar que os números progressivamente vão diminuindo nos outros anos, porque a incidência maior está no período de transição, depois vai sendo corrigido” esclarece.

Michele Lunardi Ferronato Tomasi, responsável pelo setor pedagógico da 16° CRE, define esse período como ‘ano crítico’ e explica porque os anos seguintes reduzem as reprovações. “Depois que os alunos passam por essa transição, conseguem se manter. Quando eles entendem essa nova proposta do ensino médio, toda a nova visão, eles vão se estabelecendo e se encontrando”, afirma.

Se olharmos para os números frios, vamos ter uma ideia, mas o que está por trás de tudo isso? São justamente todas essas interferências que estão ali no dia a dia

Também de acordo com Razador, outro motivo que explica as reprovações são os diferentes currículos trabalhados em cada escola. “Temos a rede estadual, a municipal e particular e cada uma delas tem sua atuação própria. Nós temos hoje a Base Nacional Comum Curricular, que procura unificar os currículos para que o aluno tenha a mesma espinha dorsal de conteúdo e não entrem em defasagem em relação a outras escolas”, acredita.

O Coordenador também ressalta que a realidade da Capital do Vinho é diferente da maioria das outras cidades da região, pela grande migração de famílias e consequentemente de estudantes e pela diversidade. “O aluno que vem de uma colônia indígena tem o ensino com características, valores, língua indígena, imagina a inserção dele dentro da escola. Ou o aluno Haitiano que não conhece uma única palavra do nosso idioma e é inserido na sala de aula. E uma turma que tenha três ou quatro alunos com necessidades especiais lá dentro”, exemplifica.

Michele acredita que com a nova proposta de ensino médio, que será implantada nas escolas a partir de 2020, esses números tendem a cair mais. “Temos a esperança que esses números reduzam. Essa proposta é feita através de uma pesquisa sócio antropológica, no entorno, em toda comunidade escolar. Se ouve os alunos, pais, todo mundo, para saber e descobrir qual o interesse maior, qual o foco que vai ser dado nessa carga horária. É através de projetos e do interesse dos alunos, que têm a possibilidade de escolher qual o itinerário formativo que eles querem estudar”, finaliza.